Lisboa: Rua da Prata não voltará a ter carros. Só circularão eléctricos, peões e bicicletas

Vice-presidente da Câmara de Lisboa anuncia aposta nas mobilidades pedonal e suave numa das mais emblemáticas artérias da Baixa de Lisboa. E prevê uma rua mais dinâmica e rejuvenescida daqui a um ano.

Foto
As obras nos colectores da Rua da Prata obrigaram ao corte de trânsito, que passará a definitivo LUSA/MIGUEL A. LOPES
Ouça este artigo
00:00
03:54

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Rua da Prata vai passar a estar definitivamente encerrada à circulação automóvel, devendo converter-se numa via dedicada à mobilidade suave e ao eléctrico. A novidade foi avançada pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Filipe Anacoreta Correia, na tarde desta quarta-feira, durante uma cerimónia dedicada à mobilidade activa e à conectividade da rede ciclável, integrada na celebração da Semana Europeia da Mobilidade. A alteração ao esquema de circulação coincidirá com o finalizar, durante o mês de Novembro, dos trabalhos de requalificação da rede de colectores daquela artéria, que foi encerrada em Dezembro de 2022, na sequência de um abatimento de piso.

A avaliação dos motivos do colapso do pavimento veio a revelar, pouco depois, a necessidade imperiosa e urgente de efectuar uma profunda requalificação de um colector de drenagem da era pombalina. Desde então, a circulação automóvel e de transportes públicos, incluindo a do eléctrico, passou a estar interrompida em toda a extensão da Rua da Prata. O corte no trânsito, enquanto decorrem os trabalhos, converteu o arruamento numa via onde apenas circulam peões, bicicletas e trotinetas. Durante estes meses de realização das obras, tem sido, porém, notório o acentuar da quebra na actividade comercial naquela artéria, agudizando assim uma dinâmica que já se fazia sentir. Vários foram os estabelecimentos a encerrar portas.

A Câmara de Lisboa quer agora inverter esse ciclo e acredita que a melhor forma de o conseguir passa pelo encerramento definitivo da rua à circulação automóvel. Isso mesmo foi assumido agora pelo vice-presidente da autarquia, ao anunciar que os automóveis não farão parte do novo esquema de circulação, quando os trabalhos de requalificação estiverem terminados, até ao final de Novembro. “Uma vez que já temos à vista o final das obras, pensámos ‘O que é que vamos fazer aqui?’”, disse Filipe Anacoreta Correia, durante a cerimónia de lançamento do BICI - Bloomberg Initiative for Cycling Infrastructure, programa promovido pela Bloomberg Philanthropies e pela Global Designing Cities Initiative. E, de seguida, respondeu a si mesmo: “Queremos reforçar a acessibilidade pedonal e a acessibilidade ciclável”.

Complementando o seu raciocínio, Anacoreta Correia salientou que a tal nova vertente associada à circulação de peões e dos meios de mobilidade suave na Rua da Prata apenas vai permitir a partilha do espaço com o eléctrico. O autarca referiu, no entanto, que a mudança, a efectivar em breve, foi feita com “uma preocupação e uma abordagem que não são habituais”. “É que as soluções não são impostas, são testadas e dialogadas”, afirmou, no decurso da cerimónia de apresentação do projecto que pretende melhorar as ligações escolares através da mobilidade activa e da conectividade da rede ciclável da cidade.

À margem desta iniciativa, em declarações feitas à Rádio Observador, o vice da câmara liderada por Carlos Moedas falou na ideia de cortar em definitivo a circulação automóvel na Rua da Prata, aproveitando o fim próximo das obras nos colectores, como “uma experiência”. “Queremos aproveitar este momento, para fazer também aí uma experiência, que não passará por retomar o trânsito dos carros, mas antes investir na acessibilidade pedonal e também na acessibilidade ciclável. Seria por aí que a ligação ao rio se faria, e preservando também o eléctrico na Rua da Prata, que é essencial para as linhas da Carris”, afirmou Filipe Anacoreta Correia.

Questionada pelo jornalista da Rádio Observador se a rua deixaria de ter trânsito automóvel, o autarca sorriu e disse que sim. “Deixará de ter trânsito automóvel, mas espero que tenha muita circulação pedonal, porque é uma forma também de investir no comércio pedonal aqui na Baixa, que é uma nossa preocupação. Sofreram muito aqui os comerciantes, durante este ano. Nós, com esta medida, queremos revitalizar o comércio e de forma forte”, afirmou.

E tão esperançoso está Anacoreta Correia nos benefícios da nova tipologia desenhada para uma das mais emblemáticas ruas da Baixa Pombalina, que deixou um desejo: “A minha aposta é que, daqui a um ano, possamos ter uma Rua da Prata muito mais dinâmica e rejuvenescida”.

Sugerir correcção
Ler 19 comentários