“Stevie Wonder, um génio?”: fundador da Rolling Stone afastado do Rock & Roll Hall of Fame

Em causa estão comentários depreciativos sobre a falta de eloquência e de profundidade das mulheres e dos artistas negros que fizeram a história da música popular norte-americana.

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Jan Wenner na inauguração do Rock and Roll Hall of Fame ANNEX NYC em 2008 Theo Wargo/Getty Images

Jann Wenner, um dos fundadores da revista Rolling Stone, foi afastado do conselho de administração do Rock & Roll Hall of Fame, o panteão norte-americano do rock, após comentários considerados sexistas e racistas, noticiou no sábado a revista Variety.

O afastamento de Wenner, de 77 anos, ocorre um dia depois de ter dado uma entrevista ao jornal The New York Times que suscitou várias críticas.

Questionado pela publicação sobre a razão pela qual nenhum artista negro ou mulher figura em The Masters ["Os Mestres"], livro que vai lançar a 26 de Setembro, Werner respondeu, a propósito das mulheres: "Nenhuma delas se exprimiu de forma suficientemente estruturada intelectualmente."

"Não é que não sejam génios criativos (...). Mas tenta ter uma conversa profunda com a Grace Slick ou a Janis Joplin (...). Sabes, a Joni [Mitchell] não era uma filósofa do rock'n'roll. Na minha opinião, ela não satisfazia esse critério. Nem na sua obra, nem nas outras entrevistas que deu. As pessoas que entrevistei eram filósofos do rock", acrescentou.

Para o livro foram entrevistados sete músicos: Bob Dylan, Mick Jagger, John Lennon, Bono, Jerry Garcia, Bruce Springsteen e Pete Townshend.

Quanto aos artistas negros, o co-fundador da Rolling Stone notou: "Sabe, Stevie Wonder, um génio, não é? Suponho que quando se utiliza um termo tão abrangente como 'mestres', a culpa é da palavra. Talvez Marvin Gaye ou Curtis Mayfield? Não se exprimiam àquele nível.".

"Olha para o que Pete Townshend escreveu, ou Jagger, ou qualquer um deles", continuou. "Escreveram coisas profundas sobre uma determinada geração, um determinado espírito e uma determinada atitude em relação ao rock'n'roll".

Na entrevista ao The New York Times, Wenner disse ainda saber que estes comentários iriam desagradar. "Por uma questão de relações públicas, talvez devesse ter incluído um artista negro e uma artista feminina mesmo que não estivessem à altura desse padrão histórico, apenas para evitar críticas."

Wenner foi, em 1967, um dos fundadores da Rolling Stone, tendo criado também a Fundação Rock & Roll Hall of Fame, a que presidiu até 2020.