Cidadãos de Baião manifestam-se no domingo contra trasladação de Eça de Queiroz

“Uma manifestação de gratidão para com Eça” decorrerá domingo em Baião, no distrito do Porto, de forma a sublinhar o “desagrado” pela decisão de transladar o corpo do escritor para o Panteão Nacional.

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Imagem da exposição "Tudo o que tenho no saco - Eça e Os Maias", na Fundacao Calouste Gulbenkian Daniel Rocha

Um grupo de cidadãos de Santa Cruz do Douro, em Baião, no distrito do Porto, onde está sepultado Eça de Queiroz, vai manifestar-se no domingo na localidade contra a trasladação dos restos mortais do escritor para o Panteão Nacional, em Lisboa.

"Vai ser uma manifestação de gratidão para com Eça e, naturalmente, mostrar o nosso desagrado pela forma como este processo foi conduzido", disse esta quarta-feira à Lusa António Fonseca, elemento do movimento, e ex-presidente da Junta de Freguesia de Santa Cruz do Douro. A manifestação, indicou, está marcada para as 16h, junto ao acesso à Fundação Eça de Queiroz.

António Fonseca disse acreditar que a maioria da população da localidade está contra a trasladação, referindo que só um "punhado de pessoas" pensará de forma diferente, "por razões políticas".

"A democracia aqui funcionou muito pouco. Há um punhado de pessoas que resolveram sem consultar ninguém, a junta de freguesia e a própria família directa", acentuou, recordando que o "decano dos Eças, que é José Maria Eça de Queiroz, é a principal figura que está a liderar a contestação dos Eças que não estão de acordo com a trasladação".

António Fonseca recordou, por outro lado, que deu entrada na terça-feira no Supremo Tribunal Administrativo uma providência cautelar "para obstaculizar a trasladação", prevista para o dia 27.

"Esperamos que assim aconteça e quem ganhará, em primeiro lugar, será o concelho de Baião e todos aqueles que se revêem nesta posição", asseverou.

Sobre as razões que suportam a oposição à trasladação, começou por lembrar a importância de "respeitar a memória" da fundadora da Fundação Eça de Queiroz, bisneta por afinidade do escritor, que conseguiu, há cerca de 30 anos, que os restos mortais fossem transferidos de Lisboa para o cemitério de Santa Cruz do Douro, onde permanecem.

Além disso, António Fonseca sinalizou que o movimento de cidadãos não se opõe à atribuição de honras de Panteão Nacional a Eça de Queiroz, "que são merecidas", mas defendeu que isso não implica que os restos mortais do escritor tenham de ser trasladados para Lisboa.

"Gostaríamos que fosse dispensado a Eça o tratamento que foi dispensado a Aristides de Sousa Mendes, que teve honras de Panteão Nacional, mas, por pressão do povo, os seus restos mortais estão sepultados na sua terra natal", anotou.

A Fundação Eça de Queiroz anunciou um fim-de-semana evocativo de Eça de Queiroz na sua sede, em Baião, em antecipação da cerimónia de concessão de Honras de Panteão Nacional ao escritor. Do programa consta, no domingo, a presença solene do caixão, em câmara ardente.

"Este momento simbólico e solene é a derradeira despedida da quinta de Santa Cruz antes da partida para Lisboa", pode ler-se num comunicado da fundação.