Mau tempo. A “gota fria” do último fim-de-semana está de regresso a Portugal com restos do furacão Franklin

Mau tempo que lançou o caos em Espanha está de regresso após ter-se unido ao que restou de um ciclone no Atlântico. É normal acontecer, mas não tão cedo. Aviso amarelo em quase todo o país.

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Paulo Pimenta
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Os avisos amarelos de chuva e trovoada​ que estão em vigor em Portugal continental desde o início da tarde de sexta-feira até ao fim da tarde de sábado ainda estão relacionados com a depressão que afectou a Península Ibérica no fim-de-semana passado. Mas com uma diferença: foi engolida por parte de um ciclone tropical que se formou sobre o oceano Atlântico, nomeado Franklin.

Após ter viajado para Norte, depois de causar o caos na região de Madrid e estragos significativos na região Norte portuguesa por causa da queda de granizo, a região de baixas pressões atmosféricas — a que os espanhóis chamam DANA (sigla para a expressão, em espanhol, Depressão Isolada em Altos Níveis) e que em Portugal se chama Gota Fria — está de regresso a Portugal continental após se ter encontrado com parte de um ciclo tropical que se formou no Atlântico.

Grande parte deste ciclone tropical, que se formou junto às Caraíbas, evoluiu para nordeste e chegou a ser classificado como um furacão de categoria 4 antes de se dissipar a nordeste dos Açores. Foi depois disso que o que restou da tempestade se encontrou com a depressão em cut-off — uma região de baixas pressões atmosféricas isoladas nas camadas mais altas da atmosfera — que tinha afectado o tempo na Península Ibérica antes de se mover lentamente para noroeste.

“Ainda estamos sob o efeito dessa depressão, mas com essas transformações que sofreu ao longo da semana”, confirmou ao PÚBLICO a meteorologista Cristina Simões, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera: “O mais provável é que continue a afectar o tempo no país até 15 de Setembro.”

Neste momento, os avisos amarelos de trovoada e precipitação estão activos até às 21h em Beja, Faro e Lisboa. Em Setúbal, permanecerão até à meia-noite. Prolongam-se até às 18h de sábado em Aveiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria, Porto, Santarém, Viana do Castelo, Vila Real e Viseu. Em Portalegre e Évora não há avisos meteorológicos emitidos.

“É um mês de transição entre o Verão e o Outono. A atmosfera está a adaptar-se”

Ninguém pode dizer que entrou no nono mês do ano ao engano. Geração atrás de geração, a sabedoria popular já tem avisado que “em Setembro ou secam as fontes ou se elevam as pontes”. “Isto já é norma nesta altura, entre meados de Agosto e o fim de Setembro, mas temos assistido a uma maior dinâmica da atmosfera”, disse ao PÚBLICO o climatologista Mário Marques, fundador da iClimate Adviser, uma plataforma de previsão meteorológica que presta serviços a várias autarquias e empresas. “É um mês de transição entre o Verão e o Outono. A atmosfera está a adaptar-se”, acrescentou Cristina Simões. “Não é usual” que essas transformações aconteçam tão cedo, mas “também não é de estranhar”.

O mais provável é que isso não se traduza numa queda generalizada de grandes quantidades de chuva num território alargado, como aconteceu em Lisboa em Dezembro, originando inundações. As previsões meteorológicas do IPMA e da iClimate Adviser sugerem mais que se deve repetir o que aconteceu em Valpaços, arruinando as culturas de oliveiras na região: deve chover com intensidade em áreas muito pequenas e em pouco tempo.

É assim porque, na origem destes fenómenos, estão as chamadas células convectivas verticais — nuvens que se desenvolvem em altura e que podem ter dezenas (às vezes centenas) de quilómetros. “Só o centro dessas células é que são mais activas, por isso a chuva cai com mais intensidade numa área de um ou dois quilómetros quadrados. No espaço restante, é chuva normal”, descreveu Mário Marques.

Tudo isto será produto do panorama actual na atmosfera terrestre, com altas pressões atmosféricas na região dos Açores e na Europa Ocidental (originando ondas de calor entre França e o Reino Unido), mas baixas pressões na Península Ibérica e na Grécia. “A interacção entre as massas de ar mais frio com as massas de ar mais quente cria muita instabilidade e levam a uma grande acumulação de humidade nas regiões com depressões. Por isso teremos mais chuva e trovoada”, adiantou o climatologista.

Apesar de quase todos os distritos em Portugal continental estarem sob aviso amarelo de chuva e trovoada — só escapam Évora e Portalegre —, os meteorologistas do IPMA estão especialmente preocupados com o litoral do país, sobretudo com os distritos de Lisboa, Setúbal e Leiria. Essas são as regiões “onde se espera mais instabilidade”, detalhou a meteorologista Cristina Simões. Depois de uma noite que se espera ser de trovoada e queda de granizo ou chuva em Lisboa e na zona Centro, o mau tempo subirá gradualmente para norte e afectará essa região ao longo de todo o dia de sábado.

As condições meteorológicas deverão melhorar na noite de sábado para domingo, com um desagravamento do estado do tempo até quinta-feira. Depois disso, a chuva deve voltar. O que acontecerá na segunda metade do mês ainda é uma incógnita para os meteorologistas neste momento: “Pode acontecer termos um regresso do Verão e um Outubro novamente seco ou pode ser que o Outono se estabeleça”, explica a meteorologista do IPMA. Só o tempo o dirá.