O programa europeu de monitorização do clima, o Copérnico, recua ao passado dia 10 de Setembro, domingo, para lembrar que "após a sua passagem pela bacia do Mediterrâneo, a tempestade Daniel atingiu as cidades líbias de Derna e Bengasi, arrasando edifícios e apanhando os cidadãos de surpresa". Dois dias depois, constatam os cientistas, mais de oito mil pessoas foram dadas como desaparecidas e registavam-se já 5200 vítimas mortais confirmadas. As autoridades referem que o número de mortes deverá aumentar.
Há também outras imagens de satélite divulgadas esta quarta-feira pela Reuters que mostram claramente os estragos da tempestade e das águas turvas que inundaram o país. O alvo dessas imagens é especificamente a cidade portuária de Derna.
As duas imagens, obtidas pelo satélite Sentinela-2 do Copérnico em 2 e 12 de Setembro, mostram o deserto líbio antes e depois da tempestade Daniel. "A imagem da esquerda mostra o deserto no seu estado normal, enquanto a imagem da direita mostra as áreas inundadas em tons de verde claro e azul." Os dados do satélite permitem identificar e cartografar as áreas afectadas pelas inundações em alta definição, garantindo uma monitorização precisa e uma resposta atempada durante as inundações.
A passagem da tempestade Daniel pela Líbia foi devastadora. As chuvas fortes que atingiram a região leste do país do Norte de África nos últimos dias provocaram o colapso de duas barragens no rio Wadi Derna. Um enorme tsunami de água, lama e entulho desceu das montanhas e foi ganhando volume, atingindo violentamente a cidade portuária de Derna, que ficou parcialmente destruída e chegou a ter zonas em que o nível da água atingiu os três metros de altura. O Centro Nacional de Meteorologia líbio diz que a precipitação ultrapassou os 400 milímetros por hora, um valor que não se registava há quatro décadas. As autoridades apelaram na terça-feira à comunidade internacional para a entrega de ajuda humanitária "o mais rapidamente possível".
Os cientistas climáticos referem que estas tempestades se tornarão mais intensas com o agravamento das alterações climáticas — e que atingirão o Mediterrâneo de forma irregular, podendo causar mais danos nos países que não estão preparados para estas catástrofes.
“A situação política complexa e o historial de conflitos prolongados na Líbia representam desafios ao desenvolvimento de estratégias de comunicação de riscos e de avaliação de perigos, à coordenação de operações de salvamento e, potencialmente, à manutenção de infra-estruturas críticas como as barragens”, afirmou, citado pela Reuters, Leslie Mabon, professor de sistemas ambientais na Open University, no Reino Unido.
Antes da tempestade Daniel, o hidrólogo Abdelwanees A. R. Ashoor, da Universidade Omar Al-Mukhtar da Líbia, tinha avisado que as frequentes inundações do rio constituíam uma ameaça para Derna.
As fotografias e vídeos publicados em sites noticiosos internacionais e nas redes sociais mostram árvores derrubadas, veículos virados ao contrário, estradas destruídas e casas inundadas com a água acastanhada. “Há corpos por todo o lado: no mar, nos vales e debaixo dos edifícios”, descreveu Hichem Chkiouat, ministro líbio da Aviação Civil.