Pôr os corais à sombra pode abrandar o seu declínio

Os recifes de coral têm estado em declínio nos últimos anos e equipas de cientistas têm procurado soluções para o reverter. Protegê-los com sombras pode ser uma delas.

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Cientistas um pouco por todo o mundo têm vindo a procurar soluções para reverter ou minimizar os branqueamentos de corais David Gray
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Corais ao sol ou corais à sombra – eis a questão que andou no ar no laboratório da equipa de Peter Butcherine. O propósito? Tentar encontrar uma forma de abrandar o declínio dos corais. Fez-se então o seguinte: escolheram-se duas espécies destes animais e puseram-se alguns deles à sombra (em ambiente laboratorial, claro). No final da experiência, verificou-se que os corais que estavam mais tempo à sombra ficavam menos doentes do que os que estavam ao sol.

Ao longo das últimas duas décadas, os recifes de coral têm estado em declínio. O aumento da temperatura da água tem levado a que muitos corais fiquem doentes e alguns morram. O grande sinal de que estão doentes é o seu branqueamento: os corais ficam brancos, quando a água aquece mais do que seria de esperar. Tudo acontece, porque as algas, que dão cor ao coral, produzem substâncias tóxicas e deixam de fazer fotossíntese, quando há um excessivo aquecimento das águas. Os corais acabam assim por as expulsar perdem as suas cores. O seu esqueleto esbranquiçado fica visível.

Com este branqueamento, os corais podem ficar desnutridos e morrer. Alguns dos grandes fenómenos de branqueamento têm acontecido na Grande Barreira de Coral. Em certos locais deste ecossistema, que se estende ao longo de cerca de 2400 quilómetros da costa leste da Austrália, mais de 90% dos corais ficaram esbranquiçados.

Cientistas um pouco por todo o mundo têm vindo a procurar soluções para reverter e minimizar os branqueamentos de corais ou para os conseguir adaptar ao aumento da temperatura das águas. A equipa de Peter Butcherine, cientista na Universidade Southern Cross (na Austrália), quis saber qual seria o efeito das sombras na saúde dos corais.

Para isso, foram escolhidas duas espécies de corais: a Turbinaria reniformis e a Duncanopsammia axifuga. Em forma de prato, os corais da espécie Turbinaria reniformis têm tons amarelos e verdes. Distribuem-se ao longo da Grande Barreira de Coral e suspeita-se que sejam relativamente tolerantes ao branqueamento. Os da espécie Duncanopsammia axifuga vivem em águas mais profundas, têm tentáculos pronunciados e são mais difíceis de encontrar.

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Tanques onde foram feitas as experiências com os corais DR

Após terem sido recolhidas da Grande Barreira de Coral, as amostras dessas espécies foram guardadas em tanques. Alguns fragmentos desses corais ficaram sob um pano que simulou uma sombra durante quatro horas no dia. Pretendia-se assim simular um dia nublado. Outros corais ficaram “à sombra” durante 24 horas.

No final, verificou-se que os corais que mais estavam à sombra ficavam muito menos esbranquiçados do que os que estavam menos à sombra. Mais: os corais que ficavam à sombra durante 24 horas sofriam menos com o fenómeno de branqueamento do que os que ficavam à sombra por quatro horas. Os resultados foram publicados esta quarta-feira na revista científica Frontiers in Marine Science.

Também se quis saber até onde iria a influência dessa sombra nos corais. Para isso, teve-se em conta o aumento dos graus de calor por semana – uma métrica que reflecte a intensidade e duração de stress térmico acumulado na área onde estão esses corais nas últimas 12 semanas (três meses). Essa métrica é calculada multiplicando-se a diferença entre a temperatura diária da água e o máximo da temperatura média por mês nessa água. Se um recife estiver, por exemplo, dois graus Celsius acima do máximo da temperatura média por mês durante três semanas, então o valor dessa métrica é seis graus de calor por semana – pois multiplicam-se os dois graus pelas três semanas.

Corais da espécie Duncanopsammia axifuga DR
Corais da espécie Turbinaria reniformis DR
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Corais da espécie Duncanopsammia axifuga DR

Com as espécies de corais em estudo nos tanques, verificou-se que a sombra os protegia do branqueamento, se o valor se ficasse nos três graus de calor por semana. A partir desse valor, já ficavam esbranquiçados. O branqueamento era significativo nos quatro graus de calor por semana.

Os corais das duas espécies não tiveram as mesmas respostas. Os da espécie Duncanopsammia axifuga reagiram de forma mais limitada ao facto de ficarem à sombra.

Coberturas artificiais e sistemas de pulverização

Embora a sombra se tenha mostrado eficaz, a equipa ressalva que nem esta solução deverá ser suficiente para eliminar o efeito de ondas de calor muito intensas nos corais. Para esse efeito ser eliminado, a única solução totalmente eficaz é que as águas do oceano não aqueçam demasiado e ponham os corais em stress térmico.

“Este trabalho informa-nos de forma directa sobre o desenvolvimento de acções de arrefecimento e de sombreamento para ajudar a proteger a Grande Barreira de Coral em futuras situações de branqueamento”, considera Daniel Harrison, também investigador na Universidade Southern Cross. O cientista apela a que se investiguem todas as formas possíveis de ajudar os corais a sobreviver às alterações climáticas, que incluem o aumento do aquecimento da água dos oceanos.

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Tecnologia da equipa de Peter Butcherine para arrefecer corais que está a ser testada DR

Mas como se pode mesmo pôr os corais à sombra ou arrefecê-los em ambiente natural? A equipa de Peter Butcherine sugere que tal pode ser feito através de coberturas artificiais e de sistemas de pulverização nas próprias águas do mar, refere-se num comunicado sobre o trabalho. O próprio grupo está a trabalhar numa tecnologia de pulverização que deverá conseguir abranger uma área de algumas dezenas de hectares de uma só vez. Ainda sem querer adiantar muitos pormenores sobre esta inovação, a equipa refere no comunicado que os resultados já obtidos são “promissores”, mas que ainda “é necessária mais investigação”.

Peter Butcherine explica ao PÚBLICO que o estudo agora divulgado faz parte de um programa em que se está a desenvolver soluções para ajudar os recifes de coral a resistir, a adaptar-se e a recuperar do aumento da temperatura das águas do oceano. A sua investigação tem-se focado em particular no desenvolvimento de tecnologias para evitar ou reduzir o branqueamento de corais através da radiação solar nos recifes. O trabalho agora apresentado foi mais um passo para se perceber se, de facto, essa solução faz sentido e traz vantagens aos corais.