Balsemão: “O salto tecnológico e a revolução digital obrigam-nos a repensar a democracia”

Por motivos de saúde, o social-democrata não pôde estar fisicamente presente na primeira sessão de debates da Associação Participar+, que teve como tema a “Fragilidade das instituições democráticas”.

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Francisco Pinto Balsemão enviou reflexão à primeira sessão de debates da Associação Participar+ Rui Gaudencio
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O antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão considera que a tecnologia e a revolução digital obrigam a repensar a democracia em que actualmente vivemos. Por motivos de saúde, o fundador do PSD não pôde estar fisicamente presente no debate da Associação Participar+ sobre a “Fragilidade das instituições democráticas em Portugal”, mas nem isso o impediu de criticar os políticos, que “parecem não se aperceber dos grandes desafios que enfrentam”.

Estava tudo preparado para que o presidente do grupo Impresa e primeiro-ministro entre 1981 e 1983, Francisco Pinto Balsemão, abrisse a primeira sessão de debates da Associação Participar+, mas a saúde não o permitiu. Em alternativa, subiu ao palco a presidente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e antiga bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins, que leu as considerações do social-democrata sobre a “Fragilidade das instituições democráticas em Portugal”.

“Constata-se uma falta de crença na representatividade do sistema [político], incluindo nos partidos e nas próprias eleições”, começou por apontar. E continuou: “Mas, até agora, não surge alternativa. O salto tecnológico e a revolução digital obrigam-nos a repensar a democracia.”

O social-democrata quis trazer para a discussão a existência e surgimento de diferentes “modalidades de democracia”. Em causa estão os “single interest groups”, que “recorrem, através da Internet e outras vias, a direitos constitucionais como a petição pública ou a convocação de manifestações”, explicou. E, depois de alcançarem os seus objectivos, “desfazem-se”.

Um ponto positivo destes grupos é que “ultrapassam facilmente o colete-de-forças das fronteiras e se projectam a uma escala mais global”, aponta Balsemão. Mas “reforçarão a democracia, atraindo os cidadãos indiferentes? Substituirão o sistema até aqui em vigor?”, questionou.

Apesar de não saber responder às suas próprias perguntas, Balsemão tem uma certeza: é necessário adaptar a democracia que actualmente temos, para que seja possível “mantê-la viva e actuar no futuro”. A verdade, defende o social-democrata, é que os actuais “políticos eleitos democraticamente parecem não se aperceber dos grandes desafios que enfrentam, num mundo onde, em terra, no mar e no ar, a sustentabilidade do planeta continua a ser posta em causa”.

“Embora a abstenção seja um direito, não é pela ausência que se consegue a mudança”, pelo que é necessário votar, constatou o social-democrata. É necessário que “as decisões que podem salvar e dinamizar a sociedade sejam tomadas a tempo e, sobretudo, executadas sem atrasos nem desvios”. Um dos exemplos são as “eternas e sucessivamente adiadas revisões da lei eleitoral portuguesa”, criticou.

"Os jovens têm ideias, mas falta planeamento e execução"

As palavras escritas por Balsemão e lidas por Ana Paula Martins foram dirigidas a um auditório repleto de mulheres e homens das áreas de ciência, tecnologia, demografia e política, como por exemplo a antiga ministra social-democrata Manuela Ferreira Leite.

A social-democrata Manuela Ferreira Leite esteve entre os participantes MATILDE FIESCHI?
Pedro Fernandes e MATILDE FIESCHI?
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A social-democrata Manuela Ferreira Leite esteve entre os participantes MATILDE FIESCHI?

Entre os participantes, Pedro Fernandes e Maria Rita Fonseca chamavam à atenção por serem os mais novos da plateia. Com apenas 22 anos, os jovens criticam a burocracia existente em Portugal e a dificuldade associada à implementação de qualquer ideia.

“É tudo tão moroso. Os jovens têm ideias, sabemos as soluções e o que é preciso fazer, mas falta planeamento e execução”, critica Pedro Fernandes. Por isso mesmo “queremos entender como as decisões são tomadas e perceber as perspectivas de soluções”, acrescenta Maria Rita Fonseca.

Os jovens concordam com a visão de Pinto Balsemão: há mesmo “uma descredibilização da política e um desinteresse ao nível do associativismo”, diz Pedro Fernandes. “Mesmo que uma pessoa tenha uma visão, é preciso muita persistência para que, num ambiente que não aceita essa mudança, se consiga aplicar”, conclui.

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