Petróleo ultrapassa 94 dólares com maior consumo da China
Agência Internacional de Energia alerta para escassez no quarto trimestre devido ao corte da Arábia Saudita e Rússia.
O anúncio do corte de produção de petróleo da Arábia Saudita e da Rússia, alinhado com os indicadores que apontam para a recuperação da economia chinesa depois do abrandamento relacionado com as medidas de combate à covid-19, está a dar força à expectativa de que o barril de petróleo possa atingir os 100 dólares este ano, quando se espera um novo recorde de procura a nível mundial.
O barril de Brent do mar do Norte, que é a referência usada na Europa e nas importações portuguesas, estava a negociar esta segunda-feira em Londres acima dos 94 dólares, enquanto a referência norte-americana, o WTI, valia cerca de 90,97 dólares.
No início deste mês, a Arábia Saudita, que lidera a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), anunciou o prolongamento do corte na produção até Dezembro e a Rússia juntou-se ao cartel numa tentativa de fazer subir preços e, em consequência, as receitas com que financia a guerra contra a Ucrânia.
No seu boletim de Agosto, a Agência Internacional de Energia (AIE) veio alertar para os efeitos destes cortes (que retirarão do mercado cerca de 1,3 milhões de barris/dia) no abastecimento global, indicando mesmo que poderão provocar “uma escassez significativa durante o quarto trimestre do ano”.
Este cenário pessimista tem como pano de fundo a reanimação da economia chinesa depois das políticas “covid zero”: no final da semana passada ficou a saber-se que, em Agosto, as vendas a retalho na China subiram ao ritmo mais elevado desde Maio. Aumentaram 4,6% em termos homólogos, acima dos 2,5% registados em Julho e dos 3% esperados pelos analistas.
Na mesma linha, a produção industrial chinesa registou o maior crescimento desde Abril, com uma variação homóloga de 4,5%, acima dos 3,9% esperados e dos 3,7% de Julho.
Se a procura mundial de petróleo já vinha a crescer para níveis recorde graças ao aumento das viagens aéreas e à utilização dos combustíveis fósseis para produção de electricidade, a AIE acredita agora que a procura global deverá aumentar em 2,2 milhões de barris por dia, para um total recorde de 102 milhões de barris diários, devendo a China representar “mais de 70% desse crescimento”. A Rússia deverá manter-se como um fornecedor de confiança de Pequim.
Em Julho, segundo os dados desta agência, as exportações russas mantiveram-se estáveis nos 7,3 milhões de barris diários e a China e a Índia representaram cerca de 80% das vendas.
A subida das cotações e os menores descontos nas vendas dos produtores russos ajudaram a aumentar as estimativas de receitas de Moscovo com o crude em cerca de 2,5 mil milhões de dólares, para 15,3 mil milhões, mas, ainda assim, cerca de quatro mil milhões de dólares abaixo dos níveis de 2022.
A produção global de petróleo, que em Julho recuou cerca de 910 mil barris diários, essencialmente devido à redução de extracção do crude saudita, deverá aumentar em 1,5 milhões de barris/dia, para um recorde de 101,5 milhões de barris diários, mas serão os produtores norte-americanos a liderar o crescimento, indica a AIE.
Isto enquanto nos Estados Unidos cresce a pressão para que a administração Biden ponha um travão a novos projectos de produção de petróleo e gás. No domingo, milhares de manifestantes desfilaram em Nova Iorque para marcar o início da cimeira do clima que se realiza anualmente naquela cidade e defender o fim da exploração de combustíveis fósseis.