Reino Unido quer proibir cães de raça bully XL por causa de ataques

O debate foi lançado no domingo pela secretária de Estado dos Assuntos Internos depois de um cão ter atacado três pessoas. Especialistas em comportamento canino afirmam que o problema são os donos.

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Reino Unido quer proibir bully XL para evitar ataques Yohan Cho/Unsplash
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O Governo britânico anunciou, esta semana, a intenção de proibir a posse dos cães american bully XL, raça que tem sido responsável por vários ataques no Reino Unido — alguns dos quais fatais — durante os últimos anos.

A ideia foi proposta no domingo por Suella Braverman, secretária de Estado dos Assuntos Internos do país, reforçando que a raça representa um “perigo evidente e fatal” para as pessoas, especialmente para as crianças. Para sustentar a afirmação, recordou um ataque a três pessoas, incluindo uma menina de 11 anos, que aconteceu durante o fim-de-semana passado na cidade de Birmingham, escreve o The Washington Post, acrescentando que o debate está a dividir cidadãos que questionam se são os cães ou os donos que devem ser responsabilizados pelos ataques.

Entretanto, destaca o mesmo jornal, esta terça-feira, o Governo do britânico recebeu uma petição com mais de 16 mil assinaturas que pretende a criminalização da venda, posse ou criação destes cães.

Os american bully XL, que surgiram depois de um cruzamento entre o pitbull terrier americano e o american staffordshire terrier, têm diferentes tamanhos. Os XL medem mais de 50 centímetros, podem pesar até 60 quilos e custar mais de mil euros. Tornaram-se populares no Reino Unido nos últimos anos por serem um símbolo de força e de de um estatuto social elevado para o dono.

Segundo o Guardian, dos dez ataques de cães de que há registos em 2022 neste país, mais de metade envolveu um american bully XL. Como resultado, na grande maioria dos casos, a polícia eutanasiou o cão.

No ataque mais recente, que aconteceu durante o fim-de-semana, o cão estava sem trela. As três vítimas foram levadas para o hospital, enquanto a polícia conversava com o dono. Num outro ataque que aconteceu em Maio, o dono do american bully foi obrigado a fazer 300 horas de serviço comunitário e o cão acabou eutanasiado pelas autoridades, escreve a BBC.

Para muitos especialistas em comportamento canino, o american bully XL é uma das raças mais perigosas que existem e não há treino capaz de controlar os níveis de reactividade. Por outro lado, outros especialistas defendem que nenhum cão é potencialmente perigoso ou agressivo e que o comportamento do animal está relacionado com a forma como são educados pelos tutores.

Adam Spivey, fundador de uma escola canina no Reino Unido, faz parte do segundo grupo. Em declarações do The Washington Post, afirmou que o problema está nos donos e não nos animais.

“Não há nada que impeça as pessoas de treinarem estes cães e deixarem-nos fora de controlo. Proibir raças não vai mudar nada. Se proibirem o bully XL vai haver outra raça e, depois dessa, mais outra. Se quisermos ver uma mudança real temos de atingir o outro lado da liderança, que são os irresponsáveis donos de cães”, reforçou.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, todos os anos existem milhões de ataques. No ano passado, a PSP e GNR registaram 1494 ataques em Portugal. Um deles provocou a morte a uma criança de um mês.

Se o american bully XL for incluído na lista dos cães proibidos no Reino Unido, da qual fazem parte o pitbull terrier, dogo argentino, fila brasileiro e tosa, ter um animal destes exigirá uma autorização do tribunal e avaliação comportamental do cão, que só poderá sair à rua com açaime, se tiver microchip e for castrado.

Se esta autorização não existir, o dono estará a praticar um crime que acarreta uma multa e pena de prisão até seis meses. A par disto, se o cão atacar ou matar alguém, o tutor pode ser condenado a cinco ou 14 anos de prisão, respectivamente.

E em Portugal?

Em Portugal, de acordo com dados de 2018, existem quase 19 mil cães de raças classificadas como perigosas e potencialmente perigosas. O decreto-lei n.º 312/2003 exige que os animais sejam identificados electronicamente e treinados por um profissional certificado, preferencialmente entre os seis meses e um ano.

A par disto, o dono tem de ter uma licença anual emitida pela junta de freguesia da área de residência, caso contrário incorre num crime. O animal tem de usar trela e açaime na rua.

Artigo corrigido às 19h20 do dia 16 de Setembro: em Portugal existem quase 19 mil cães de raças perigosas.

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