Mais de 470 mil migrantes venezuelanos autorizados a trabalhar nos EUA

Decisão da Administração Biden permite que os migrantes “ocupem os postos de trabalho disponíveis na comunidade e que paguem impostos” enquanto aguardam o desfecho dos seus processos.

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Migrantes num posto de atendimento na fronteira entre os EUA e o México, no estado da Califórnia Reuters/MIKE BLAKE
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Quase meio milhão de cidadãos venezuelanos que não têm autorização legal para residir nos Estados Unidos da América vão poder procurar trabalho no país por um período de pelo menos 18 meses, uma decisão anunciada pela Administração Biden, na noite de quarta-feira, após uma forte pressão de responsáveis do Partido Democrata de Nova Iorque.

Das mais de 470 mil pessoas abrangidas pela medida, dezenas de milhares estão actualmente a receber apoio na cidade de Nova Iorque, na sequência de um novo aumento do número de travessias a pé na fronteira entre o México e os EUA, e de uma campanha lançada por governadores de estados do sul do país (onde o Partido Republicano está em maioria) que consiste no envio de migrantes para estados mais afastados da fronteira e governados pelo Partido Democrata.

Nos últimos meses, a governadora do estado de Nova Iorque, Kathy Hochul, e o presidente da câmara da cidade, Eric Adams — ambos do Partido Democrata —, têm pedido à Administração Biden que tome medidas para aliviar os custos do apoio aos migrantes.

Segundo Adams, a factura do pagamento de habitação, cuidados de saúde e educação a dezenas de milhares de pessoas que aguardam em Nova Iorque pela resolução dos seus pedidos de asilo nos EUA pode chegar aos 12 mil milhões de dólares (11,2 mil milhões de euros) nos próximos anos.

A medida da Administração Biden, que só abrange os migrantes venezuelanos que entraram no país até 31 de Julho, foi bem recebida pelo presidente da câmara de Nova Iorque e pelos representantes do Partido Democrata no Congresso dos EUA, para quem a autorização "é um passo no bom sentido".

"Estes migrantes vão poder trabalhar e apoiar as respectivas famílias enquanto aguardam a resposta aos seus pedidos de asilo", disseram, num comunicado conjunto, o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, e o líder do Partido Democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries, ambos de Nova Iorque.

"A decisão vai também reduzir de forma significativa os custos para os contribuintes de Nova Iorque com a protecção dos requerentes de asilo."

No mesmo sentido, um outro congressista de Nova Iorque, Daniel S. Goldman, do Partido Democrata, disse que a medida da Administração Biden "vai permitir que os venezuelanos ocupem os postos de trabalho disponíveis na comunidade e que paguem impostos, ao mesmo tempo que aliviam a pesada carga financeira para a cidade e para o estado".

Aumento de entradas

O Partido Democrata e o Presidente dos EUA, Joe Biden, temem que o recente aumento do número de entradas nos EUA através da fronteira com o México venha a prejudicar os candidatos do partido nas eleições de Novembro de 2024.

Em Maio, a Administração Biden deixou cair uma declaração de emergência, invocada pela Administração Trump durante a pandemia de covid-19, que permitia uma rápida expulsão de qualquer migrante que entrasse nos EUA sem ser pelos pontos oficiais, incluindo requerentes de asilo.

Para impedir um súbito aumento do número de entradas no país — e, ao mesmo tempo, esvaziar iniciativas mais musculadas do governador do Texas, o republicano Greg Abbott —, o Departamento de Segurança Interna dos EUA pôs em prática um plano que assenta na abertura de gabinetes de imigração e asilo em países da América do Sul, numa tentativa de estancar a chegada de milhões de migrantes à fronteira com o México.

Com o passar do tempo, a dimensão do número de pedidos face aos meios disponibilizados — tanto online, através de uma aplicação para iniciar os processos de asilo, como nos centros de acolhimento em países como a Colômbia e a Costa Rica — levou muitos migrantes a optarem por retomar os seus planos iniciais de fazerem a travessia a pé através da floresta que separa a América do Sul da América do Norte, na região da Colômbia e do Panamá.

Entre Janeiro e Setembro, 360 mil pessoas atravessaram o estreito de Darién — através de uma densa área florestal também conhecida como a "selva da morte" — a caminho da fronteira entre o México e os EUA, mais do que o total registado no ano 2022. Só em Agosto, 91 mil famílias foram detidas na fronteira sul dos EUA por terem entrado no país de forma ilegal, um novo recorde mensal.

Na terça-feira, cerca de 2500 pessoas, muitas delas provenientes da Venezuela, atravessaram uma cerca de arame farpado e entraram nos EUA através da cidade norte-americana de Eagle Pass. Segundo o presidente da câmara da cidade, Ricardo Salinas Jr., muitos dos migrantes foram postos em liberdade na cidade, onde residem 28 mil pessoas.

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