Cometa Nishimura visível a olho nu: “A oportunidade é mesmo única”

Corpo celeste foi descoberto há apenas um mês pelo astrónomo amador japonês Hideo Nishimura. No pico de aproximação ao Sol, poderemos observar o cometa a olho nu.

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O cometa Nishimura Dan Bartlett/NASA
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Ver um cometa à vista desarmada já é algo raro, mas ver este cometa em particular é literalmente a oportunidade de uma vida. Chama-se Nishimura, nome que herdou do astrónomo amador japonês Hideo Nishimura que o descobriu “por acaso” há apenas um mês (no dia 11 de Agosto) quando estava a tirar fotografias de longa exposição do céu nocturno. Para celebrar a data, o cometa Nishimura decidiu dar o ar da sua graça e iluminar o céu, atingindo o pico de visibilidade na noite desta segunda para terça-feira, 12 de Setembro.

A comunidade científica calcula que o cometa Nishimura “tem cerca de 450 a 500 anos de período orbital” e “viaja muito rápido no céu, a cerca de 90 quilómetros por segundo [na sua velocidade orbital máxima]”, explica ao PÚBLICO João Vieira, director do Centro Ciência Viva de Braga.

Vai-se aproximar do Sol e os astrónomos prevêem que o cometa “passe já dentro da órbita de Mercúrio” – ou seja, “vai passar muito perto do Sol, a cerca de 40 milhões de quilómetros”, destaca João Vieira, acrescentando que o corpo celeste vai estar a cerca de 125 milhões de quilómetros da Terra. É, por isso, “provável” que o cometa se desfaça em pedaços ou seja puxado pela força gravítica do Sol para dentro da própria estrela e desapareça, “o que acontece com muitos cometas”. É por isso, que esta é mesmo uma oportunidade única para ver este objecto celeste.

No pico de aproximação do cometa Nishimura ao Sol, no dia 12 de Setembro, poderemos observá-lo a olho nu cerca de uma hora antes do nascer do Sol e uma hora depois do pôr do Sol. “Vai estar na constelação de Leão e, portanto, ali perto da estrela Régulo”, situa o especialista.

Uma bola de fumo

Apesar de o pico de maior visibilidade ser esta noite, o cometa já estava visível há alguns dias, especialmente ao alcance de um telescópio ou binóculo. Agora, ressalva João Vieira, será possível vê-lo a “olho nu”, um fenómeno que é “raro”. “Nos últimos anos, tem havido alguns cometas que se aproximam, mas acabam por não ter o brilho suficiente para serem visíveis a olho nu”, nota o especialista, salientando que o cometa anterior a estar visível foi o Neowise, em 2020.

Nos próximos tempos, os cientistas vão tentar saber mais sobre o cometa Nishimura. “Vai-se determinar a composição do cometa e tentar perceber melhor a sua origem e características”, afirma João Vieira. “Tipicamente, estes cometas são bolas de poeiras e gelo e não são muito diferentes uns dos outros.”

João Vieira frisa que “é imprevisível a forma como o cometa ganhará brilho e como o vamos observar”, sendo que o avistamento do cometa Nishimura vai também depender das condições do céu e da “forma como ele se vai comportar na sua aproximação ao Sol”. “Temos de aguardar que as previsões estejam correctas e que tenhamos a possibilidade de o observar a olho nu com alguma facilidade.”

Será, segundo o especialista, “um pontinho que não corresponde exactamente a nenhuma estrela da constelação e, aumentando de brilho”, vai transformar-se numa mancha – cuja observação poderá ser impedida pela poluição luminosa. “É como se fosse uma estrela ligeiramente maior e esborratada, como uma bola de fumo.”

O director do Centro Ciência Viva de Braga alerta que nas fotografias o cometa Nishimura apresenta-se como uma mancha verde, mas essas imagens são “um bocadinho diferentes daquilo que vamos ver a olho nu”. “Não vai ter aquele brilho pontual da estrela. Mas se as condições forem as mais favoráveis, veremos facilmente aquela imagem típica de um cometa com a cauda, a cabeleira e todo o cometa no céu.”

A oportunidade de o observar, diz João Vieira, “é mesmo única”. Isto porque se o cometa Nishimura se desfizer na passagem pelo Sol nunca mais o veremos. E, na melhor das hipóteses, o cometa não se desintegra, mas, “teoricamente, se tem um período orbital de cerca de 450 a 500 anos, nenhum de nós o vai poder observar outra vez”.

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