Rússia confirma encontro entre Putin e Xi em Pequim
Presidente russo vai viajar até à capital chinesa no próximo mês. Visita inclui reunião de alto nível com o chefe de Estado chinês e participação em cimeira da Nova Rota da Seda.
Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, confirmou esta terça-feira que Vladimir Putin, Presidente russo, vai visitar Pequim em Outubro e reunir-se com Xi Jinping, seu homólogo chinês. O anúncio, já expectável, foi feito durante uma reunião em Moscovo com o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Wang Yi, segundo a agência noticiosa russa Interfax.
“Aguardamos com expectativa as discussões bilaterais aprofundadas de Outubro entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o Presidente chinês, Xi Jinping, em Pequim. A Rússia está comprometida com o desenvolvimento e o fortalecimento progressivo das relações russo-chinesas”, disse Patrushev, citado pela Reuters.
Para além do encontro de alto nível com Xi, Putin também irá participar na terceira edição do Fórum da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative, de acordo com a designação oficial chinesa), um evento de comemoração do décimo aniversário do lançamento do megaprojecto chinês de investimento e infra-estruturas.
Esta será a terceira vez que os dois Presidentes se vão encontrar pessoalmente desde o início da invasão russa da Ucrânia, depois de Xi ter sido recebido com todas as honras em Moscovo em Março deste ano e de os dois se terem reunido em Setembro do ano passado, no Usbequistão, à margem da cimeira da Organização para Cooperação de Xangai.
Será ainda a primeira vez que o chefe de Estado russo sai do país desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu um mandado de captura, também em Março, por ser “alegadamente responsável pelo crime de guerra de deportação ilegal de população [crianças] e de transferência ilegal de população de áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa”.
Ao contrário de outras deslocações que Putin tinha na agenda e que tiveram de ser abortadas por haver risco de detenção – nomeadamente a cimeira dos BRICS, em Agosto, na África do Sul –, o Presidente russo não terá problemas em viajar para Pequim, já que a China não é signatária do Estatuto de Roma de 1998, que estabeleceu o TPI.
O encontro entre Putin e Xi será mais uma oportunidade para os dois líderes promoverem a “parceria sem limites” entre Rússia e China, anunciada pela primeira durante a última viagem do Presidente russo à capital chinesa, em Fevereiro de 2022, poucas semanas antes da invasão do território ucraniano.
Para além de recusar condenar o Kremlin pela agressão militar contra a Ucrânia, o Presidente chinês não tem permitido que o conflito ponha em causa a proximidade política e pessoal que tem com Putin – os dois líderes tratam-se, inclusivamente, por “querido amigo”, sempre que se referem um ao outro.
Recusando dar ouvidos às súplicas do Ocidente para que use o seu poderio económico e diplomático para forçar Putin a sair da Ucrânia, a liderança política chinesa tem optado por uma postura de enorme ambiguidade sobre o conflito. Por um lado, propõe um plano de paz, ainda que genérico, vago e sem pré-condições, para acabar com a guerra; mas, por outro, reforça a sua cooperação económica, energética, militar e diplomática com a Rússia.
Numa visita recente à China, o ministro da Economia da Federação Russa, Maxim Reshetnikov, disse, por exemplo, que as trocas comerciais entre os dois países aumentaram em cerca de 30% na primeira metade de 2023.
Para a grande maioria dos analistas, à China interessa-lhe, sobretudo, uma aliança que conteste o mundo unipolar dominado pelos Estados Unidos e que apresente Moscovo e Pequim como parceiros estratégicos e fundamentais para uma reorganização revisionista das relações internacionais.
“A invasão russa da Ucrânia apenas contribuiu para acelerar o confronto entre as grandes potências”, explicava ao PÚBLICO, numa entrevista recente, Alexander Korolev, professor de Política e de Relações Internacionais na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Nova Gales do Sul, em Sydney, na Austrália.
“Agora é muito mais difícil para a China manter-se na sombra e não dar nas vistas. Porque existe, obviamente, uma pressão para que condene a Rússia pela invasão. Mas a China não o pode fazer, porque precisa da Rússia para o seu confronto com os EUA no futuro”, concluía o académico e especialista em relações sino-russas.