A coroação de Coco Gauff tinha de acontecer no US Open

A americana de 19 anos não precisou de uma exibição brilhante na final para confirmar as expectativas que recaiam sobre ela há alguns anos.

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Coco Gauff após o match-point que lhe deu o título Reuters/Danielle Parhizkaran
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Logo após os sentidos abraços, muitos sorrisos e algumas lágrimas, a família e amigos de Coco Gauff surgiram envergando as t-shirts preparadas pelo patrocinador, onde se podia ler “Call me Coco Champion”. Não se sabe há quanto tempo é que as camisolas estavam preparadas, o que se sabe é que desde os 12 anos que a pequena Cori Dionne sabia o que queria: ser a melhor tenista de sempre. Sete anos depois, Coco Gauff deu o primeiro grande passo para cumprir esse sonho e é a primeira teenager americana a triunfar no US Open desde que o seu ídolo Serena Williams venceu o primeiro de 23 majors, em 1999.

“Sinto-me feliz e um pouco, um pouquinho aliviada. Porque, sinceramente, neste momento, estou a jogar para mim e não para os outros. Sei como manter a minha paz, mas também aceitar tudo isto à minha volta”, assegurou Gauff. Apesar da idade, a americana tem estado no topo do ténis mundial há alguns anos e chegou a este torneio no sexto lugar do ranking e com 7,5 milhões de euros angariados em prémios. A “única” pressão que já sentia há algum tempo era a de corresponder às expectativas.

Os pais, antigos atletas universitários, cedo detectaram a capacidade de concentração e entrega nas primeiras aulas e treinos de ténis e desde logo decidiram dar-lhe as melhores condições possíveis para o seu desenvolvimento, incluindo estudar em casa. Os adeptos começaram a fixar o nome de Gauff, quando atingiu os oitavos-de-final do Torneio de Wimbledon, com 15 anos.

Embora presença permanente no top 10 desde Setembro de 2022, ano em que atingiu a final em Roland-Garros, o pai Corey Gauff mudou toda a equipa técnica em Junho. Gauff iniciou a época de hardcourts com uma motivação e confiança renovadas, conquistou dois títulos e derrotou a número um mundial, Iga Swiatek.

E chegou à final do US Open, com somente uma derrota em 18 encontros realizados para defrontar Aryna Sabalenka, a mlehor jogadora de 2023.

O favoritismo da bielorrussa justificou-se no set inicial e Gauff demorou a soltar-se, mas quando começou a acorrer a todas as bolas e a devolver uma e outra, tudo mudou. Sabalenka também colaborou cometendo 46 erros não forçados, mais de metade do total de 82 pontos ganhos por Gauff, na vitória, por 2-6, 6-3 e 6-2 – sendo a segunda jogadora nas últimas 29 finais femininas do US Open, a vencer depois de ceder o set inicial. E, pela primeira vez, Coco viu o pai a chorar.

Depois, Gauff foi receber o troféu das mãos de Billie Jean King, uma das grandes defensoras da igualdade de prémios entre homens e mulheres e receber o prémio mais chorudo da carreira, 2,8 milhões de euros.

“O mais importante que Coco aprendeu foi a ganhar quando joga a um nível intermédio. Antes ela não sabia como fazer isso: ganhava quando jogava bem e perdia quando jogava mal, mas 90% dos encontros são disputados quando se joga a um nível intermédio. Quando se descobre como vencer, manobrar o adversário, competir e mexer as pernas… ela ganhou muitos encontros aqui que, há uns meses, tinha perdido”, explicou Brad Gilbert, que integra a equipa de Gauff como conselheiro, ao lado do treinador espanhol Pere Riba.

“A jogadora tem de acreditar no processo e Coco compreendeu isso, que não é o resultado que é importante, mas sim o caminho para lá chegar. Agora vemos uma Coco mais feliz no court, a lutar em todos os pontos, a disfrutar mais. Eu e o Brad vemos o ténis da mesma forma e damos-lhe bons conselhos”, disse Pere Riba, ainda no Arthur Ashe Stadium, onde Gauff acudia a todos os pedidos de entrevistas.

Como diz a canção New York, New York, quem consegue fazê-lo aqui, consegue fazê-lo em qualquer lado e o entusiasmo dos treinadores quanto ao futuro é ainda maior quando lembram a juventude da jogadora. “Tem sido um percurso incrível e ela mal começou; tem 19 anos e o Open da Austrália está já ao virar da esquina. Ela tem duas grandes qualidades: é humilde e muito trabalhadora. Esta vitória não vai afectá-la, mas sim levá-la a trabalhar e a melhorar mais o seu jogo”, garantiu Gilbert.

Mas quem, segundo a letra da mesma canção, vai acordar na cidade que nunca dorme como número um, no topo da lista WTA, será Sabalenka, que vê recompensada a grande época que está a realizar, com três títulos conquistados, entre os quais o Open da Austrália, e foi ainda semifinalista em Roland Garros e Wimbledon e finalista no US Open. Gauff sobe ao terceiro lugar da classificação de singulares e sobe à liderança do ranking de pares.

O título de pares femininos foi para a canadiana Gabriel Dabrowski e a neo-zelandesa Erin Routliffe, depois de derrotarem a alemã Laura Siegemund e a russa Vera Zvonareva, por 7-6 (11/9), 6-3. Em pares mistos, a cazaque Anna Danilina e o finlandês Harri Heliovaara impuseram-se na final aos norte-americanos Jessica Pegula e Austin Krajicek, por 6-3, 6-4. Os títulos de juniores foram para o brasileiro João Fonseca e para Katherine Hui, dos EUA.

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