Activistas climáticos pressionam líderes em véspera de reunião da ONU

No domingo, a Semana do Clima reuniu milhares de pessoas em Nova Iorque. Protestos precedem a Assembleia Geral da ONU e a Cimeira da Ambição Climática, que decorrem nesta semana na mesma cidade.

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Milhares de pessoas manifestaram-se neste domingo em Nova Iorque a pedir o fim dos combustíveis fósseis EPA/JUSTIN LANE

Milhares de manifestantes deram início à Semana do Clima neste domingo, enchendo as ruas de Midtown, em Nova Iorque, nos Estados Unidos (EUA), e pedindo ao Presidente norte-americano, Joe Biden, e aos líderes mundiais que acabem com o uso de combustíveis fósseis. Os protestos precedem a Assembleia Geral das Nações Unidas e a Cimeira da Ambição Climática, que decorrem nesta semana, também em Nova Iorque.

Com desfiles, concertos e tambores, alguns dos 15 mil participantes empunhavam cartazes com mensagens como “Fim aos combustíveis fósseis”, “Combustíveis fósseis matam”, “Declarar uma emergência climática”.

“Quando dizemos que queremos justiça climática, não estamos a falar apenas sobre a transição para painéis solares. Estamos a falar em não deixar ninguém para trás quando se fala em enfrentar as injustiças que acompanham a crise climática”, afirmou a activista ugandesa Vanessa Nakate durante a manifestação, citada pelo diário britânico The Guardian.

“Não deveríamos permitir que as empresas tivessem licença para destruir as nossas terras, destruir o ar que respiramos e envenenar a água”, acrescentou Nakate, diante dos manifestantes.

Um homem vestido como um boneco de neve derretido alertava para a subida do nível do mar. A mensagem era dirigida aos líderes mundiais, para que estes salvem o planeta do uso de petróleo e gás, cujo consumo está associado ao aquecimento global.

Mary Robinson, uma avó furiosa

“Estou aqui como representante dos mais velhos, mas também estou aqui como avó, uma avó furiosa, porque estamos a subsidiar o que nos está a destruir”, disse Mary Robinson, ex-Presidente da Irlanda e alta comissária das Nações Unidas para os direitos humanos, na conferência de imprensa da marcha.

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Manifestantes em Nova Iorque empunhavam cartazes com palavras de luta climática Eduardo Munoz/Reuters

“A nossa casa está a pegar fogo, como disse Greta Thunberg, então os mais velhos apoiam fortemente a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e o incentivo à energia limpa”, acrescentou Mary Robinson.

A actriz e activista climática Susan Sarandon esteve presente e, numa intervenção, congratulou os estudantes da Universidade de Nova Iorque pela notícia de que a universidade estava, após anos de pressão estudantil, a desinvestir nos combustíveis fósseis.

“Vocês dão-me esperança”, disse a actriz de Thelma & Louise (1991). “O que temos de fazer é assumir a responsabilidade e pressionar aqueles que estão no topo para finalmente darem um passo à frente”, acrescentou Susan Sarandon, citada pelo The Guardian.

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A congressista democrata norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez fez uma intervenção na marcha Eduardo Munoz/Reuters

Os protestos de domingo fizeram parte de um esforço internacional de uma semana do Climate Group, uma organização sem fins lucrativos cujo objectivo é impulsionar acções contra as mudanças climáticas, com mais de 500 protestos agendados em 53 países além dos EUA, incluindo Alemanha, Inglaterra, Coreia do Sul e Índia. Os organizadores esperam uma participação global de mais de um milhão de pessoas.

“A Semana do Clima de Nova Iorque tem tudo a ver com fazer isso”, escreveram os organizadores. “Ao celebrar a acção climática, desafiando-nos a fazer mais e explorando formas de aumentar a ambição, a Semana do Clima de Nova Iorque inspira, amplifica e examina os compromissos, as políticas e as acções daqueles que têm o poder de fazer a mudança acontecer.”

“Esta questão é umas das mais importantes do nosso tempo”, disse a congressista norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez, do Partido Democrata, citada pelo The Guardian. “Temos de ser demasiado grandes e demasiado radicais para sermos ignorados”, acrescentou. Ocasio-Cortez defende que a acção climática exige uma reestruturação da economia. “O que não vamos fazer é passar de barões do petróleo a barões da energia solar”, disse a democrata à multidão, que a recebeu com aplausos.

“Depois de um discurso empolgante da Alexandria Ocasio-Cortez, a multidão começou lentamente a dispersar, embora ninguém quisesse deixar para trás a doce e sorridente energia do dia. Ninguém, é claro, pensou que aquele dia tivesse resolvido alguma coisa; foi mais como um anúncio da retomada da luta. O que, claro, ocorre em contra-relógio”, escreveu o jornalista Bill McKibben na The Crucial Years (Os Anos Cruciais, em português), uma newsletter que o activista climático distribui a partir da plataforma Substack.

As manifestações ocorrem dois meses antes da Cimeira do Clima deste ano (COP28), onde mais de 80 países planeiam pressionar por meio de um acordo global para eliminar gradualmente o carvão, o petróleo e o gás.

Um relatório recente das Nações Unidas fez um alerta salientando a ideia de o mundo estar num caminho perigoso em termos climáticos. O documento sublinhava a necessidade de mais acções em todas as frentes, incluindo uma queda drástica no uso do carvão como fonte de energia até 2030.