Encontro entre Putin e Xi ganha força com visita do chefe da diplomacia chinesa a Moscovo
Wang inicia visita de quatro dias à Rússia para conversar com o Kremlin sobre “interesses securitários estratégicos dos dois países”. Antes, ministro chinês reuniu com conselheiro de Biden em Malta.
Numa altura em que a grande maioria dos líderes políticos e diplomáticos de todo o mundo acorre a Nova Iorque para participar no arranque da 78.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na terça-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China e director do influente gabinete da Comissão Central dos Assuntos Externos do Partido Comunista Chinês, Wang Yi, inicia nesta segunda-feira uma visita de quatro dias à Federação Russa.
Em cima da mesa, explicou a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, estarão “discussões aprofundadas sobre tópicos importantes relacionados com os interesses securitários estratégicos dos dois países”, que, assumiu a representante do Kremlin, Maria Zakharova, incluem o conflito na Ucrânia e a “expansão das forças e infra-estruturas da NATO na região da Ásia-Pacífico”.
O governo chinês recusa condenar a Rússia pela invasão do território ucraniano, defende a legitimidade dos receios partilhados pelo Kremlin sobre o alargamento e as movimentações da NATO no continente europeu e tem intensificado a cooperação comercial, militar, energética e diplomática com o regime russo desde o início do conflito.
Durante a sua estadia em Moscovo, Wang vai encontrar-se com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, e com o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, entre outros representantes políticos de topo do país anfitrião.
Apesar de Mao Ning ter rotulado a visita do ministro como “rotineira”, inserida num processo normal de “consultas anuais” entre os dois Estados sobre questões de segurança, crescem as suspeitas de que o chefe da diplomacia chinesa leva na mala a versão mais actualizada do programa de uma cada vez mais provável visita de Vladimir Putin a Pequim, já no próximo mês.
Relação próxima
O Presidente russo não voltou a sair do país desde que o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de captura, em Março, por ser “alegadamente responsável pelo crime de guerra de deportação ilegal de população [crianças] e de transferência ilegal de população de áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa”, mas esse problema não se põe, uma vez que a China não assinou o Estatuto de Roma de 1998 que estabeleceu o tribunal.
A imprensa internacional acredita, por isso, que Putin será recebido por Xi Jinping na capital chinesa e que irá participar na terceira edição do Fórum da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative ou BRI, de acordo com a designação oficial chinesa), um evento de comemoração do décimo aniversário do lançamento do megaprojecto de investimento e de infra-estruturas chinês a nível global, agendado para Outubro.
A confirmar-se, será a primeira visita do chefe de Estado russo à China desde o início da invasão do território ucraniano e o segundo encontro deste ano entre os dois presidentes, já que Putin recebeu Xi em Moscovo em Março.
Além disso, será a segunda vez que Putin vai a Pequim em menos de dois anos, depois de ter visitado a cidade poucas semanas antes do avanço das suas tropas sobre a Ucrânia – um timing que, somado à “parceria sem limites” entre a China e a Rússia que os líderes anunciaram nessa ocasião, fez levantar suspeitas, junto dos governos ocidentais, de que o Presidente chinês terá sido alertado por Putin sobre os planos militares russos para a Ucrânia.
A viagem de Wang até Moscovo tem lugar pouco depois de um encontro entre o Presidente russo e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un – aliado próximo (e dependente) de Pequim em Vostochni (Rússia) –, no qual se falou de armamento e cooperação militar, e teve uma escala curiosa, em Malta, para uma reunião com Jake Sullivan, conselheiro da Administração Biden para a Segurança Nacional.
De acordo com os comunicados que Pequim e Washington divulgaram após o encontro, realizado no domingo, Wang e Sullivan travaram discussões “construtivas” sobre as relações bilaterais entre China e EUA, sobre a guerra na Ucrânia e sobre questões de “segurança regional”.