Livro infantil com linguagem inclusiva alvo de protesto. Autora diz ser “censura”

Lançamento do livro infantil No meu bairro foi palco para protestos que recorreram a linguagem “machista e homofóbica”, relata autora, Lúcia Vicente, ao PÚBLICO.

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Protesto aconteceu na sexta-feira durante o lançamento de No meu bairro na livraria Almedina do Rato, em Lisboana livraria Almedina do Rato, em Lisboa Nelson Garrido
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Capa do livro infantil No meu bairro (ed. Nuvem de Letras), de Lúcia Vicente com ilustrações de Tiago M. cortesia Nuvem de Letras
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A apresentação do livro infantil No meu bairro (ed. Nuvem de Letras), de Lúcia Vicente, foi sexta-feira alvo de um protesto no qual tentaram silenciar a autora e os restantes intervenientes com "declarações machistas e homofóbicas", segundo diz este sábado Lúcia Vicente ao PÚBLICO. A autora deste livro escrito em linguagem inclusiva lamenta que ainda exista uma parte da sociedade "que não tem vontade de se informar verdadeiramente sobre os assuntos e que acredita que é através do medo e do silêncio" que irá impor a sua vontade.

Durante a apresentação do livro, que decorreu na livraria Almedina do Rato, em Lisboa, "estavam sete pessoas na audiência que tinham vindo para destabilizar ou para questionar directamente o livro, mostrando o seu desagrado. O que me pareceu perfeitamente aceitável, até entrar a pessoa com o megafone", conta agora a autora, relembrando que o seu próprio livro, que tem ilustrações de Tiago M, é "um ponto de partida para um debate" sobre a inclusão e a diversidade. O intuito, diz, seria "calarem-nos", acção que, refere, "passou a ser verdadeiramente de censura". A autora lamenta ainda que nenhuma das pessoas que estavam em protesto estivesse com "disponibilidade para dialogar", não manifestando vontade em abandonar o evento e obrigando a convocar a polícia, que terá identificado os participantes do protesto. Para Lúcia Vicente, este é mais um episódio revelador de que ainda existe uma parte da sociedade que "se recusa a aceitar que outros são livres".

Santos Silva condena

"Isto é absolutamente inaceitável", destacou o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, num comentário que publicou, sábado na rede social X (ex-Twitter), onde resumiu assim o incidente: Ontem [sexta], numa livraria de Lisboa, a apresentação pública de um livro (no caso, No meu bairro ), foi interrompida violentamente por um grupo de desordeiros, que ameaçaram autores, editores, livreiros e público".

A editora Penguin Random House, chancela da Nuvem de Letras, já divulgou um comunicado no qual lamenta o sucedido e refere que vai continuar a apoiar o trabalho de autores "menos representados na comunidade, assumindo as controvérsias que daqui possam decorrer".

"Manifestamos a nossa total solidariedade para com a autora e o ilustrador, as apresentadoras do livro, as nossas colegas da editora que estavam presentes, a livraria que nos acolheu e todas as pessoas que foram pacificamente assistir à apresentação do livro e ao importante debate em torno da diferença, da diversidade e da equidade que este pretende promover", pode ler-se no comunicado divulgado na conta de Instagram da Penguin.

Nas redes sociais, começaram a ser divulgadas algumas publicações que repudiam o episódio e no qual é possível ver o momento do protesto.

Segundo a agência Lusa, a autora está a considerar, juntamente com o ilustrador Tiago M e a editora, apresentar uma queixa no Ministério Público.

Notícia actualizada. Acrescenta comentário de Augusto Santos Silva.

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