As mesas e as cadeiras voltaram à Paiva Couceiro e o protesto virou festa

Reclamações dos cidadãos “obrigaram” a Junta de Freguesia da Penha de França a devolver a totalidade do mobiliário urbano a jardim de Lisboa.

#MVR Matilde Fieschi -Protestos na Praca Paiva Couceiro por a junta de freguesia ter tirado bancos de repouso - 22 de Setembro de 2023.
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Crianças da Associação de Moradores do Bairro do Horizonte juntaram-se ao protesto transformado em festa MATILDE FIESCHI
#MVR Matilde Fieschi -Protestos na Praca Paiva Couceiro por a junta de freguesia ter tirado bancos de repouso - 22 de Setembro de 2023.
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As cadeiras vieram de casa, mas esta sexta-feira a junta já tinha devolvido o mobiliário urbano à praça MATILDE FIESCHI
#MVR Matilde Fieschi -Protestos na Praca Paiva Couceiro por a junta de freguesia ter tirado bancos de repouso - 22 de Setembro de 2023.
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“Foi importante não desmarcar o protesto por várias razões. A primeira para celebrar uma vitória da população e da cidadania”, diz Brito Guterres MATILDE FIESCHI
#MVR Matilde Fieschi -Protestos na Praca Paiva Couceiro por a junta de freguesia ter tirado bancos de repouso, impulsionadores do movimento entre eles Antonio Brito Guterres - 22 de Setembro de 2023.
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Esta sexta-feira a polícia não apareceu na praça e o momento foi de celebração MATILDE FIESCHI
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As mesas e cadeiras retiradas no início da pandemia da covid-19 voltaram a ser instaladas na Praça Paiva Couceiro, no bairro lisboeta da Penha de França. E o protesto que estava marcado para o final da tarde desta sexta-feira acabou por se transformar numa enorme festa. “Foi uma vitória do povo”, dizem os promotores do movimento que lutou pelo regresso do mobiliário urbano ao jardim alfacinha.

Antes da pandemia existiam 12 blocos/mesas, com quatro cadeiras cada (48 no total), que eram usadas pelos frequentadores do jardim da Paiva Couceiro para descanso e para partidas de jogos de mesa, especialmente cartas e dominó.

Já com o abrandamento da pandemia, a Junta de Freguesia da Penha de França, do PS, recolocou quatro blocos mas ficou-se por aí. Alguns activistas protestaram na junta e na CML pelo facto de não ter sido devolvida a totalidade dos equipamentos urbanos. Na quarta-feira da semana passada, alguns fregueses e frequentadores do jardim instalaram-se pacificamente no local com 48 cadeiras levadas de casa, num movimento espontâneo chamado “Pelo direito a sentar”.

As coisas não correram bem para os manifestantes, já que a junta de freguesia chamou a PSP, que considerou o protesto ilegal e apreendeu as cadeiras aos seus proprietários. Os activistas marcaram desde logo um novo protesto para o final da tarde desta sexta-feira.

Na última quarta-feira, a junta de freguesia colocou mais dois blocos e, na quinta-feira, voltou a completar os 12 blocos que existiam antes da pandemia. Os activistas não desmarcaram o protesto, que acabou numa festa em que participaram mais de 100 pessoas, uma boa parte com morada na Penha de França. E com eles vieram também muitas cadeiras das casas e das esplanadas. E desta vez não apareceu a polícia.

“O nosso recreio”

Perto das 17h00 desta sexta-feira, o jardim da Paiva Couceiro está cheio de gente. As mesas da esplanada do quiosque e bar estão quase todas ocupadas. O parque infantil também está bem composto de miudagem. Pelo jardim há quem repouse nos bancos corridos, quem passeie os cães, quem troque conversas.

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Os blocos de mesas quadradas rodeadas por quatro cadeiras também estão quase todos ocupados. A maioria é gente mais velha que joga às cartas.

Artur Santos, 83 anos, nasceu e cresceu na Rua Sebastião Saraiva Lima, junto ao jardim. “Foi um disparate terem tirados as mesas, que estavam e estão sempre cheias de manhã à noite. A praça é o nosso recreio, o recreio dos velhos, mas também das crianças que por aqui brincam o dia todo. Foi preciso a malta protestar para acordarem”, diz o reformado da Carris.

Mário Anjos, 74 anos, colega do jogo da sueca de Artur, mete-se na conversa. “Sabe o que lhe digo: se a malta pagasse para vir para aqui jogar às cartas nunca tinham tirado as mesas. Só pensam em dinheiro, para a malta da junta isto é tudo um negócio. Sempre foi assim, só pensam em dinheiro”, afirma.

Perto das 18h00, mais gente começa a chegar ao jardim. Muitos deles trazem cadeiras, como tinham feito há pouco mais de uma semana. Uma hora depois são mais de 100 e muitas cadeiras de formatos diversos. O ambiente é festivo.

“Foi importante não desmarcar o protesto por várias razões. A primeira para celebrar uma vitória da população e da cidadania. Por outro lado, para alertar gente de outros bairros a quem também está a ser roubado espaço de lazer e de repouso para o facto de lutarem pelos seus direitos e conquistarem o que têm direito”, diz Brito Guterres, 44 anos e um dos dinamizadores do protesto a que chamaram “direito a sentar.

O que já estava animado, mais ficou, quando um grupo de dez crianças, com idades a rondar os 10 anos, chega ao jardim. Nas mãos trazem cartazes coloridos. “A Paiva é Nossa”; “Pelo direito à Praça”; “A Praça é do Povo”; “Viva à Paiva” são algumas das frases escritas nas folhas A3 transportadas pelos jovens da Associação de Moradores do Bairro do Horizonte, popularmente conhecido como bairro da Curraleira.

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“Este movimento da Praça Paiva Couceiro é um exemplo para muitas outras praças de Lisboa e até do país. Um exemplo de que vale a pena lutar pela cidadania”, afirma Marta Gaspar, 26 anos, do movimento de cidadãos Infra-estrutura, com sede na Penha de França, e que também esteve à frente dos protestos.

A activista lamenta que os responsáveis da junta de freguesia nunca os tenham ouvido. “Ignoram-nos sempre, além de mentirem várias vezes sobre a situação. Foi preciso os cidadãos e vários movimentos virem para a rua para resolverem os problemas. O que eles são bons é a chamar a polícia, como fizeram a semana passada, para apreender as cadeiras”, acrescenta.

Desta vez a polícia não apareceu, já a tarde tinha dado lugar à noite e a festa continuava.

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