Austrália anuncia chegada do El Niño (e enfrenta incêndios e onda de calor)

Austrália declarou que o padrão climático El Niño já está em curso, mais de três meses após os Estados Unidos. Sudeste do país enfrenta incêndios e intensa onda de calor em plena Primavera.

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O Sudeste da Austrália está a enfrentar uma onda de calor incomum para a Primavera EPA/STEVE MARKHAM
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Corpo de Bombeiros de Nova Gales do Sul, na Austrália, utilizam estratégias de redução de risco Reuters/CORDELIA HSU

A Austrália anunciou esta terça-feira que o padrão climático El Niño já está em curso, enquanto enfrenta uma intensa onda de calor em plena Primavera. A subida dos termómetros aumentou os riscos de incêndios florestais e levou as autoridades a emitir uma proibição total em Sydney de actividades que envolvam fogo.

A Austrália, que demorou a declarar oficialmente a chegada do El Niño, prepara-se agora para uma Primavera e um Verão quentes e secos no hemisfério sul em 2023, após três anos de fortes chuvas e inundações frequentes.

O tempo seco previsto poderá afectar a produção de trigo na Austrália, um dos maiores exportadores mundiais. A colheita de Inverno deste cereal deverá começar já em Novembro.

Já estamos a ver condições extremas em algumas partes do continente, particularmente na duração do calor. Tivemos um longo período de clima quente e seco para começar a Primavera, afirmou aos jornalistas Karl Braganza, meteorologista do Gabinete de Meteorologia da Austrália.

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Multidão tolera o sol escaldante para assistir ao final de uma maratona junto à Ópera de Sidney EPA/STEVE MARKHAM

As duas últimas temporadas de incêndios na Austrália foram tranquilas em comparação aos incêndios florestais do chamado Verão Negro de 2019-2020, que destruíram uma área do tamanho da Turquia e mataram 33 pessoas.

O El Niño chega mais tarde à Austrália?

O Centro de Previsão Climática da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOOA, na sigla em inglês) já havia declarado oficialmente o regresso do El Niño em Junho.

Já o Gabinete de Meteorologia da Austrália utiliza métricas diferentes do NOOA, recorrendo a critérios considerados ligeiramente mais rigorosos, para declarar um El Niño. Este padrão climático tende a estar associado a eventos climáticos extremos, desde incêndios florestais a ciclones e secas.

A declaração australiana de um El Niño ocorre agora, em Setembro, no contexto de uma onda de calor incomum para uma Primavera nalgumas partes do país.

Foram atribuídas classificações elevadas de perigo de incêndio a várias regiões da Austrália. As autoridades alertaram que os ventos fortes poderiam provocar incêndios florestais e instaram os residentes a minimizar os riscos de fogos nas suas casas, evitando fogueiras e actividades que impliquem foguear.

O trauma do Verão Negro

Para aumentar a tensão, as chuvas invulgarmente fortes desde o Verão Negro estimularam o crescimento da vegetação. Esta folhagem oferece um combustível adicional para arder num sistema climático El Niño.

“Essas seriam condições perfeitas para incêndios florestais”, disse Jason Evans, professor do Centro de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália.

“Depois de perdemos as condições húmidas que propiciaram esta paisagem, pode ser que acabemos com uma paisagem muito seca, mas com muito combustível porque tivemos aqui uma vegetação em franco crescimento, acrescentou o cientista australiano.

Os australianos assistiram com pesar os incêndios florestais que devastaram este ano a Europa e a América do Norte. Agora, têm a sensação de que é novamente a vez da Austrália, com o aquecimento global a acelerar e a exagerar as mudanças nos padrões climáticos.

Dos 10 anos mais quentes já registados na Austrália, oito ocorreram desde 2010, dizem os meteorologistas.

Queimadas para reduzir risco

O curto período de tempo desde a última temporada catastrófica de incêndios florestais contribuiu para atrasos nas queimadas de redução de risco. Esta estratégia consiste na queima preventiva de áreas seleccionadas para limitar a propagação de incêndios florestais. Contudo, é preciso operacionais para colocá-la em prática. E alguns bombeiros voluntários pediram demissão devido a traumas.

A persistente chuva forte também retardou a capacidade dos bombeiros de realizar queimadas controladas. Com dezenas de incêndios florestais já em curso, o serviço voluntário disse ter feito apenas 24% da redução de risco planeada.

“Acabamos de ter chuva após chuva após chuva, então estamos bastante atrasados”, disse o comissário do Corpo de Bombeiros Rural, Bob Rogers, à Reuters.

As fortes chuvas também significam que, apesar do regresso do calor seco, as condições de início são diferentes das dos incêndios de 2019 e 2020, que se seguiram a uma seca prolongada, disse Rogers. Embora rico em combustível, pelo menos não está tão seco como no Verão Negro.

Ainda assim, “estamos a levar isso muito a sério”, acrescentou. “Embora possa não ser tão mau, não é preciso que uma temporada de incêndios seja tão ruim assim para destruir casas e, de facto, ceifar vidas, conclui Bob Rogers.

Frente fria à vista

Mais de 500 bombeiros e equipas de emergência tentavam conter 61 incêndios em todo o estado de Nova Gales do Sul, na manhã desta terça-feira, com 13 fogos ainda não controlados, disseram as autoridades.

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Bombeiros australianos preparam-se para o risco de incêndio “mais significativo” desde o Verão Negro REUTERS/CORDELIA HSU

Mais de 20 escolas em Nova Gales do Sul, a maioria no sul do estado, foram fechadas. As classificações de perigo de incêndio na costa sul foram elevadas para “catastrófico” devido a ventos mais fortes do que o esperado.

“É o maior risco que enfrentamos desde a temporada de incêndios de 2019-20”, disse Rob Rogers.

Sydney deve registar cinco temperaturas máximas diurnas consecutivas de mais de 30 graus Celsius em Setembro, o que constitui um recorde, de acordo com o Gabinete de Meteorologia da Austrália.

As temperaturas podem chegar a 34 graus Celsius em Sydney esta terça-feira, um pouco abaixo do recorde de Setembro de 34,6 graus Celsius em 1965. Mas uma frente fria prevista a partir de quinta-feira deverá trazer algum alívio ao calor, empurrando os termómetros em direcção aos 20 graus Celsius.

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