Assessor do parlamento do Reino Unido suspeito de espiar para a China

Em Julho, a Comissão de Informação e Segurança da Câmara dos Comuns alertou num relatório que os serviços secretos chineses estão a interferir de “forma prolífica e agressiva” com o Reino Unido.

Foto
O suspeito trabalhou no parlamento em política internacional, nomeadamente nas relações com Pequim, e já trabalhou na China EPA/ANDY RAIN

Um assessor do parlamento do Reino Unido foi detido em Março por suspeitas de espionagem para a China, revelou no sábado a Polícia Metropolitana, responsável pela região de Londres.

“Agentes do Serviço de Polícia Metropolitana detiveram dois homens em 13 de Março sob suspeita de crimes” referentes à Lei de Segredos Oficiais de 1911, um na região de Oxford, no Sudeste de Inglaterra, e o outro em Edimburgo, capital da Escócia, confirmou a polícia.

Os dois homens foram libertados sob fiança.

De acordo com a imprensa britânica, o segundo homem trabalhava no parlamento do Reino Unido e teve contacto com deputados do Partido Conservador, actualmente no poder. Entre eles estavam o ministro da Segurança, Tom Tugendhat, e Alicia Kearns, a presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros da Câmara dos Comuns, a câmara baixa do parlamento.

O suspeito trabalhou em política internacional, nomeadamente nas relações com Pequim, e já trabalhou na China.

O caso está a ser investigado por agentes do Comando Antiterrorista da Polícia Metropolitana.

A Aliança Interparlamentar para a China, que reúne dezenas de deputados de vários países, disse estar “chocada com as notícias de infiltração no Parlamento do Reino Unido por alguém supostamente agindo em nome da República Popular da China”.

Em Julho, a Comissão de Informação e Segurança da Câmara dos Comuns alertou num relatório que os serviços secretos chineses estão a interferir de "forma prolífica e agressiva” com o Reino Unido.

A China conseguiu "penetrar com êxito em todos os sectores da economia do Reino Unido” e "não é difícil detectar” a interferência do governo chinês em vários sectores, desde as universidades à energia nuclear, sublinhou o documento.

No ano passado, os serviços secretos britânicos emitiram um alerta sobre Christine Lee, dizendo que aquela era suspeita de “se envolver em actividades de interferência política em nome do Departamento Frente Unida”, uma organização responsável pelo desenvolvimento de ligações entre o Partido Comunista Chinês e entidades estrangeiras.

De acordo com o MI5, teria desempenhado o papel de intermediária, ao fazer “doações financeiras a partidos políticos, deputados, aspirantes a deputados e pessoas que concorriam a cargos políticos no Reino Unido”, em nome de cidadãos da China e de Hong Kong.

Christine Lee é suspeita de ter doado centenas de milhares de libras esterlinas a Barry Gardiner, do Partido Trabalhista, bem como ao próprio partido.

A suposta agente foi também fotografada com o ex-primeiro-ministro conservador David Cameron, em 2015, e, noutra ocasião, com o ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn.

Em 2019, Christine Lee foi condecorada pela primeira-ministra conservadora Theresa May pela sua contribuição para as boas relações entre o Reino Unido e a China.

Em resposta, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China garantiu respeitar o princípio de não-ingerência nos assuntos de outros países.