Benfica entra na Champions com um problema resolvido e um por resolver
A equipa “encarnada” já tem o seu guarda-redes titular escolhido e os predicados de Trubin podem ser úteis já frente ao Salzburgo, no Estádio da Luz.
Ouviu-se repetidamente, nos últimos anos, que um dos entraves ao plano do “Benfica europeu” foi um guarda-redes de predicados limitados, sobretudo para competir com os melhores da Europa.
A premissa nunca foi propriamente a de que Vlachodimos fosse fraco, mas a de que não evoluía em valências importantes como o jogo de pés, o controlo da profundidade e um perfil dominador em bolas aéreas na sua área. Também por isso o Benfica todos os anos tentou contratar guardiões de craveira – entre os quais o italiano Perin, que até esteve em Lisboa para assinar.
E se este era um dos problemas para a afirmação europeia – e está por provar que fosse –, então o Benfica vai iniciar a Liga dos Campeões, nesta quarta-feira (20h, Eleven), com a crença de que o resolveu.
É que na antevisão da estreia na Champions, frente ao Salzburgo, Roger Schmidt não teve pudor em apontar que é Anatoly Trubin, o novo reforço, o número um da baliza.
Apesar de o dizer de forma mais polida, Schmidt deixou claro quem lidera a corrida: "Dei ao Samuel Soares oportunidade de mostrar serviço e dei oportunidades ao Trubin para se adaptar ao Benfica e companheiros de equipa. O Trubin não teve muito que fazer no sábado [frente ao Vizela] mas é essa a sina de um guarda-redes do Benfica. Foi bom jogar 90 minutos e na quarta-feira vai jogar. É a primeira escolha para a baliza, confio nele", apontou.
Chegado com a aura de um dos futuros melhores da Europa – palavra de Rui Costa –, o ucraniano tem, para já, a garantia de que o lugar é seu, por muito que Samuel Soares tenha cumprido no pós-Vlachodimos – ou pré-Trubin, se preferirmos. Para o Salzburgo, será Trubin e mais dez. E depois disso, provavelmente, também.
Este é o problema que está resolvido e o jogo de pés do ucraniano até pode ser útil neste jogo. Já lá vamos.
Salzburgo de perfil parecido
O problema que está por resolver é como encarar uma equipa muito parecida no seu estilo de jogo. E algumas estatísticas ajudam a entender porquê.
Não é fácil olhar para o Salzburgo a partir das tendências de jogo em 2023/24, já que a Liga austríaca, onde o clube “passeia”, será um medidor enviesado. Olhemos, portanto, para a última edição da Champions, que nos dá alguns dados interessantes para entender que equipa é este Salzburgo.
Tratou-se da quarta equipa que menos tempo passou no seu terço do campo e foi, das 32 formações em prova, a que mais permitiu bolas longas aos adversários.
Estes dados do Who Scored, conjugados com um do Fotmob que nos diz que foi a quinta equipa com mais recuperações no último terço de terreno, apontam uma conclusão: é uma equipa que joga bem subida no campo e que opta por uma pressão intensa à primeira fase de construção adversária, mais do que um bloco médio/baixo, que espera pelo adversário.
Nessa medida, o Benfica poderá esperar dificuldades para sair a jogar, até pela ausência de Grimaldo, que ajudava bastante nesta vertente. Jogadores como João Neves e Kokçu poderão ser especialmente relevantes, bem como os passes verticais de António Silva e os criativos Di Maria e Rafa a “mostrarem-se” mais em zonas entre linhas que permitam quebrar as linhas de pressão austríacas.
O Salzburgo foi ainda a quarta equipa com menos posse de bola, mas das que mais marcaram em contra-ataque e no top 10 das que mais remates fizeram – dados que atestam ainda mais o perfil de uma equipa que não faz questão de ter controlo do jogo com bola, mas que, por recuperar bem em zonas adiantadas, consegue muitas situações de transições rápidas e remate.
Estes traços são até comuns à equipa do Benfica desde que chegou Roger Schmidt, algo que não é uma mera trivialidade: na esfera dos clubes da Red Bull, como é o RB Salzburgo, os técnicos são escolhidos a dedo para este modelo de jogo sem bola mais ou menos transversal e padronizado – e Schmidt também esteve por lá, há dez anos, nessa ideia de transição e contra-transição.
O Benfica está habituado a ter de desmontar defesas que jogam em bloco baixo e sem pressão nos centrais “encarnados”, mas, frente ao Salzburgo, terá de enfrentar uma equipa bem diferente – e em quase tudo semelhante à formação portuguesa.
Como “enganar” uma equipa “gémea”? Podem existir várias formas, mas uma delas, crerá Schmidt, é ter um guarda-redes que ajude, com um bom jogo de pés, a ultrapassar a pressão alta do Salzburgo. Para isso, já lá está Trubin.