O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, anunciou um recuo nas metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa, como o adiar da data em que passará a ser proibida a venda de carros novos a gasolina e gasóleo (de 2030 para 2035). Garante, no entanto, que os compromissos internacionais e o objectivo de o Reino Unido alcançar a neutralidade carbónica até 2050 continuam válidos.
Rishi Sunak apresentou-se, num discurso ao país, como um político de mudança – a pensar já nas próximas eleições legislativas, que terão de acontecer até Janeiro de 2025. As mais recentes sondagens dizem que se a votação fosse hoje, o Partido Conservador de Sunak perderia, com cerca de 20 pontos de distância do Partido Trabalhista.
O primeiro-ministro conservador quis mostrar-se, assim, como alguém capaz de mudar a forma de fazer política, começando pelo clima. Prometeu “uma nova abordagem ao desafio das alterações climáticas, com mais transparência e debate”, afirmou. O centro de gravidade do seu discurso foram os custos para as famílias implícitos no cumprimento das metas de redução das emissões de dióxido de carbono (CO2).
“Temos o caminho mais justo e credível para alcançar a neutralidade carbónica em 2050, de uma forma que traga as pessoas connosco?”, interrogou. Sunak diz que não. “Arriscamo-nos a perder o consentimento dos cidadãos e a reacção não será só contra políticas específicas, mas contra toda a missão”, declarou. E não é preciso, garantiu, porque o Reino Unido já avançou tanto, que pode fazer um caminho “mais pragmático, mais proporcional”.
Pôs uma grande ênfase na falta de consideração dos custos que a transição energética tem para as famílias, para anunciar o adiamento – ou eliminação – de várias metas e projectos legislativos. Por exemplo, a partir de 2025, alguns proprietários seriam forçados a melhorar a eficiência energética dos seus apartamentos. Sunak anunciou o abandono dessa data.
As emissões dos edifícios, que em grande parte têm a ver com o aquecimento, representam 17% do total do Reino Unido. Mas o aquecimento a diesel, que deveria ser banido a partir de 2026, só o será desde 2035 e, até lá, haverá novos apoios para a sua substituição, no valor de 7500 libras, num prazo flexível. Actualmente, 80% dos edifícios britânicos têm aquecimento a gás, diz a Reuters.
Melhorar a eficiência energética da sua casa é algo que pode custar umas 8000 libras (9200 euros), afirmou o primeiro-ministro e ex-ministro das Finanças. E a mudança dos sistemas de aquecimento, substituindo-os por bombas de calor, é algo que pode custar “cinco mil, dez mil, 15 mil libras”, afirmou, para exemplificar os custos da transição energética que afirma preocuparem-no.
A data em que deixarão de ser vendidos carros novos a gasóleo e gasolina foi adiada de 2030 para 2035. Sunak sublinhou que esta é meta de muitos outros países, como a Alemanha, França, Espanha, Canadá. “Em 2030 a maioria dos carros serão eléctricos, mas deve ser uma escolha do consumidor e não uma imposição do Governo, porque os custos ainda são altos”, afirmou. Prometeu um investimento significativo na infra-estrutura para o abastecimento dos carros eléctricos.
Esta mudança de datas preocupa a indústria automóvel, que mesmo antes de Sunak discursar, expressou o seu descontentamento. “Criar confusão e incerteza vai retrair os consumidores”, disse a Sociedade de Fabricantes e Comerciantes de Veículos. “O nosso sector precisa de três coisas do Governo britânico: ambição, compromisso e consistência. Relaxar a meta de 2030 enfraquece estes objectivos”, disse Lisa Brankin, responsável pela Ford no Reino Unido.
No próprio Partido Conservador houve críticas declaradas a esta mudança de política. “Uma das áreas em que o mundo olha para o Reino Unido como um exemplo é no clima e no ambiente. Sunak está a desmantelar essa credibilidade, não por acidente, mas porque escolheu fazê-lo”, declarou Zac Goldsmith, que se demitiu de secretário de Estado do Ambiente e do Clima em Junho.
Rishi Sunak assegura que o Reino Unido não vai falhar a meta da neutralidade carbónica em 2050. “É absolutamente errado descrever o que estou a fazer hoje como um enfraquecimento das metas climáticas”, afirmou.
O Comité das Alterações Climáticas, um órgão consultivo independente do Governo, manifestou-se preocupado com o que disse o primeiro-ministro. “Temos de fazer as contas, mas é provável que os anúncios de hoje distanciem ainda mais o Reino Unido do cumprimento das suas obrigações legais”, disse o secretário deste órgão, Piers Foster, citado pela BBC.