“Praticamente ninguém na Terra escapou ao aquecimento global nos últimos três meses”

Estudo da Climate Central analisou as temperaturas em 180 países e 22 territórios e concluiu que 98% da população mundial esteve exposta a temperaturas mais elevadas em Junho, Julho e Agosto.

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O Verão de 2023 no hemisfério norte foi o mais quente desde que há registos Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

Quase toda a população mundial exposta ao aquecimento global entre Junho e Agosto. Em várias regiões do planeta foram registadas temperaturas mais elevadas entre Junho e Agosto como resultado das alterações climáticas induzidas pelo homem, de acordo com um relatório de investigação revisto por pares publicado esta quinta-feira.

O Verão de 2023 no hemisfério norte foi o mais quente desde que há registos, com ondas de calor prolongadas na América do Norte e no sul da Europa, causando incêndios catastróficos e picos nas taxas de mortalidade. Julho foi o mês mais quente alguma vez registado, enquanto as temperaturas médias de Agosto foram também 1,5 graus Celsius superiores aos níveis pré-industriais.

Um estudo da Climate Central, um grupo de investigação sediado nos Estados Unidos, analisou as temperaturas em 180 países e 22 territórios e concluiu que 98% da população mundial estava exposta a temperaturas mais elevadas, tornadas pelo menos duas vezes mais prováveis pela poluição por dióxido de carbono.

"Praticamente ninguém na Terra escapou à influência do aquecimento global durante os últimos três meses", afirmou Andrew Pershing, vice-presidente da Climate Central para a ciência.

"Em todos os países que pudemos analisar, incluindo o hemisfério sul, onde esta é a época mais fresca do ano, registámos temperaturas que seriam difíceis - e, em alguns casos, quase impossíveis - sem as alterações climáticas causadas pelo homem", afirmou.

A Climate Central avalia se os fenómenos de calor são mais prováveis em resultado das alterações climáticas, comparando as temperaturas observadas com as geradas por modelos que eliminam a influência das emissões de gases com efeito de estufa.

Segundo o relatório, 6,2 mil milhões pessoas foram afectadas pelo menos um dia com temperaturas médias elevadas, consideradas cinco vezes mais prováveis devido às alterações climáticas, o valor máximo do índice de alterações climáticas da Climate Central.

As vagas de calor na América do Norte e no sul da Europa teriam sido impossíveis sem as alterações climáticas, afirmou Friederike Otto, cientista climática do Instituto Grantham para as Alterações Climáticas e o Ambiente.

"Analisámos ondas de calor isoladas", afirmou. "Não se tornaram cinco vezes mais prováveis. Tornaram-se infinitamente mais prováveis porque não teriam ocorrido sem as alterações climáticas."