Satélite mostra enorme cortina de fumo dos incêndios do Canadá

As marcas das emissões sem precedentes dos incêndios florestais canadianos de 2023 continuam a pairar no céu. Após as chamas que varreram várias zonas do país no Verão, há ainda fogos activos.

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Imagem recortada da fotografia de satélite do Copérnico que destaca as emissões sem precedentes causadas pelos incêndios florestais no Canadá União Europeia, Copernicus Sentinel-3 imagery

"A época dos incêndios florestais está longe de ter terminado no Canadá, com graves incêndios florestais ainda activos em várias províncias, como Alberta e Colúmbia Britânica", refere o comunicado do sistema europeu de monitorização do clima, Copérnico. Numa imagem A imagem de satélite captada em 16 de Setembro de 2023, mostra de forma evidente a "enorme nuvem de fumo emitida pelos incêndios em curso em Alberta, envolvendo os céus do Círculo Polar Árctico".

Desde Maio de 2023, 17,3 milhões de hectares de terra (uma área maior do que a Áustria e a Hungria) foram queimados por incêndios florestais, contabilizam os cientistas sublinhando a catástrofe de dimensões inéditas nesta região do planeta. "De acordo com o Serviço de Monitorização da Atmosfera do Copernicus (CAMS), as emissões de incêndios florestais entre 1 de Maio e 10 de Setembro são notoriamente superiores aos níveis médios."

As análises do CAMS, baseadas no Sistema Global de Assimilação de Incêndios (GFAS), acrescentam os cientistas, demonstram que "as emissões de carbono foram significativamente mais elevadas do que a média de 20 anos".

Num documento mais detalhado, recorda-se que "a actividade dos incêndios florestais que começou no Hemisfério Norte em Maio aumentou de gravidade durante os meses de Verão. Os incêndios florestais no Canadá arderam durante mais de quatro meses, gerando em alguns locais algumas das emissões mais elevadas de incêndios florestais de que há registo no país".

Mas o Canadá não foi a única vítima. "Entretanto, na Europa, o maior incêndio florestal jamais registado na União Europeia (UE) afectou o Norte da Grécia." O trabalho de monitorização do CAMS ao longo dos meses de Verão, destaca os incêndios florestais que devastaram o norte e o centro da Grécia na terceira semana de Agosto.

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Análise da profundidade do aerossol na matéria orgânica, média diária de 1 de Maio a 10 de Setembro CAMS

E na Europa...

"Os incêndios de Agosto seguiram-se a um mês de Julho em que a Grécia registou a pior actividade de incêndios florestais dos últimos 20 anos", acrescentam, concluindo que as emissões de carbono dos incêndios florestais de Julho na Grécia foram as mais elevadas de que há registo no CAMS e as emissões combinadas de carbono dos incêndios florestais de Julho e Agosto foram as terceiras mais elevadas de que há registo, depois de 2007 e 2021.

Espanha e Portugal, também merecem uma referência especial. "Na sequência de uma vaga de calor na Península Ibérica, o sudoeste de Portugal registou alguns incêndios de grandes dimensões na primeira quinzena de Agosto", lembram, sublinhando que também aqui a actividade extrema dos incêndios florestais registou valores que são "significativamente mais elevados do que a média de 20 anos".

"Os incêndios florestais geraram espessas plumas de fumo, que foram maioritariamente transportadas para o Atlântico nos dias 6 e 7 de Agosto", confirmam. Olhando para outros locais o comunicado do Copérnico destaca um grande incêndio florestal na ilha espanhola de Tenerife que fez com que as emissões de carbono de incêndios florestais para as Ilhas Canárias em Agosto fossem "as mais elevadas desde 2003".

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Emissões de carbono de incêndios florestais na Grécia em Julho e Agosto (esquerda) e emissões totais acumuladas de carbono de incêndios florestais na Grécia (direita) CAMS

Apesar de reconhecerem que a actividade dos incêndios florestais é sazonal, com o Hemisfério Norte a registar tipicamente incêndios de Maio a Outubro, atingindo o seu pico em Julho e Agosto, os cientistas do Copérnico admitem que em 2023 se registou uma "actividade extrema de incêndios florestais em vários locais do Hemisfério Norte nos meses de Verão".

Ainda sobre o Canadá, o programa europeu regista que a 12 de Setembro "havia 145 incêndios activos em Yukon, que viu quase 224 000 hectares do seu território devastados por incêndios este ano, enquanto em 13 de Setembro havia 118 incêndios activos nos Territórios do Noroeste, contribuindo para uma área total ardida nos territórios este ano de mais de 4 milhões de hectares".

Sobre a viagem das nuvens de fumo na atmosfera, os especialistas lembram que em a situação intensificou-se durante os meses de Verão, "com transportes significativos de fumo a longa distância dos incêndios florestais canadianos para a Europa em Junho" e que em Julho "os incêndios florestais em grande escala continuaram nas províncias ocidentais e orientais, com o total nacional estimado de emissões de carbono bem acima de qualquer total anual anterior". Esta dinâmica, constatam, manteve-se em Agosto e Setembro, quando as emissões de carbono dos incêndios florestais no Canadá continuaram a aumentar, "atingindo mais de 405 megatoneladas a 10 de Setembro".

No final de Agosto e início de Setembro, iniciou-se uma nova viagem de fumo de longo alcance dos incêndios florestais canadianos através do Atlântico, "o que resultou em céus enevoados nas Ilhas Britânicas e no noroeste, centro e sul da Europa".

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A nuvem de fumo no Canadá a 16 de Setembro União Europeia, Copernicus Sentinel-3 imagery

Maui e Rússia

Neste balanço dramático sobre os fogos florestais, os peritos do Copérnico mencionam ainda que, em Agosto, a ilha havaiana de Maui sofreu incêndios florestais extremos, que resultaram na morte de pelo menos 115 pessoas. "A escala e a intensidade dos incêndios florestais no Havai aumentaram devido à passagem do furacão Dora, com ventos fortes a atiçar as chamas e a fazer com que o incêndio se propagasse mais rapidamente", explica o comunicado adiantando que o furacão "pode também ter contribuído para a deflagração do incêndio, uma vez que os cabos eléctricos derrubados pelos ventos fortes terão provocado alguns dos incêndios".

Por fim, os dados do CAMS relativos ao período entre Maio e Agosto mostram que "a intensidade dos incêndios florestais na Rússia como um todo flutuou em comparação com a média de 20 anos". Apesar dos incêndios florestais nos oblasts de Omsk e Novosibirsk e da actividade mais intensa que ocorreu no Distrito Federal do Extremo Oriente, "as emissões totais de carbono provenientes de incêndios florestais na Rússia desde o início do ano foram inferiores à média de 20 anos".

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