Xi recebe Assad e anuncia “parceria estratégica” entre a China e a Síria

Presidente sírio dá mais um passo no seu caminho de regresso à normalidade diplomática, enquanto Pequim reforça influência e interesses no Médio Oriente.

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Assad foi recebido por Xi na cidade chinesa de Hangzhou, no Leste do país Reuters/SANA
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Tratado como um pária e excluído dos principais palcos internacionais durante mais de uma década por causa da repressão brutal dos protestos ao seu regime, que desembocaram numa das guerras mais marcantes e mortíferas deste século, Bashar al-Assad deu nesta sexta-feira mais um passo importante no trilho que tem vindo a percorrer, nos últimos anos, de regresso à normalidade diplomática.

O Presidente da Síria foi recebido pelo seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Hangzhou, no Leste da República Popular da China, onde arrancam no sábado os Jogos Asiáticos, e, juntos, anunciaram ter chegado a acordo para o estabelecimento de uma “parceria estratégica” entre Damasco e Pequim.

“A China apoia a oposição da Síria à interferência estrangeira, ao bullying unilateral e está disposta a continuar a trabalhar com a Síria no interesse da cooperação amigável e da salvaguarda da equidade e da justiça”, disse Xi a Assad, segundo a televisão estatal chinesa CCTV.

Para o ditador sírio, que dependeu do apoio militar, diplomático e económico da Rússia e do Irão durante a guerra civil, iniciada em 2011 – apoio que foi decisivo para reconquistar a maior parte do território perdido para diferentes grupos rebeldes –, a visita à China, 19 anos depois da sua última passagem pelo gigante asiático, e o aperto de mão de Xi não podiam vir em melhor altura.

Reintegrado em Maio na Liga Árabe, Assad precisa urgentemente de financiamento para resgatar uma economia que, além de devastada pelo impacto de uma guerra que tirou a vida a cerca de meio milhão de pessoas e que provocou mais de 20 milhões de deslocados ou refugiados, continua restringida pelas sanções económicas ocidentais, particularmente aquelas que lhe são impostas pelos Estados Unidos.

Numa altura em que se adensa o fosso entre Washington e Pequim e em que a guerra da Ucrânia parece estar a a acelerar o afastamento entre Ocidente e os seus aliados, por um lado, e os países defensores de uma nova ordem multipolar, como a Rússia ou a China, por outro, uma nova “parceria estratégica” com Xi pode devolver à Síria, aos olhos de Assad, algum do protagonismo internacional perdido, a par do apoio financeiro.

Parte do estreitamento da cooperação bilateral entre os dois países, confirmou o Presidente chinês, assentará na ajuda chinesa à reconstrução da Síria, nomeadamente através da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative ou BRI, de acordo com a designação oficial chinesa), o megaprojecto chinês de investimento e infra-estruturas por todo o mundo, que cumpre este ano o seu décimo aniversário.

Resta, no entanto, saber como se vai desenrolar essa ajuda em termos práticos, tendo em conta que as sanções norte-americanas ao regime de Assad dificultam a entrada de investimento estrangeiro no país e o facto de o Governo chinês raramente apostar numa estratégia assumida de confrontação – opta, na maioria dos casos, por uma posição mediadora.

Foi, precisamente, através de processos de mediação que Pequim fez crescer a sua influência no Médio Oriente, nos últimos anos, um palco onde tem cada vez mais interesses económicos e geopolíticos.

Um dos seus principais sucessos, valendo-se dessa estratégica, foi ter conseguido, no início deste ano, que Arábia Saudita e Irão – rivais históricos na região – restabelecessem as suas relações diplomáticas, ao fim de sete anos.

Em declarações à Reuters, Matteo Legrenzi, professor de Relações Internacionais na Universidade de Veneza, duvida do compromisso actual da China para “para fazer lobby pelo levantamento de sanções multilaterais” à Síria, pelo que acredita que a aposta chinesa será a de “desempenhar um papel” de relevo na reconstrução “sem ter de escolher lados”.

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