Organização francesa acusa Marrocos de bloquear chegada de assistência
Até este domingo, Marrocos autorizou a entrada de equipas de Espanha, Reino Unido, Qatar e Emirados Árabes Unidos. Segundo Rabat, “o país não tem de momento necessidade de outros tipos de ajuda”.
O fundador de uma organização francesa de socorristas, Arnaud Fraisse, acusa o Governo marroquino de bloquear a chegada de equipas estrangeiras de busca e salvamento aos locais mais afectados pelo terramoto de sexta-feira na região de Marraquexe.
As declarações do responsável — que se seguem à notícia de que o Governo francês ainda não tinha recebido, até à tarde deste domingo, um pedido formal de assistência por parte de Marrocos — suscitam receios de um atraso na chegada da ajuda às localidades mais remotas, onde ainda não foi possível avaliar a extensão total dos danos.
“Gostaríamos de embarcar num avião que descolasse em um minuto do aeroporto de Orly, mas infelizmente ainda não temos autorização do Governo marroquino”, disse Fraisse, fundador e director da organização Socorristas sem Fronteiras, à rádio France Inter.
“O Governo de Marrocos está a bloquear a partida de todas as equipas de resgate, excluindo as do Qatar, que foram autorizadas a desembarcar no país com um total de 87 pessoas e cinco cães de busca e salvamento. Não conseguimos compreender esta situação.”
Além da assistência do Qatar, o Governo marroquino terá também feito um pedido formal de ajuda — o mecanismo necessário para a chegada a Marrocos do auxílio internacional prometido após o sismo da noite de sexta-feira — a Espanha, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos, segundo a EFE.
A agência espanhola cita uma fonte diplomática de Marrocos, sob anonimato, segundo a qual “o país não tem de momento necessidade de outro tipo de ajuda”.
A mesma fonte garante, segundo a EFE, que as autoridades marroquinas “estão a seguir uma abordagem responsável, rigorosa e eficaz” na gestão das ofertas de assistência internacional.
Macron aguarda pedido
Na manhã deste domingo, o Presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que o seu país “mobilizou as equipas necessárias para intervirem nas operações em Marraquexe”, mas salientou que só poderão ser enviadas “quando as autoridades marroquinas determinarem a sua utilidade”.
“As autoridades de Marrocos sabem precisamente o que pode ser enviado e qual deve ser a natureza e o timing desse envio”, acrescentou Macron, em declarações feitas à margem da cimeira do G20, em Nova Deli. “Estamos à disposição. Fizemos tudo o que nos é possível fazer e a assistência será enviada no mesmo segundo em que o pedido for feito.”
No sábado, a principal agência de notícias de Marrocos, a MapNews, deu conta de que o rei Mohamed VI “ordenou o rápido envio de significativos recursos humanos e logísticos aéreos e terrestres, bem como de equipas de busca e salvamento e um hospital de campanha”.
“Aviões, helicópteros, drones e recursos de engenharia, bem como centros de logística, estão no terreno para prestarem o apoio necessário aos vários departamentos e às populações afectadas”, avançou a agência estatal, citando um comunicado das Forças Armadas marroquinas, cujo responsável máximo é o rei Mohamed VI.
A meio da tarde deste domingo — quase 48 horas depois do sismo em Marraquexe, registado às 23h11 de sexta-feira —, o jornal El Mundo avançou que um contingente de meia centena de socorristas espanhóis, da Unidade Militar de Emergências, foi a primeira equipa estrangeira a receber autorização formal para chegar às localidades mais afectadas pelo terramoto.
As queixas de falta de receptividade do Governo marroquino às ofertas de assistência — a que as autoridades locais contrapõem com a dificuldade de gerir um fluxo de ajuda de grande dimensão — juntam-se às declarações de Carolina Holt, a directora global da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, segundo a qual “as próximas 24 a 48 horas vão ser críticas para salvar vidas”.
“As autoridades marroquinas estão a responder com rapidez”, garantiu, em declarações ao site do canal Al-Jazeera, um senador e ex-ministro da Cultura de Marrocos, Lahcen Haddad. Segundo o mesmo responsável, as autoridades do país “puseram em prática um megaplano para uma intervenção rápida” após o sismo de 2004 na cidade de Al Hoceima, na costa do Mediterrâneo, que fez pelo menos 628 mortos e quase um milhar de feridos e deixou mais de 12 mil pessoas desalojadas.
Nessa altura, dois dias depois do abalo, centenas de residentes na região manifestaram-se nas ruas contra o que diziam ser uma resposta deficiente das instituições do país, num protesto que foi dispersado com violência pelo Exército, segundo um relato da altura da agência Reuters.
Os dias que se seguiram ao terramoto em Al Hoceima, em 2004, ficaram também marcados por fortes críticas de organizações internacionais às autoridades marroquinas, acusadas de impedirem a chegada de ajuda às zonas mais afectadas.