Ali, naquele futebol, fica muito fácil para Dzeko
Para o avançado bósnio, os 37 anos não têm significado uma limitação no impacto no jogo, mas um aumento dos predicados que oferece. A estranha evolução de alguém que tomou conta do futebol turco.
“No Verão, recebi uma chamada do Fenerbahçe e soube que não ganhavam o título há nove anos. Isso é impensável. Por isso, quis fazer as pessoas felizes com os meus golos”. Esta foi a justificação de Edin Dzeko para ter decidido trocar o Inter pelo Fenerbahçe no Verão.
Dzeko tinha a sensação de que provocaria felicidade a quem não está habituado a tê-la e não se enganou – provavelmente, porque sabia que é jogador a mais para campeonato a menos.
Não que a Liga turca seja desdenhável – quase todas as equipas têm jogadores renomados –, mas talvez porque Dzeko ainda está, aos 37 anos, a um nível demasiado alto para estar fora do futebol europeu de primeira água.
Vamos a factos: em 2023/24, o avançado bósnio vai com seis golos e cinco assistências em oito jogos e está a levar o “Fener” ao colo até à liderança do campeonato – neste domingo voltou a marcar, ajudando no triunfo por 3-2 frente ao Antalyaspor.
Ninguém tem tanta participação em golos e Dzeko está a fazer o que quer da Liga turca – seguindo o exemplo de Mauro Icardi, outro que trocou um “tubarão” europeu pela Turquia e tem feito do campeonato um recreio.
Mas o caso de Dzeko é diferente. Icardi precisava de jogar, depois de três temporadas como figura secundária no PSG, enquanto Dzeko, em final de carreira, ainda era o titular do Inter.
O goleador bósnio surpreendeu a Europa na temporada passada ao nunca deixar de ser o avançado titular do Inter que chegou à final da Liga dos Campeões. Havia Lukaku, mas o foco era Dzeko.
Média já era elevada
Durante a carreira, Dzeko tem sido um jogador do mais fiável que existe na Europa. Em 16 temporadas desde que chegou à Alemanha, só em duas não ultrapassou a dezena de golos – a primeira, no Wolfsburgo, e em 2014, como suplente de Agüero no City.
A média de carreira, desde que chegou às “big 5”, está nos 19 golos por temporada, um valor tremendo para quem nunca saiu do futebol de topo para engordar estatísticas.
E parece que a influência do avançado até tem, curiosamente, vindo a crescer. Durante anos, Dzeko foi um finalizador puro. Não era um jogador muito participativo na manobra ofensiva, preocupando-se, sobretudo, em fugir às marcações e ler os locais e momentos certos para responder a assistências. E já não era coisa pouca.
Mas numa fase da carreira em que o menor fulgor físico sugeriria mais recato na hora de se entregar ao jogo, Dzeko parece estar cada vez melhor – pelo menos se por “melhor” se puder entender mais completo.
No Inter, parece ter-se tornado um avançado, mais do que o ponta-de-lança que sempre foi. É um jogador que sai mais da área do que nunca, quer em apoios frontais, onde é forte, quer mesmo em largura, sobretudo para esperar por apoios.
Quase o dobro dos toques na bola
Na Turquia, as cinco assistências em oito golos caminham a passos largos para serem recorde de carreira do jogador bósnio, cuja influência no futebol do Fenerbahçe tem sido tremenda, ao lado dos criativos Tadic e Under.
Uma rápida comparação entre aquilo que tem feito na Turquia e o que fazia e Itália permite perceber que Dzeko passou de 24,2 toques na bola para 41,5 – e no Inter não era propriamente um jogador ignorado em apoio frontais, por exemplo.
O mapa de calor das zonas de acção no Fenerbahçe também mostra uma variedade tremenda de locais que pisa – um gráfico que se aproxima mais daquele que regista pela selecção da Bósnia, onde é o foco do futebol da equipa.
A jogar no “Fener” como joga na Bósnia, Dzeko tem sido dominador. Outrora “pinheiro” de área, Dzeko é, agora, aos 37 anos, um jogador total. E ainda marca golos.