Uma exposição e um livro na Galeria Carlos Carvalho
Com curadoria de Alexandre Melo, livro e exposição A Casa era a Rua são vistos como “digressão histórica por quatro décadas da Carlos Carvalho e da arte em Portugal”.
Podemos dizer que a exposição A Casa era a Rua se compõe de duas partes, cada uma constituída por dois grupos distintos de artistas. Do primeiro constam David de Almeida, Justino Alves, Alexandra do Carmo, Emerenciano, Rui Filipe, João Maria Gusmão, Saskia Moro, José Lourenço, Pedro Paiva, Guilherme Parente, Ana Luísa Ribeiro, Paulo Neves, Marília Torres, Eurico Lino do Vale e João Vieira. No segundo, podemos ver obras de Ricardo Angélico, Jessica Backhaus, José Bechara, Daniel Blaufuks, Marguerite Bornhauser, Carla Cabanas, Manuel Caeiro, José Maçãs de Carvalho, Susana Gaudêncio, Catarina Leitão, Mónica de Miranda, Noé Sendas e Pires Vieira.
A ideia de escolher dois grupos de 15 e 13 artistas cada partiu do galerista Carlos Carvalho mas a exposição foi concebida por Alexandre Melo, sociólogo, historiador, antigo crítico de arte e conhecedor profundo da cena artística portuguesa dos últimos 40 anos. Como tal, não é surpreendente constatar um facto: os percursos do curador e do galerista já se haviam cruzado.
Do outro lado do telefone, o curador comenta ao PÚBLICO a oportunidade do reencontro: “Aceitei com gosto o convite [para fazer a curadoria]. Dá-me a possibilidade de trabalhar a história e a actualidade da galeria que acompanhei muito. Visitei várias exposições na Ara e na Carlos Carvalho”. Alexandre Melo destaca um elemento que também o cativou. “A arquitectura assinada pelos irmãos Aires Mateus que torna o espaço um dos mais interessantes no âmbito das galerias de arte portuguesas”.
Sobre os dois conjuntos, o curador refere que o primeiro, mais cronológico, situado no corredor, inclui documentos, serigrafias, trabalhos em papel, publicações. Já o segundo conjunto mostra obras a partir de uma série de elementos orientadores: “Não há mensagem ou propósito programático. Interessou-me pensar a relação com o espaço e do espaço com as obras. Daí também a menção à rua e à casa no título da exposição, que é retirado de um texto que o Carlos Carvalho escreveu sobre uma exposição do José Bechara”.
A ideia "casa" é explorada em diferentes acepções, não deixando de aludir a uma ou outra metáfora: enquanto espaço geométrico, espaço global (com a diversidade das suas vozes), lugar da intimidade ou sítio de memórias. “Quis que houvesse um ritmo de deambulação, com continuidades e contraponto. Quanto ao livro, que estou a preparar com o auxílio da Susana Pomba [curadora independente], incidirá sobre os momentos mais marcantes da galeria. Terá uma perspectiva histórica e sociológica e incluirá entrevistas com artistas e ensaios. Podemos considerá-lo digressão histórica por quatro décadas da Carlos Carvalho e da arte em Portugal.”