Euforia e polémica na chegada de Cristiano Ronaldo a Teerão

Avançado do Al Nassr foi “perseguido” por uma multidão entre o aeroporto e o hotel. Privilégio concedido pelo Governo, com Internet livre, gera indignação um ano após a morte de Mahsa Amini.

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Cristiano Ronaldo teve recepção especial à chegada a Teerão EPA/FC PERSEPOLIS/HO
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Dois dias depois do primeiro aniversário da morte de Masha Amini - jovem iraniana alegadamente espancada pela polícia da moralidade por não usar correctamente o hijab - data que obrigou as autoridades da república islâmica iraniana a reforçarem as medidas de repressão para conter a mobilização e dispersar os protestos de movimentos e cidadãos contra o regime, o Al Nassr dos internacionais portugueses Cristiano Ronaldo e Otávio e do treinador Luís Castro aterrou em Teerão para disputar o primeiro jogo da Liga dos Campeões Asiática com o Persepolis FC.

A histeria de uma multidão, profusamente registada em vídeo, aquando da chegada da equipa de Cristiano Ronaldo, correu mundo, mostrando centenas de iranianos rendidos às estrelas do clube saudita, em especial ao avançado português. Uma exaltação com direito a perseguição movida a pé ao autocarro da equipa saudita, que os populares acompanharam até ao hotel, que tentaram "invadir".

Um cenário que contrastará com o que se viverá no Azadi Stadium, onde as bancadas estarão vazias na sequência das medidas impostas pela Confederação Asiática de Futebol (AFC) relacionadas com licenciamentos.

A visita do Al Nassr ficara já marcada pelo apelo do presidente do clube iraniano, Reza Darvish, no sentido de conceder à comitiva saudita um regime diferente do imposto pelo Governo aos cidadãos do país no que diz respeito ao acesso à Internet.

Um acesso limitado, controlado e escrutinado pelas autoridades e que os futebolistas do Al Nassr poderiam “fintar” com um cartão SIM exclusivo fornecido pela Irancell para poderem aceder livremente a todos os sites e redes sociais (bloqueados para os iranianos) enquanto permanecerem no país.

As medidas impostas pelo Governo foram reforçadas na sequência da onda de choque e indignação provocada pela morte de Mahsa Amini, que esteve na origem de protestos que duraram meses, obrigando as autoridades a barrarem sites e plataformas internacionais que não poderiam controlar de outra forma.

Com a aproximação do dia 16 de Setembro – que levou, segundo o IranWire (citado pela Reuters), os serviços secretos a impedirem o pai de Mahsa Amini, detido em Saqez, de visitar a campa da filha – o panorama agravou-se, com ameaça de tumultos e novas restrições que levaram o observatório de Internet NetBlocks a reportar quebras de serviço justificadas pela ministra da Informação e Tecnologia das Comunicações, Issa Zarepour, com intervenções para melhoria do serviço.

O ministro do Turismo, Ezzatollah Zarghami, tentou relativizar a situação, justificando o tratamento especial concedido aos jogadores do Al Nassr. Sempre com Cristiano Ronaldo como exemplo, Zarghami justificou-se com a necessidade do jogador contactar a família, o que depende de um serviço local como as plataformas Bale e Eitaa, apoiadas pelo Governo.

Explicação insuficiente para convencer as vozes críticas, que não calam o sentimento de revolta pelo tratamento discriminatório concedido a celebridades estrangeiras por oposição ao recebido pelos iranianos, só comparável à humilhação imposta às mulheres barradas à porta dos estádios de futebol.

Resta saber que impacto terão estas medidas nos próprios jogadores, já que Ronaldo é apenas o primeiro caso, seguindo-se Neymar e Benzema, com as respectivas equipas (Al Hilal e Al Ittihad) a visitarem o Irão no início de Outubro.

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