Afastamento de directora de museu polaco gera indignação internacional

Responsáveis de museus europeus juntam-se aos seus colegas polacos nos protestos contra a demissão de Joanna Wasilewska, directora do Museu da Ásia e do Pacífico, em Varsóvia.

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Museu da Ásia e do Pacífico em Varsóvia, na Polónia wikicommons images
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A historiadora de arte Joanna Wasilewska, que dirigia há uma década o Museu da Ásia e do Pacífico, em Varsóvia, foi oficialmente notificada esta terça-feira da sua demissão, que se ficaria a dever a alegadas irregularidades financeiras, que a visada já negou.

A exoneração foi ordenada por Adam Struzik, do partido populista de direita Lei e Justiça, actual presidente da região de Mazóvia (onde fica a capital do país), que já no final de 2022 determinara a realização de uma auditoria à gestão de Wasilewska no​ Museu da Ásia e do Pacífico.

A directora, que trabalhava no museu desde 1992, convocou entretanto uma conferência de imprensa na qual desmentiu todas as acusações de que é alvo e defendeu ter sido vítima de um afastamento político, relacionando-o com a proximidade das eleições legislativas polacas, marcadas para 15 de Outubro, e com o seu passado de persistente resistência às intromissões do poder político.

“A maioria das razões avançadas para a minha demissão são fracas, e algumas são mesmo ridículas – não conseguiram encontrar quaisquer irregularidades graves”, disse Wasilewska ao jornal The Art Newspaper. “Durante anos opus-me às interferências políticas nos assuntos internos do museu, como as nomeações para directores-adjuntos de pessoas sem competência para o cargo”.

A sua saída está a provocar controvérsia na Polónia, onde vários colegas seus do sector das artes e dos museus subscreveram uma petição de protesto que, segundo o Art Newspaper, já tinha sido assinada esta sexta-feira por mais de 800 pessoas. E a polémica está a adquirir uma dimensão internacional, com tomadas de posição de vários directores de museus de outros países europeus, como o antropólogo australiano Nicholas Thomas, director do Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade de Cambridge, que reagiu à notícia afirmando que “o sector cultural na Polónia foi abalado pelo afastamento de uma verdadeira directora de museu, apreciada pelos seus colegas em toda a Europa”.

Thomas coordena actualmente o Grupo de Directores de Museus Etnográficos Europeus, para cuja presidência a até agora responsável do Museu da Ásia e do Pacífico fora recentemente nomeada. Estava mesmo previsto um encontro do grupo em Varsóvia, que agora já não se realizará, uma vez que Wasilewska não irá poder assumir o cargo.

Também Guido Gryseels, director-geral honorário do Musée Royal de l’Afrique Centrale, em Tervuren, na Bélgica (hoje mais conhecido como AfricaMuseum), considerou a demissão de Wasilewska “um gesto vergonhoso” e observou que “não seria de esperar que este tipo de interferência política e desrespeito pelas leis do trabalho acontecesse num país membro da União Europeia”.

“É doloroso ter de dizer que o meu país é um lugar onde coisas destas estão a acontecer, mas estão mesmo”, afirmou a própria Wasilewska, que já iniciou diligências para contestar a sua demissão nos tribunais. E que sublinha que, “apesar de tudo, há ainda muita gente maravilhosa nos museus polacos a lutar contra esta realidade”.

Mas para os subscritores da petição, um dos aspectos mais preocupantes desta decisão é ela ter sido alegadamente instigada por políticos regionais cujos partidos estão na oposição a nível nacional. Sendo recorrentes as interferências no sector cultural pelo actual Governo do partido Lei e Justiça, o envolvimento de forças da oposição no afastamento de Wasilewska compromete, dizem os peticionários, “a confiança nas promessas e declarações dos partidos da oposição, dos quais se esperava que cessassem os ataques aos académicos e aos profissionais da cultura”.

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