Quantas vezes um homem pensa no Império Romano? Muitas, aparentemente

Uma tendência no TikTok mostra mulheres a perguntarem a homens se pensam no Império Romano. Alguns dizem pensar mais do que uma vez por dia. Porquê?

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Há homens que dizem pensar no Império Romano mais do que uma vez por dia Clemens van Lay/Unsplash
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Passaram-se quase dois mil anos desde que o Império Romano atingiu o pico histórico do seu poder. Mas muitos homens ainda o contemplam — bastante.

Uma nova tendência nas redes sociais mostra mulheres a perguntarem aos homens que fazem parte das suas vidas com que frequência pensam na Roma Antiga. E revela que este é um tema que passa pela cabeça de muitos homens semanalmente. Até diariamente. Ou — para surpresa e confusão de quem lhes pergunta — mais vezes ainda.

“Três vezes por dia”, respondeu o noivo de uma mulher num vídeo publicado no TikTok. “Há muito sobre o que pensar”, explicou, suscitando um olhar admirado na noiva, atrás da câmara.

“Eles construíram toda uma sociedade dominante a nível global”, exclama outro homem quando lhe pediram que justificasse o porquê da contemplação.

“Na verdade, estava mesmo agora a ter uma conversa sobre os aquedutos deles, e sobre como usavam cimento para fortificar… como é que sabias?”, respondeu outra pessoa que disse pensar no Império Romano “pelo menos uma vez por dia”.

Mas porquê? Sem dúvida que o Império Romano alcançou um domínio que se estendeu por todo o Mediterrâneo e além. Foi uma incubadora de trabalhos artísticos e engenharia que continuam a prosperar. E funcionava com um sistema político que ainda constitui a base de muitos outros. (Pelo menos, é isso que este repórter pensa, pelo menos uma vez a cada quinze dias.)

Mas porque é que parece haver uma divisão de género relativa a quem pensa ou não na Roma Antiga?

De acordo com historiadores, uma explicação para isso pode prender-se com o facto de as sociedades ocidentais terem historicamente enfatizado os aspectos da história romana que estão associados ao imaginário da masculinidade.

A primeira coisa que nos vem à cabeça é “a imagem da legião romana, da águia imperial e esse tipo de aspectos militares — bem como os gladiadores, que têm uma longa ligação à masculinidade e poder”, diz Hannah Cornwell, historiadora do mundo antigo, na Universidade Britânica de Birmingham.

Desde o século XIX, refere, os historiadores tendem a olhar para Roma Antiga pelo prisma político e militar, em parte como resultado da sua dependência de recursos masculinos.“Isso moldou a cultura popular”, explica.

A quantidade de vídeos do TikTok sobre o tema parecem ter sido impulsionados pelo sueco Artur Hulu, um influencer que faz reconstituições de História, 32 anos, que ganhou um grande número de seguidores.

Conhecido online como Gaius Flavius, publica vídeos onde se veste de legionário romano e faz sketches de comédia disfarçado de gladiador. No Instagram, escreveu: “Senhoras, muitas de vocês não têm noção de quantas vezes os homens pensam acerca do Império Romano… vão ficar surpreendidas com as respostas!”

Em entrevista, Hulu disse que colocou a questão depois de se ter apercebido da disparidade de interesse na história do Império Romano entre homens e mulheres, e depois de ver outros criadores de conteúdo a discutir assuntos semelhantes. As reconstituições de Hulu da sociedade romana, por exemplo, consistem em 16 personagens masculinas e duas femininas, diz. “É predominantemente masculino.”

Mas a disparidade de interesse neste tema recua centenas de anos, acredita Hulu. “Durante o Renascimento, os homens pensavam [no Império Romano]. Os pais fundadores [norte-americanos] também pensavam. E assim que tens alguma exposição ao Império Romano, seja pelas questões militares ou leis, começas a vê-lo em todo o lado”, aponta. “Não consigo lembrar-me de um dia em que não tenha pensado nele… fascina-me reflectir no quão diferente, mas também tão parecido o mundo actual é com o Império Romano.”

E “Gaius Flavius” não é o único. Um utilizador do Reddit, questionado pela esposa, disse pensar no Império Romano algumas vezes por semana.

“Muitas coisas nas nossas vidas de hoje foram influenciadas por ele”, explica, numa publicação. “A língua, a comida, a filosofia, arquitectura, guerra, entretenimento, desporto, mitologia, cultura… não me foco activamente no Império Romano, mas a ligação vem-me sempre à cabeça no dia-a-dia.”

Os historiadores insistem que Roma não é só “coisas de homem”, como alguns homens dizem em vídeos.

“Roma Antiga foi, claro, patriarcal e violenta”, escreve em email Lewis Webb, historiador da Roma Antiga na Universidade de Oxford. “Mas também era um lugar diverso: havia inúmeras formas de masculinidade, as mulheres podiam ter poder, existiam múltiplas expressões de género e identidades, bem como várias sexualidades.”

Cornwell também aponta que Sexto Vário Ávito Bassiano, ou Heliogábalo, o imperador romano entre 218 e 222, é frequentemente apresentado em alguns materiais com roupas tipicamente femininas.

“Mesmo quando se fala de imperadores, eles fizeram coisas estranhas em relação à concepção moderna do que o homem é”, aponta Cornwell. Também havia gladiadoras. “Os romanos tinham um sentido claro do que era masculino e feminino, mas dentro disso havia imensa flexibilidade. Da qual muitas vezes nos esquecemos”, refere.

Ela própria pensa, naturalmente, no Império Romano todos os dias, uma vez que é o seu campo de investigação. O seu companheiro disse-lhe recentemente que pensava “1,6 vezes por mês”. Então, qual é a quantidade saudável? “Por Deus”, ri. “Diria que depende no que estás a pensar.”


Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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