A acção humana está a pôr em risco os sistemas de suporte de vida da Terra
Num “exame de saúde” de todo o planeta publicado esta quarta-feira na revista Science Advances confirma-se que o planeta se encontra em estado crítico. Passámos seis de nove limites planetários.
Os sistemas de suporte de vida da Terra estão a enfrentar maiores riscos e incertezas do que nunca, com a maioria dos principais limites de segurança já ultrapassados em resultado das intervenções humanas em todo o planeta, de acordo com um estudo científico divulgado esta quarta-feira.
Num "exame de saúde" de todo o planeta publicado na revista Science Advances, uma equipa internacional de 29 especialistas concluiu que a Terra está agora "bem fora do espaço operacional seguro para a humanidade" devido à actividade humana. Passámos seis de nove limites planetários e há pontos sem retorno.
O estudo, que se baseia num relatório de 2015, afirma que o mundo já ultrapassou seis das nove "fronteiras planetárias" — os limites seguros para a vida humana em domínios como a integridade da biosfera, as alterações climáticas e a utilização e disponibilidade de água doce.
No total, oito das nove fronteiras estão sob maior pressão do que na avaliação de 2015, sendo que apenas a camada de ozono está a melhorar, o que aumenta o risco de mudanças dramáticas nas condições de vida da Terra.
"Não sabemos se podemos prosperar sob grandes e dramáticas alterações das nossas condições", disse a autora principal, Katherine Richardson, da Universidade de Copenhaga, numa conferência de imprensa.
Os autores afirmam que a ultrapassagem dos limites não representa um ponto de viragem em que a civilização humana se desmorona, mas pode provocar alterações irreversíveis nos sistemas de suporte da Terra.
"Podemos pensar na Terra como um corpo humano e nas fronteiras planetárias como a tensão arterial. Mais de 120/80 não indica a certeza de um ataque cardíaco, mas aumenta o risco", disse Richardson.
Passar dos limites de segurança
Os cientistas lançaram o alerta para o aumento da desflorestação, a produção excessiva de plantas para combustível e a proliferação de produtos fabricados pelo homem, como o plástico, os organismos geneticamente modificados e os produtos químicos sintéticos.
"Há centenas de milhares de produtos químicos produzidos pelo homem que são actualmente lançados no ambiente", afirmou Richardson. "Estamos constantemente a ser surpreendidos pelos efeitos destes impactos".
Dos nove limites avaliados, apenas a acidificação dos oceanos, a destruição da camada de ozono e a poluição atmosférica — principalmente partículas semelhantes a fuligem — foram considerados como estando ainda dentro dos limites de segurança.
A concentração atmosférica de dióxido de carbono, o principal gás com efeito de estufa, aumentou para cerca de 417 partes por milhão, significativamente acima do nível seguro de 350 ppm.
Estima-se também que a actual taxa de extinção de espécies seja, pelo menos, dezenas de vezes mais rápida do que a taxa média dos últimos dez milhões de anos, o que significa que o planeta já ultrapassou o limite de segurança para a diversidade genética.
Johan Rockström, co-autor do estudo e director do Instituto de Investigação do Impacto Climático de Potsdam, disse esperar que o mundo veja os resultados como um sinal de alerta.
"Na minha carreira, nunca tive tantas provas como hoje e nunca pude ser tão claro na nossa comunicação", afirmou Rockström, acrescentando que estava desiludido com o resultado do relatório Global Stocktake das Nações Unidas da semana passada, que servirá de base às conversações sobre o clima da COP28 no Dubai, no final deste ano.
"É um fracasso total... e é um grande risco... Continuamos a seguir um caminho que nos conduz inequivocamente à catástrofe".