O Outono dos festivais de cinema bate à porta
QueerLisboa e QueerPorto, BEAST, Punto y Raya, Doclisboa, Porto/Post/Doc: os festivais da rentrée começam a anunciar-se.
Com o MOTELX a dar início às festividades, começam já a alinhar-se as programações dos festivais que vão preencher parte significativa das próximas semanas cinematográficas. Logo a seguir ao Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, o São Jorge irá receber a 27.ª edição do Queer Lisboa, a decorrer entre 22 e 27 de Setembro. A inauguração estará a cargo de La Bête Dans la Jungle, versão livre da novela de Henry James A Fera na Selva por um dos mais interessantes jovens cineastas austríacos, Patric Chiha, e o encerramento foi entregue ao documentário de Agniia Galdanova Queendom, sobre a artista queer russa Gena Marvin.
Do programa do Queer Lisboa, entretanto já anunciado por completo, constarão igualmente sessões especiais do novo filme de Ira Sachs, Passages, um triângulo sexual com Ben Whishaw, Adèle Exarchopoulos e Franz Rogowski, e de Sisi & I, da alemã Frauke Finsterwalde, uma nova leitura da vida da imperatriz Sissi (interpretada por Sandra Hüller), bem como a já anunciada retrospectiva da cineasta e coreógrafa Yvonne Rainer, numa colaboração com a Cinemateca Portuguesa. Entre os oito títulos a concurso, destaca-se o muito interessante Regra 34, da brasileira Júlia Murat, filme vencedor do Leopardo de Ouro em Locarno 2022. Outros filmes a apontar são o documentário de Adrian Stölzle sobre o bailarino Benvindo Fonseca, Cidade Lúcida, e o brasileiro Intransitivo: Um Documentário sobre Narrativas Trans, dirigido por Luka Machado.
O festival gémeo Queer Porto, que se instalará no Batalha Centro de Cinema de 10 a 14 de Outubro, terá, a abrir, Tudo o Que Você Podia Ser, docuficção do brasileiro Ricardo Alves Jr. (colaborador regular de João Salaviza), e, a fechar, o documentário de Jeffrey Schwarz Commitment to Life, sobre a luta contra o VIH/sida na comunidade artística de Los Angeles. O Queer Porto apresentará também uma retrospectiva do cinema da no wave americana de 1979/1980, com especial destaque para filmes de Vivienne Dick, Beth B e Bette Gordon.
Entre um e outro, de 27 de Setembro a 1 de Outubro, decorrerá a sexta edição do BEAST, sobre a produção da Europa Central e de Leste, também com centro no Batalha e prolongamentos na Casa das Artes e nos cinemas Passos Manuel e Trindade. No Happy Ever After é o genérico desta edição que tem como foco a Eslovénia, com uma selecção de curtas-metragens de um dos nomes fortes da chamada Black Wave jugoslava, Karpo Godina, e um cineconcerto em que Ivo São Bento musicará o mudo In the Kingdom of the Goldhorn, primeira longa-metragem realizada naquele país.
Muita atenção, ainda, ao miniprograma sobre a “eminência parda” do novo cinema checoslovaco dos anos 1960, Ester Krumbachová (1923-1996), argumentista, cenógrafa, realizadora e consultora artística, que co-escreveu o lendário Daisies — Jovens e Atrevidas, de Véra Chytilová. O BEAST exibirá a sua única longa-metragem, The Murder of Mr. Devil (1970), e o documentário que Chytilová lhe dedicou em 2005, In Search of Ester.
Anuncia-se, entretanto, a chegada de um novo festival — entre 11 e 15 de Outubro, a Cinemateca Portuguesa e o Cinema Fernando Lopes, entre outros espaços lisboetas, acolherão a oitava edição do certame itinerante espanhol Punto y Raya, que pretende recuperar o espírito das vanguardas europeias dos anos 1920 e “promover a arte audiovisual no seu estado mais puro: forma, cor, movimento, som”. Criado em Espanha em 2007, este festival bienal passou já pela Islândia, pela Alemanha, pela Polónia e pela Áustria, e para lá da exibição de filmes experimentais contará igualmente com instalações e programas educativos.
Também já começou a ser divulgada a programação do 21.º Doclisboa, que decorre entre 19 e 29 de Outubro e que anunciara já retrospectivas dedicadas ao documentário norte-americano dos anos 1930 — O Documentário em Marcha — e à dupla finlandesa formada por Anastasia Lapsui e Markku Lehmuskallio. Os primeiros títulos da edição 2023 incluem Joan Baez: I Am Noise, documentário sobre a lendária cantora folk norte-americana, L’Amitié, do francês Alain Cavalier, e Menus Plaisirs – Les Troisgros, o mais recente documentário de Frederick Wiseman. Especial destaque vai para uma dupla homenagem a Luis Ospina, o cineasta colombiano que foi alvo de retrospectiva integral na edição de 2018, com a exibição do seu filme póstumo Mudos Testigos, terminado por Jerónimo Atehortúa Arteaga, e do documentário de Jorge de Carvalho Ospina Cali Colombia, nascido de um encontro com o cineasta que teve lugar em Lisboa. O Doclisboa irá igualmente exibir o documentário da actriz e cineasta Sofia Marques sobre Luís Miguel Cintra, Verdade ou Consequência, que terá antestreia em Serralves já esta terça-feira.
Finalmente, o Porto/Post/Doc, que atinge este ano o número redondo das dez edições, estreia-se no Batalha entre 17 e 25 de Novembro. O festival de “cinema do real” irá assestar este ano holofotes na produção da documentarista espanhola Maria Elorza e do docuficcionista italiano Alessandro Comodin (que terá direito a uma carta branca) e anunciou já o programa temático Onde Andam os Nossos Contadores de Histórias?, oito filmes de e sobre realizadores que usam o cinema como espaço de reflexão. Para além de três títulos da libanesa Jocelyne Saab, a selecção inclui o documentário de Thomas von Steinaecker sobre Werner Herzog, Radical Dreamer, o biopic de Paul Schrader sobre Mishima, ou Candy Mountain, assinado a meias em 1987 pelo argumentista Rudy Wurlitzer e pelo fotógrafo Robert Frank.