Alemanha proíbe grupo neonazi Hammerskins Deutschland e faz buscas em casas de líderes
Ministra do Interior Nancy Faeser repete que a extrema-direita é a maior ameaça à democracia alemã.
As autoridades alemãs proibiram a organização neonazi Hammerskins Deutschland e levaram a cabo de seguida uma operação policial coordenada em dez estados federados, também na capital, Berlim, contra a organização, em que foram encontradas armas e objectos que mostram reverência pelo III Reich, segundo vários media alemães.
A ministra do Interior, Nancy Faeser, declarou que os Hammerskins Deutschland são contra a ordem constitucional do país. “A proibição dos Hammerskins Deutschland é um duro revés para os grupos organizados de extrema-direita”, declarou a ministra na rede social X (antigo Twitter). “Com esta proibição, estamos a pôr fim, na Alemanha, às actividades desumanas de uma organização neonazi activa internacionalmente.”
A ministra relembrou ainda o que tem sido repetido nos relatórios da secreta interna do país: “a extrema-direita continua a maior ameaça à nossa democracia.” Faeser tinha-se já destacado pelo combate à extrema-direita no governo do estado federado do Hesse antes de integrar o Governo de Olaf Scholz, que tomou posse em Dezembro de 2021.
Os Hammerskins Deutschland são uma organização com 13 subdivisões na Alemanha, e uma outra organização ligada a este movimento chamada Crew 38 foi também proibida. Têm raízes nos Estados Unidos, onde a Hammerskins Nation foi fundada nos anos 1988, começando actividades na Alemanha nos anos 1990, segundo um comunicado do Ministério do Interior.
A organização alemã tinha neste momento cerca de 130 membros activos, ainda segundo o comunicado. A operação que decorreu agora foi preparada durante mais de um ano, e teve cooperação de responsáveis americanos.
O jornalista de investigação da emissora pública NDR Julian Felmann comentava que os Hammerskins Deutschland eram uma organização sobretudo de bastidores, conhecidos pela organização de concertos em que distribuíam T-shirts e merchandise com mensagens neonazis e anti-semitas, com que chegavam também a pessoas que não pertencem à organização. (Uma organização que luta contra o extremismo fez aliás uma das suas acções mais famosas, a "T-shirt de Tróia", num destes festivais: as T-shirts pareciam ter palavras de ordem de extrema-direita, mas na lavagem esta saía e aparecia uma mensagem sobre como sair deste tipo de organizações.)
Foram feitas buscas nas casas de 28 membros do grupo, um deles foi Sven Krüger, que ganhou fama a nível nacional, e que passou tempo como deputado municipal pelo partido de extrema-direita NPD e também na prisão; já tinha sido preso na sequência de outra operação em que foram descobertas armas e munições em sua casa. Não foi claro se houve detenções na sequência da operação desta terça-feira.
O estado de Krüger, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, é conhecido por ser uma espécie de “laboratório” para a extrema-direita, e o extremista vive na minúscula localidade de Jamel, conhecida por ter um casal de activistas pró-democracia a viver a poucos metros de uma dúzia de famílias neonazis. Houve ainda acções nos estados federados da Baviera, Baden-Württemberg, Berlim, Brandeburgo, Hesse, Renânia do Norte-Vestefália, Renânia-Palatinado, Turíngia e Sarre.
O Ministério do Interior informou ainda que esta é a 20ª organização de extrema-direita a ser proibida na Alemanha, cita a emissora Deutsche Welle (DW).
No plano político, o partido nacionalista e xenófobo Alternativa pela Alemanha (AfD), que desvalorizou os crimes alemães na II Guerra Mundial quebrando um tabu político no país, está em segundo lugar nas sondagens mais recentes. Num inquérito desta terça-feira do instituto Forsa, a AfD aparece com 22%, atrás do principal partido de oposição, a União Democrata-Cristã (CDU) com 27% das intenções de voto. Os partidos da coligação estão mais abaixo: o Partido Social-Democrata (SPD) do chanceler Scholz 17%, os Verdes com 14% e o Partido Liberal Democrata (FDP) com 6%.