BE recomenda incluir travessia entre Setúbal e Tróia no passe intermunicipal

Bloquistas defendem que os actuais preços da travessia fluvial do Sado promovem “injustas desigualdades territoriais” e exortam o Governo a agir “rapidamente”.

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O passe da travessia Setúbal-Troia custa actualmente 92,80 euros Vitor Cid
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O Bloco de Esquerda (BE) vai entregar na Assembleia da República uma recomendação para o Governo incluir a travessia do rio Sado, entre Setúbal e Tróia, no passe intermunicipal de Lisboa, desafiando, assim, o executivo PS a posicionar-se sobre o aumento dos preços do transporte fluvial daquela zona.

Caso seja adoptada, a medida permitirá que a viagem passe a estar integrada no passe metropolitano de 40 euros quando, actualmente, o passe da travessia, que está concessionada à Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) e à empresa Atlantic Ferries, detida pelo grupo Sonae (proprietário do PÚBLICO), chega aos 92,80 euros mensais - um aumento de 132% face a 2010. Já um bilhete normal de ida e volta custa 8,80 euros.

Ao PÚBLICO, Joana Mortágua, deputada no Parlamento e na Assembleia Municipal de Setúbal, defende que "o transporte público deve ter preço de transporte público e não de turismo abusivo", apontando que há "muitas pessoas que trabalham em Tróia e fazem o trajecto fora da época balnear" que estão a ser afectadas pelo custo da travessia.

Mas alerta também que o "preço do barco ajuda a promover" um processo de "elitização e privatização disfarçada das praias" daquela zona, devido à construção de "empreendimentos turísticos", que "sempre foram de usufruto popular". "Não se pode dizer que a praia é de acesso livre quando a população acaba por ser afastada por causa do custo da deslocação", defende.

A iniciativa dos bloquistas já está prevista desde Julho, mas o partido decidiu "aguardar para o debate ser feito" a nível local, tendo em conta que se criou uma "mobilização popular" para baixar os preços da ligação fluvial. Foi até criada uma petição pela distrital de Setúbal do Bloco para se incluir a travessia no passe Navegante que precisa de pouco mais de 500 assinaturas para ir à Assembleia da República.

Agora, o partido vai "marcar o início do ano parlamentar", que arranca a 15 de Setembro, com um projecto de resolução (sem força de lei) nesse sentido, instando as "forças políticas" que têm "responsabilidade" sobre a matéria a posicionar-se, isto é, o PS, no Parlamento, e o PCP, nas câmaras municipais da região.

Esta terça-feira, os autarcas de Setúbal, Alcácer do Sal e Grândola, da CDU, insurgiram-se contra os preços da travessia fluvial numa conferência de imprensa conjunta, dando a entender que defendem a extensão do passe Navegante. Também os deputados do PS eleitos pelo círculo de Setúbal questionaram o ministro do Ambiente na segunda-feira sobre se equaciona incluir a viagem Setúbal-Tróia no tarifário da Área Metropolitana de Lisboa. Resta saber o que pensa o Governo.

No projecto de resolução, a que o PÚBLICO teve acesso, o BE considera "incompreensível" que o percurso entre Setúbal e Tróia tenha ficado fora do programa de apoio à redução do tarifário dos transportes públicos (PART), defendendo que a sua exclusão "prejudica a população" e "promove injustas desigualdades territoriais". Por isso, pede ao Governo que se articule com as "entidades municipais e intermunicipais" e com a APSS para que a travessia seja "rapidamente incluída no PART e abrangida pelo passe intermunicipal utilizado na Área Metropolitana de Lisboa".

No dia 23 de Setembro, os bloquistas vão fazer uma travessia de Setúbal a Tróia no catamarã, que transporta apenas passageiros. Daí, seguem num périplo por Tróia em "zonas preservadas que vão ser ocupadas por megaempreendimentos com potencial risco de crimes ambientais", explica Joana Mortágua.

A ideia é denunciar os projectos de resorts de luxo que "a Câmara de Grândola permite" e que, "na prática, são privatizações", que vão resultar na "limitação das praias" e terão um "impacto ambiental brutal nos recursos hídricos" daquela zona, afectada pela "seca", acusa a deputada. A iniciativa contará com a presença da coordenadora do BE, Mariana Mortágua, e de colectivos ambientalistas.

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