A “Tube Girl” do TikTok está a vender confiança — e os seguidores alinham

No TikTok, os vídeos de Sabrina Bahsoon a dançar no metro de Londres têm ressoado junto de uma audiência que não consegue ter tanta confiança.

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"Tube Girl" está a conquistar seguidores no TikTok DR
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Como seria dançar como se ninguém estivesse a ver — num comboio cheio de passageiros? A "Tube Girl", como foi apelidada pela internet, faz parecer que também tu podias ser a estrela de um videoclipe, alguém com a energia de um protagonista ou até mesmo apenas alguém sem a ansiedade social paralisante que muita gente desta geração tem. No TikTok, os vídeos de Sabrina Bahsoon a dançar no metro de Londres têm ressoado com uma audiência que não consegue ter tanta confiança.

"Eu adoro completamente que estejas a encorajar outras raparigas a terem confiança, independentemente de quem está a ver ou do que os outros pensam", escreveu um fã num vídeo. "Espero que saibas que estás a começar uma tendência para quebrar barreiras de confiança com mulheres em todo o lado, eu literalmente adoro-te", escreve outro.

Em cada um dos vídeos virais de Bahsoon, alguns vistos 16 milhões de vezes, o cabelo sopra ao vento enquanto dança sem esforço ao som de músicas de Raye, Tate McRae, Jazmin Bean ou Jazzy. Em menos de um mês, Bahsoon, que acaba de concluir um curso de Direito na Universidade de Durham, no Reino Unido, acumulou mais de 400 mil seguidores no TikTok, foi convidada para colaborar com marcas como a MAC Cosmetics e recebeu um convite para desfilar na Paris Fashion Week.

Tem sido um Verão de tendências "de rapariga", o que tornou a ascensão de Bahsoon ainda mais interessante. Para os fãs e especialistas em estudos dos media, o estilo único de Bahsoon de manobrar a sua câmara frontal é uma das razões pelas quais os seus vídeos se destacam entre a multidão de TikToks criados e consumidos diariamente, sem mencionar a sua forte sensação de confiança e uma narrativa pessoal que se encaixa perfeitamente com o apelo do TikTok.

Os utilizadores do TikTok, modelos e comediantes estão agora a imitar o estilo de vídeos de dança de Bahsoon nos metros de Nova Iorque, Washington D.C., Tóquio, Varsóvia e outras cidades. Parte do sucesso da Tube Girl pode explicar-se pela ideia que passa de que as raparigas e mulheres, particularmente que são racializadas, são condicionadas a acreditar que devem ocupar o menor espaço possível, de acordo com alguns especialistas.

"Temos visto progressos em termos de normas de género, mas também vimos retrocessos", disse Ashleigh Wade, professora de media e estudos afro-americanos na Universidade da Virgínia. "Os vídeos da Sabrina podem ser apelativos para pessoas que pensam que, se ocuparem o espaço público, podem receber escrutínio e ódio."

Bahsoon, 22 anos, foi criada na Malásia e é filha de um pai com origens na Serra Leoa e no Líbano e uma mãe malaia. Desde pequena, sempre disse à mãe que queria ser uma estrela do rock, afirma.

"Eu sabia que não era uma rapariga que fosse seguir uma carreira corporativa", disse ao The Washington Post. "Apenas precisava de concluir o curso de Direito antes de poder chegar aqui." Há cerca de um mês, momentos depois de entregar o seu trabalho final na faculdade de Direito, Bahsoon desabou. Eram lágrimas de alívio, disse ela. Finalmente, sentiu-se livre e empoderada.

"Lembro-me de pensar que esta é a única vez na minha vida em que não tenho mais nada alinhado", disse ela. "Portanto, ou me comprometo a fazer-me genuinamente feliz ao seguir os meus sonhos, ou nunca vou ser feliz, e vou sentir-me sempre assim."

Quase todos os seus amigos da faculdade de Direito passaram o Verão a garantir empregos, enquanto ela teve de explicar constantemente à sua família que precisa de seguir os seus sonhos no mundo da música e da moda.

"Mesmo que as pessoas te amem, podem duvidar dos teus maiores sonhos", disse ela. "Tens de acreditar em ti mesma, não há nada mais importante."

Bahsoon tem gravado vídeos de a dançar nos comboios desde o ano passado, mas só no mês passado é que concebeu o movimento brusco da câmara. Primeiro tentou em casa, depois no autocarro de Londres e finalmente no comboio. Foi a forma como capturou o vento no comboio que se tornou o factor chave, disse.

Bahsoon brinca que parte da sua confiança vem do facto de ser um pouco "delulu" — gíria da internet para delusional (delirante em português) — mas "saber o que queres e reconhecer realisticamente as tuas capacidades" tem sido uma parte importante da sua jornada.

Ter-se tornado viral não é um acaso ou algo isolado, disse. Quando decidiu dar uma oportunidade à sua carreira criativa, começou a pensar mais profundamente na música que ouve, como a batida influencia o movimento e a sua câmara, e como o vídeo musical deve ser estilizado. "Depois, apenas sigo a música", aponta.

Bahsoon vai continuar a seguir a música até conseguir criar um nicho para si mesma no mundo da música e da moda.

Para Carrie Rentschler, professora de estudos de comunicação na Universidade McGill, os vídeos de Bahsoon "executam uma espécie de confiança que outros aspiram a ter e querem participar", disse ela.

O TikTok encarrega-se de imitar e remisturar diferentes vídeos e estilos, disse ela, acrescentando que o feito de Bahsoon inclui fazer com que outros criem vídeos ao seu estilo.

"A autoconfiança forte brilha mesmo através da câmara", disse Rentschler. "E é isso que atrai as pessoas."

No entanto, Wade observa que até agora a maioria das pessoas que se juntaram a Bahsoon têm sido pessoas que se apresentam como mulheres com um tipo de corpo semelhante. "Mostrar confiança e autoconfiança pode ser mais difícil para pessoas cujos corpos não se conformam com os padrões normalizados de beleza", afirmou.

Para Bahsoon, a acessibilidade e a inclusão sempre foram importantes e estão entre as razões pelas quais acabou por filmar nos transportes públicos. À medida que o #tubegirleffect se espalha, Bahsoon vai continuar a dançar no metro e a fazer os seus vídeos. Afinal, ela passa mais de uma hora a viajar todos os dias. "O constrangimento não é real", sublinhou. "Pelo menos não o podes deixar atrapalhar os teus sonhos."


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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