Como reduzir a pegada de carbono na produção de carne de bovino

Um dos principais aspetos deste trabalho é monitorizar e desenvolver estratégias nutricionais para a mitigação das emissões de metano digestivo dos bovinos.

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Vacas: a produção pecuária, nomeadamente de ruminantes, é associada à emissão de gases com efeito de estufa, como o metano DR
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A população mundial está em constante crescimento. Estima-se que, até 2050, a população global atinja os dez mil milhões e que a procura por proteína animal aumente 52% em relação aos níveis de 2019 para ser capaz de acompanhar este aumento populacional. É necessário que a agricultura e a produção animal se tornem bem mais eficientes.

Os ruminantes desempenham um papel importante nos sistemas alimentares sustentáveis devido à sua capacidade fisiológica de digerir alimentos que não podem ser utilizados diretamente para consumo humano, nomeadamente pastagens, forragens e subprodutos da indústria alimentar, disponibilizando alimentos de elevado valor nutricional.

Contudo, a produção pecuária, nomeadamente a produção de ruminantes, é associada a vários impactes negativos, sobretudo pelo facto de contribuir significativamente para a emissão de gases com efeito de estufa (GEE), sendo o metano (CH4) libertado durante a digestão dos ruminantes a maior fonte dessas emissões no setor agrícola. O CH4 tem um potencial de aquecimento global muito superior ao dióxido de carbono, surgindo a necessidade de encontrar e desenvolver estratégias para diminuir tais emissões.

Na minha tese de doutoramento, com o título “BeefLiveCycle: Assessing strategies to reduce beef greenhouse gas emissions through the entire life cycle”, abordo uma otimização ambiental e económica da produção de ruminantes, tendo como principal objetivo o desenvolvimento da produção de carne bovina neutra em carbono através da maximização do sequestro de carbono e minimização das emissões de GEE ao longo da vida dos animais e da cadeia de abastecimento para sua produção.

Sabe-se que a composição da dieta dos ruminantes pode causar mudanças na microbiota ruminal e alterar a atividade metanogénica – responsável pela produção de gases no rúmen durante a digestão destes animais. Assim, um dos principais focos do meu trabalho é a monitorização e o desenvolvimento de estratégias de base nutricional para a mitigação das emissões de metano digestivo dos bovinos.

Uma das soluções que tenho vindo a estudar e a adição de pequenas doses da macroalga vermelha Asparagopsis taxiformis à dieta destes animais. Esta alga é comummente encontrada na costa portuguesa e representa um aditivo alimentar natural, com fortes efeitos anti-metanogénicos.

Nos primeiros estudos realizados em Portugal com este aditivo, obtivemos reduções da produção de metano, in vitro, na ordem dos 96%. Estas reduções são brutalmente superiores a todos os outros aditivos e a outras estratégias estudadas mundialmente. Atualmente, estamos a realizar um ensaio in vivo, utilizando esta macroalga como aditivo, enquanto monitorizamos as emissões de GEE dos animais, bem como a performance de crescimento. A qualidade da carne e as possíveis consequências na saúde dos animais também serão estudadas neste ensaio.

Serão feitos mais ensaios para otimização das dosagens de modo a obter o melhor compromisso entre a digestão ruminal, metanogénese, saúde e produtividade animal e segurança para os consumidores.

A autora escreve segundo o acordo ortográfico

Aluna de doutoramento da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa

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