Em Agosto, o projecto de limpeza dos oceanos The Ocean Cleanup conseguiu recolher mais de 55 mil quilos de plástico da Grande Mancha de Lixo do Pacífico – incluindo um valor recorde de 11.353 quilos retirados de uma só vez.
A organização sem fins lucrativos diz ainda que, entre 2021 e 2023, foram removidos mais de 250 mil quilos de plástico da Grande Mancha de Lixo do Pacífico, uma “ilha” de plástico flutuante com milhões de quilómetros quadrados, pelo menos 17 vezes maior do que o tamanho de Portugal continental – e tem estado a crescer de ano para ano. Não se trata mesmo de uma ilha, mas sim de uma área de plástico acumulado em torno do giro do Pacífico Norte em que a concentração de plástico flutuante é bem maior do que noutras partes do oceano.
E como é feita essa limpeza? A equipa do Ocean Cleanup demora uns cinco dias a deslocar-se até à zona da Grande Mancha de Lixo do Pacífico e o sistema de limpeza é transportado em duas embarcações. Através da análise de dados e de um modelo que usa inteligência artificial, conseguem localizar as zonas com mais densidade de plástico e moverem-se por aí, recolhendo o lixo. Enquanto é feito esse “arrasto”, o plástico vai sendo recolhido numa zona de retenção, uma espécie de saco gigante em que o plástico fica retido até ser esvaziado num dos navios.
Os membros do projecto tentam ainda proteger os animais marinhos para que saiam ilesos deste sistema de recolha de lixo, usando até câmaras para garantir que os animais não ficam presos: segundo a organização, 99% do que recolhem é apenas plástico.
O lixo recolhido durante quatro semanas de Agosto foi removido através de um sistema chamado System 002. Agora, a organização está a usar um novo sistema para conseguir recolher ainda mais plástico: chama-se System 03, tem 2,2 quilómetros de comprimento e uma zona de retenção do lixo de 87 metros. Mas, alerta o projecto, tal não será suficiente para conseguir limpar a imensidão desta ilha de plástico flutuante: “Seria preciso uma frota.”
Outro dos objectivos do Ocean Cleanup é impedir a entrada do lixo proveniente dos rios – como fizeram no rio Las Vacas, na Guatemala, onde num só dia retiraram mais de 85 camiões de plástico que tinha ficado preso na barreira.
O plástico dos oceanos tem várias origens, podendo surgir de material de pesca que é abandonado ou descartado ou do lixo que é deitado ainda em terra e daquele que é levado pelos rios. “Assim que retiramos o plástico, tentamos assegurar-nos que esse plástico nunca volta a entrar no ambiente marinho ao reciclar e transformá-lo em novos produtos sustentáveis, fornecendo uma solução completa para a poluição de plástico nos oceanos”, lê-se no site do projecto.
Todos os anos produzem-se 430 milhões de toneladas de plástico e cerca de dois terços têm uma vida útil curta, transformando-se rapidamente em lixo – e há milhões e milhões de toneladas que acabam por ir ter às águas do oceano. As estimativas apontam que, actualmente, entre cinco a 13 milhões de toneladas de plástico cheguem aos oceanos todos os anos. A associação ambientalista WWF traça a comparação: é como se um camião de lixo cheio despejasse os resíduos nos oceanos a cada minuto. É também por isso que está a ser negociado um tratado mundial para combater a poluição plástica, que terá de ficar pronto até 2024.