Costa no Chile alerta para crescimento da extrema-direita e pede união dos democratas

Em entrevista ao jornal chileno La Tercera, o primeiro-ministro considera que a reeleição de Lula da Silva representa o regresso do Brasil ao palco internacional.

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O primeiro-ministro está no Chile, onde segunda-feira participa nas cerimónias dos 50 anos do golpe de estado do general Augusto Pinochet LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

O primeiro-ministro alerta para o crescimento da extrema-direita no continente americano e na Europa, considerando que esta corrente explora um discurso de radicalização e de ódio, e pede a mobilização de todos os democratas.

Estas posições foram assumidas por António Costa em entrevista hoje publicada na edição digital do jornal chileno La Tercera, na qual elogia os presidentes do Chile, Gabriel Boric, e do Brasil, Lula da Silva.

"O fenómeno do crescimento da extrema-direita, baseado na radicalização do discurso político, na retórica do ódio, na divisão e na restrição de direitos, representa um grave risco para as democracias e para a liberdade. E deve convocar todos os democratas para impedir que avance", sustentou.

António Costa chegou hoje ao Chile para participar na segunda-feira nas cerimónias dos 50 anos do golpe de Estado do general Augusto Pinochet, que derrubou a democracia chilena do Presidente democraticamente eleito Salvador Allende.

Também na segunda-feira, no Palácio La Moneda, sede do Governo chileno, o primeiro-ministro português e os chefes de Estado presentes nas cerimónias, sobretudo de países da América Latina, vão assinar um documento a favor da democracia e dos direitos humanos, intitulado "Declaração de Santiago".

Nesta entrevista ao jornal La Tercera, António Costa recusou falar "num modelo português" de convergência à esquerda, alegando que os seus três governos apresentam configurações políticas distintas, mas defendeu que há agora uma nova relação entre as forças deste espaço ideológico.

"Cada país e cada momento têm as suas especificidades, e é difícil falar de modelo português, tendo em conta que nos últimos oito anos passámos por diferentes configurações, desde acordos de influência parlamentar - a chamada "geringonça" -, passando por um governo de minoria sem esses acordos e agora uma maioria absoluta. No entanto, é claro que em Novembro de 2015 rompeu-se um tabu que existia em Portugal e se abriram as portas para uma nova relação na esquerda portuguesa", sustentou.

Sobre o golpe de Estado de 11 de Setembro de 1973, que instalou a ditadura no Chile até 1988, António Costa referiu que tem uma "profunda admiração pela figura do Presidente Allende, pelo seu legado de defesa intransigente da democracia e suas instituições, pelas quais deu a própria vida".

"Salvador Allende continua hoje uma referência para muitas gerações de democratas. É um símbolo da resistência contra a ditadura", frisou, numa entrevista em que elogiou o actual chefe de Estado chileno, Gabriel Boric, e em que foi questionado sobre o impacto do triunfo de Lula da Silva nas últimas presidenciais brasileiras.

"É um regresso que acolhemos com agrado, porque, mais do que o regresso de Lula da Silva ao poder, estamos presenciando um regresso do Brasil à cena internacional. Um Brasil comprometido com a protecção do ambiente e na luta contras as alterações climáticas. Um Brasil que se assume cada vez mais como um actor global", considerou.

Questionado sobre as recentes vitórias de candidatos presidenciais em vários países da América do Sul, casos da Colômbia, Chile ou Brasil, António Costa disse encarar esse fenómeno com naturalidade.

"Há seis anos a grande maioria dos governos latino-americanos era de direita. A maioria de esquerda que existe hoje é um reflexo natural - e saudável - da alternância democrática", declarou.