Maria Lopes: “Quero chegar com o Kempo aos Jogos Olímpicos”
É na simplicidade e no sorriso que Maria Lopes esconde a força que a torna um exemplo de determinação, mas ao mesmo tempo de ajuda ao próximo, que lhe conferem o título de “Herói Betano”.
Cinco vezes campeã do Mundo e seis vezes campeã nacional. Aos 19 anos, Maria Lopes soma título atrás de título. Uma carreira de sonho, que promete muito mais. Mas, mesmo quando despe o quimono, Maria alcança o maior dos prémios. O de ser um exemplo e uma heroína para aqueles que a rodeiam, porque o desejo de ajudar os outros revela nela esperança de que tudo correrá pelo melhor. Diariamente, é daí que que tira a lição para continuar a lutar pelos seus sonhos: um deles passa por ver o Kempo nos Jogos Olímpicos e carregar a bandeira portuguesa na competição.
Maria está no 3.º ano do curso de Medicina em Coimbra. Pelo meio, arranja tempo para treinar, dar treinos, participar no Parlamento Europeu Jovem e fazer voluntariado em Espinho, cidade onde cresceu e onde, aos 3 anos, começou a treinar artes marciais. “Tenho muitas memórias de infância a treinar na praia”, começa por recordar Maria, viajando até ao início desta história.
Na altura, aos 3 anos, explica que os pais a colocaram nas artes marciais para ter uma base que lhe permitisse defender-se quando fosse mais velha. Mas hoje, tira muito mais vantagens do Kempo. “Traz-me muita autoconfiança e autocontrolo. A maioria das artes marciais tenta implementá-lo desde o início e é importante para todas as áreas da vida. Também me ensinou a ser muito mais organizada”, explica.
Organização que lhe permite conciliar a carreira desportiva com o curso de Medicina. “Claro que não tenho tanto tempo como os meus amigos. Se vamos estudar, eles têm 5 ou 6 horas e eu tenho 2 ou 3. Tenho de as tornar mais efectivas”, diz Maria. E acrescenta: “Quero seguir medicina desportiva. Já tive uma lesão grave no joelho, aos 15 anos, e fui operada. Foi a fase mais complicada que tive até hoje. Não sabia como ia correr a recuperação e se ia conseguir voltar ao mesmo nível. Olhava para trás e via que já cheguei tão longe, já lutei tanto, não podia desistir, tinha de continuar. Por isso, só quero poder ajudar os outros como me ajudaram a mim, permitiu-me continuar o meu percurso desportivo.”
Percurso esse que já lhe vale muitos troféus. Desde o primeiro, quando tinha 6 anos, a um dos mais recentes: o mundial deste ano. “Foi o mais significativo para mim, pois foi a competição mais difícil que tive. Foi também aquela para a qual trabalhei mais do que para qualquer outra, e foi muito bom conseguir ganhar”, afirma Maria, que tem ainda um sonho. “Quero chegar o mais longe possível e espero que um dia conseguir estar nos Jogos Olímpicos, que a modalidade chegue lá. É o meu maior sonho neste momento”, diz a atleta de 19 anos que conta desde o ano passado com o apoio da Betano no percurso desportivo. “Ser um ‘Herói Betano’ é poder ajudar os outros e ser um exemplo para toda a gente, para que as pessoas acreditem mais nelas próprias”. Este é um programa de responsabilidade social que defende a paixão pelo desporto e apoia atletas amadores, que sem isso não conseguiriam prosseguir os seus sonhos desportivos.
Vertente espiritual do Kempo
Viajar até às raízes do Kempo é rumar a 520 AC. É por muitos considerada a primeira arte marcial ecléctica, mas além de técnicas de autodefesa, o Kempo possui ainda uma vertente espiritual que incentiva os praticantes a ajudar os outros. “Com 11 ou 12 anos comecei a ajudar lá na paróquia”, começa por explicar. “Servimos refeições às pessoas mais carenciadas, damos apoio a idosos, temos uma cozinha que prepara as refeições, e vamos servindo. Na altura do COVID íamos levar as refeições a casa das pessoas, tínhamos um ‘call center’ para ligar a pessoas mais idosas, para que não se sentissem tão sozinhas. Também fizemos uma recolha de bens para a Ucrânia, para uma missão na Guiné, onde estamos a montar uma escola”, enumera Maria.
E claro que há histórias que marcam. “Tudo na vida é tão incerto. Há pessoas que chegam lá e dizem que há dois meses tinham trabalho e uma casa e de repente perderam tudo, ou porque tiveram um acidente no trabalho e ficaram incapacitados de trabalhar, ou por doença. Essas histórias marcam-me muito”, confessa Maria.
E é assim que vai vivendo dia a dia, tentando ser um exemplo. “O que gostava que dissessem sobre mim no futuro? Gostava que dissessem que consegui ajudar os outros, e que consegui inspirar alguém a fazer o mesmo, a não desistir no caso de uma lesão, a continuar a lutar mesmo que esteja num momento mais difícil da carreira desportiva”.