Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos não recomenda vacinação generalizada de crianças contra a covid-19

Ordem diz que situação epidemiológica actual não justifica a vacinação generalizada de crianças ou adolescentes. No entanto, no caso de jovens com comorbilidades, tal deve ser analisado caso a caso.

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Crianças começaram a ser vacinadas contra a covid-19 em Dezembro de 2021 Daniel Rocha/Arquivo
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O Colégio de Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos não recomenda a vacinação generalizada de crianças e jovens contra a covid-19. De acordo com um parecer deste órgão, com data de 13 de Setembro, a actual situação epidemiológica, no que toca a gravidade e mortalidade, “não justifica que se considere a vacinação generalizada de crianças ou adolescentes”.

O Colégio de Pediatria realça ainda que no caso de “crianças e jovens com graus de comorbilidades que justifiquem a protecção que possa ser conferida pela vacinação”, esta deve ser ponderada caso a caso.

Neste parecer, o Colégio de Pediatria nota existir “um recrudescimento do número de infecções e risco de contágio, todavia sem a gravidade ou mortalidade dos primeiros surtos da infecção pelo SARS-CoV-2” — o que tem justificado a redução de medidas de isolamento individual, afastamento social ou de novo uso generalizado de máscaras.

O documento refere ainda o exemplo da Austrália, "que se notabilizou por estrita exigência de vacinação anti-covid no passado recente", onde o Grupo Técnico da Aconselhamento reconhece agora que "na população infantil até aos cinco anos a vacinação, ou revacinação não são recomendadas independentemente da situação de risco individual, e dos 5 aos 17 anos a hipótese poderá ser individualmente considerada em população de risco".

Em Dezembro de 2021, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) recomendou a vacinação das crianças entre os 5 e os 11 anos, com “prioridade para as crianças com doenças consideradas de risco para covid-19 grave”. Essa recomendação teve por base "uma posição da Comissão Técnica de Vacinação contra a covid-19 (CTVC), que considerou, com base nos dados disponíveis, que a avaliação risco-benefício, numa perspectiva individual e de saúde pública, é favorável à vacinação das crianças desta faixa etária”, segundo disse na altura a DGS.

Tema dividia especialistas

O assunto dividia então especialistas, com alguns a defender a vacinação deste grupo e outros a posicionarem-se contra, argumentando que a vacinação não tem grandes benefícios neste grupo etário.

Entre essas vozes contra estava precisamente a do presidente do Colégio da Especialidade de Pediatria, Jorge Amil Dias, que considerou a medida "desproporcionada" e "desnecessária", tendo em conta o número de crianças que tinham já contactado com o vírus e o facto de esta ser habitualmente uma doença assintomática ou ligeira nestas faixas etárias.

Chegou, inclusive, a pedir a suspensão da vacinação de crianças saudáveis. Na altura, essa posição valeu-lhe uma queixa por parte de um grupo de médicos, alguns, inclusive, de dentro da OM. No entanto, o pediatra justificou-se, dizendo “nunca” ter falado em nome da Ordem dos Médicos ou do então bastonário e que a posição que ocupa não o impede de expressar opiniões próprias.

Actualmente a DGS mantém a recomendação de vacinação de crianças entre os cinco e os 11 anos, assim como de adolescentes entre os 12 e os 15 anos.

A norma da campanha de vacinação sazonal, publicada na semana passada, abrange também "a recomendação de vacinação primária das crianças entre os seis meses e os quatro anos de idade com patologias de risco".

Ao PÚBLICO, Jorge Amil Dias refere que este parecer "não é uma reacção a nada", mas sim uma posição do Colégio de Pediatria sobre o assunto que já tinha sido remetida ao bastonário da Ordem de Médicos, que achou por bem divulgá-la no site da OM. A par disso, diz o pediatra, caso a discussão em torno da vacinação de crianças volte a adensar-se, esta é uma forma de a OM ter "informação atempada" sobre o assunto, evitando assim uma "reacção no momento".

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