Jihadistas moçambicanos terão executado 11 cristãos em Cabo Delgado

O ataque ocorreu na aldeia de Naquitenge, no distrito de Mocímboa da Praia e foi reivindicado pelo Daesh. Fontes locais confirmaram à Lusa o ataque, mas falam em 12 mortos e vários feridos.

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Militares na vila de Mocímboa da Praia, sede do município homónimo LUÍS FONSECA/Lusa

O grupo jihadista na província de Cabo Delgado terá executado 11 cristãos no distrito de Mocímboa da Praia, na província nortenha de Cabo Delgado, em Moçambique. A notícia foi avançada pelo Daesh (Estado Islâmico) que reivindicou o ataque através dos seus canais de propaganda.

Os Al-Shabab moçambicanos, que conduzem uma guerra religiosa na região desde Outubro de 2017, terão também atacado à bomba elementos das Forças Armadas moçambicanas.

Fontes locais contactadas pela Lusa confirmaram os ataques contra os civis, que terá acontecido na tarde de sexta-feira em Naquitengue, aldeia do interior do distrito, cuja capital fica junto à costa, mas não as bombas contra os soldados.

“Quando eles chegaram ali convocaram uma reunião. As pessoas da aldeia não sabiam que eles eram terroristas e, depois disso, começaram a separar os cristãos dos muçulmanos, com base nos nomes. Depois disso, abriram fogo contra os cristãos”, disse uma fonte que perdeu o sobrinho no ataque.

O Daesh reivindica 11 mortos, mas as fontes que falaram à Lusa referem 12 mortos e vários feridos.

“Eles praticamente ‘regaram’ as pessoas com tiros. Algumas pessoas ficaram feridas e fugiram para as matas. É um dos ataques mais cruéis de que já ouvimos falar”, avançou à Lusa outra fonte de Mocímboa da Praia que tem um familiar que conseguiu escapar de Naquitenge durante o ataque.

O distrito de Mocímboa da Praia foi aquele em que o grupo armado protagonizou o seu primeiro ataque, em Outubro de 2017, tendo sido, por muito tempo, descrito como a “base” dos rebeldes. Que chegaram a controlar a vila durante muitos meses até serem obrigados a sair pelas forças ruandesas que estão no terreno para ajudar os militares moçambicanos a combater o terrorismo.

Mocímboa da Praia está entre a capital da província de Cabo Delgado, Pemba, e a área de exploração de gás natural da TotalEnergies, em Afungi, projecto suspenso depois do ataque terrorista a Palma em Março de 2021.

O Ministério da Defesa de Moçambique ainda não se tinha pronunciado até este domingo sobre o ataque.

Esta incursão ocorre menos de um mês depois de o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique, Joaquim Rivas Mangrasse, ter anunciado a eliminação do líder do grupo jihadista, o moçambicano Bonomade Machude Omar, juntamente com outros elementos da liderança do grupo terrorista.

Bonomade Machude Omar, também conhecido como Abu Sulayfa Muhammad ou Ibn Omar, tinha sido colocado pelos Estados Unidos na sua lista de terroristas internacionais e era alvo de sanções por parte da União Europeia.

O conflito no norte de Moçambique provocou uma onda de refugiados que atingiu um milhão de pessoas, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e cerca de 4.000 mortes, segundo o Cabo Ligado, pertencente ao ACLED, projecto de registo de conflitos.​