Peças de Vhils submersas no Algarve na primeira exposição subaquática em Portugal

Algumas peças do artista português foram pensadas para agregar vida no fundo do mar. As obras foram submersas há seis meses e Vhils diz que este foi o seu trabalho mais complexo e desafiante.

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As peças foram submersas há seis meses e o objectivo é que alberguem vida VHILS/FACEBOOK

Cerca de uma dezena de peças compõem a primeira exposição subaquática da costa portuguesa, um projecto inaugurado esta quarta-feira, que reuniu o artista Vhils e a EDP. As peças estão ao largo de Albufeira, no Algarve. Nos últimos seis meses, as obras foram submersas a cerca de duas milhas da costa de Albufeira, numa área de 150 metros, embora algumas delas só venham a ser reveladas daqui a alguns anos, após a acção da natureza, contou o artista aos jornalistas.

"No total foram [submersas] à volta de nove, dez peças, porque algumas são parte recife e inteiramente pensadas para agregar vida, mas que depois se vão desenrolar em peças também", referiu Alexandre Farto, conhecido como Vhils, na inauguração do projecto, junto à praia de Santa Eulália, em Albufeira.

Segundo Vhils, a intervenção artística EDP Art Reef é um percurso ao longo das várias peças instaladas naquele espaço, que conta uma história que se vai desenrolando com vários elementos e profundidades, havendo até peças com as quais se pode interagir, revelou.

"Tentei encontrar várias histórias da nossa relação enquanto humanos com o mar, uma história feita de subsistência, de confronto, de tensões, mas também tentar procurar vários pontos em que a nossa história se encontrou com o mar", explicou.

O artista não tem dúvidas em assumir que este foi o seu trabalho mais complexo e desafiante, não só por ter envolvido uma equipa de muitas pessoas, mas também por ter sido no fundo do mar, um sítio em constante movimento e em que a presença humana não é natural.

Questionado pelos jornalistas sobre quão rápido espera que a acção natural modifique as peças que ali foram submersas, Vhils diz que quase todo seu trabalho é efémero, mas sublinha que, no caso deste projecto, a intenção é mesmo que o mar "tome conta" das peças.

"Aqui em particular as peças estão pensadas mesmo para o mar tomar conta delas. Isso já acontece em algumas e as peças estão feitas também para evoluírem", prossegue, reiterando que parte delas só vão ser reveladas mais tarde.

Antes de serem submersas a 12 metros de profundidade, as obras que Vhils criou a partir de peças de antigas centrais termoeléctricas a carvão, entretanto desactivadas, estiveram expostas na sede da EDP, em Lisboa.

Um recife artificial

As obras foram concebidas tendo em conta a promoção de um ecossistema favorável ao crescimento de recifes de coral e ao aparecimento de formas de fauna e flora marítimas, pensadas de forma a gerar um novo recife artificial.

Presente na inauguração do projecto, a directora de mercados da EDP, Catarina Barradas, contou que o desafio era pegar nas peças das centrais desactivadas e dar-lhes um olhar diferente, missão que foi entregue a Vhils.

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Uma das peças em Lisboa antes de ser submersa MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

"Trabalhámos com uma série de instituições científicas para garantir que o que estávamos a fazer era o melhor para aquele ecossistema", assegurou a responsável, notando que o projecto vai contribuir de forma positiva para o seu desenvolvimento.

As peças, que são apenas visitáveis através da prática de mergulho qualificado, foram pensadas de forma a permitir a passagem da fauna local, tendo sido implantados corais vivos resgatados e conservados em cativeiro na sua base.

O local da exposição será monitorizado ao longo dos próximos anos, estando disponível para o estudo científico e ambiental, além das suas vertentes culturais e de consciencialização.

O EDP Art Reef foi desenvolvido com o apoio de entidades como a Câmara de Albufeira, o Turismo de Portugal e o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, e validado pela Direcção-Geral de Recursos Naturais e a Agência Portuguesa do Ambiente, entre outras.

Além disso, a submersão das peças foi licenciada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e pela Autoridade Marítima Nacional.