Chama-se Pirâmide do Tempo e foi pensada para representar a passagem dos anos. Manfred Laber, autor da obra, pensou no monumento em 1993 para celebrar os 1200 anos da cidade de Wemding, no Sudeste da Alemanha, mas especificou que a pirâmide só ficaria terminada anos depois — para sermos exactos, em 3183.
Manfred, que morreu em 2018, deixou que fossem os habitantes da cidade os responsáveis por erguer lentamente a pirâmide que, por enquanto, não é mais do que quatro blocos de betão pousados numa base rectangular, escreve o The New York Times. No entanto, deixou indicações: deverá ter 120 blocos e 24 metros de altura, o material usado terá sempre de ser o betão, os blocos têm de ter uma dimensão específica e colocados a uma determinada distância. A par disto, pensou nos custos da obra pública a longo prazo e criou a fundação Wemding Time Pyramid para garantir financiamento depois de morrer.
Até agora, a obra tem sido respeitada. Cada peça é colocada a cada dez anos e, feitas as contas, faltam 116 blocos para a Pirâmide do Tempo ficar concluída. Actualmente, sempre que é anunciado o dia da instalação de um novo, há uma multidão que se reúne para ver e até quem viaje do estado norte-americano de São Francisco para assistir ao momento. Foi o que aconteceu no último sábado, dia 9 de Setembro.
Karl-Heinz John, que assistiu a todas as colocações de blocos desde 1993, recorda ao mesmo jornal as diferentes reacções que a pirâmide inicialmente provocou na população. "Houve pessoas que disseram que era óptimo e uma ideia realmente progressista'", afirmou. Outras pensaram que era uma loucura.
No entanto, Manfred não era o único artista a pensar numa obra quase interminável em pleno século XX. De 1982 a 1987, Joseph Beuys plantou milhares de carvalhos na cidade alemã de Kassel, projecto que ficou conhecido como Os Sete Mil Carvalhos. Na mesma altura, o norte-americano John Cage compôs uma peça musical que será tocada ao longo de 639 anos.
Michael Münker, gestor de uma empresa de dispositivos médicos nos Países Baixos, também esteve em Wemding no sábado, em parte, por fazer agora parte do grupo de artistas visionários. Decidiu mandar esculpir, todos os sábados, uma das palavras do poema As Cartas de Utrecht nos paralelos das ruas da cidade com o mesmo nome. Se tudo correr bem, fica pronto antes de a localidade ficar submersa.
Em relação à Pirâmide do Tempo, é difícil prever o que vai acontecer à obra daqui a 1160 anos. É possível que as gerações futuras optem por não seguir as indicações de Manfred, substituam o betão por outro material, pintem os blocos ou os transformem em esculturas. Ou então fica tudo na mesma.