Câmara do Porto financia sala de chuto até ao fim do ano e quer abrir mais duas na cidade

Fase piloto terminou sem que concurso para continuação do programa tivesse resultados. Autarquia vai dar 90 mil euros para que resposta não seja interrompida. Mas é preciso mais, admite Rui Moreira

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Sala de consumo da Pasteleira abriu em Agosto de 2022 Nelson Garrido
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Tal como já se previa, a fase piloto do Programa de Consumo Vigiado do Porto chegou ao fim sem que o concurso para a continuação do projecto, que foi lançado com atraso, tivesse resultados. Mas, tal como a Câmara do Porto já tinha garantido, a resposta dada pela sala de “chuto” não vai ser interrompida: o executivo liderado por Rui Moreira vai financiar o programa com mais 90 mil euros até ao fim deste ano ou o início da nova fase do mesmo. A resposta ao problema não fica, no entanto, coberta e Rui Moreira quer mais duas salas na cidade.

A proposta para apoiar a fase de transição da actual sala, que passa depois a ser financiada pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Adictivos e nas Dependências (SICAD), vai ser votada na reunião de câmara de segunda-feira, embora a adenda ao contrato já tenha sido assinada pela vereadora Catarina Araújo. “A tomada de decisão em causa era urgente, tendo sido concretizada por despacho”, justifica a proposta.

O projecto-piloto terminou no dia 24 de Agosto, mas o SICAD só lançou o concurso para a continuaçãDepeo do programa no dia 11 de Agosto. Segundo a proposta que vai ser votada pelo executivo do Porto, o pedido de ajuda do SICAD, que solicitou financiamento para a fase de transição, chegou à Câmara do Porto no dia 23 e obrigou a uma decisão sem consulta do executivo – onde, de resto, Rui Moreira tem maioria.

“A prestação desta resposta tem-se revelado crucial na promoção de ganhos em saúde, tanto para a população que serve como para a demais comunidade, o que aliás resulta dos relatórios trimestrais de execução do PCV, pelo que se entende ser do interesse público assegurar que a mesma não se interrompe”, acrescenta a proposta.

Quando o Programa de Consumo Assistido do Porto foi criado, previa-se a existência de uma fase piloto de um ano para a sala amovível, que foi instalada junto ao bairro da Pasteleira, e a continuação do projecto com duas valências: essa mesma sala fixa e uma móvel.

No entanto, como o director do SICAD avançou ao PÚBLICO em Junho, a unidade móvel não integra o concurso entretanto lançado. Rui Moreira manifestou, nessa altura, a disponibilidade para financiar, também, uma unidade móvel. Mas nesta segunda-feira, em reunião do Conselho Municipal de Segurança, o autarca pôs outra situação em cima da mesa: tendo em conta a tendência para o consumo fumado de drogas entre os utilizadores da sala de consumo da Pasteleira, esta estrutura, sem capacidade para extrair fumo de forma eficaz, poderá não ser a mais adequada.

“Estamos à espera de que nos indiquem se é possível ter uma unidade móvel com capacidade para consumos fumados, mas, se assim não for, deveríamos replicar uma unidade desta natureza [fixa] noutra zona da cidade ou em várias zonas da cidade”, apontou.

Municípios vizinhos chamados

Independentemente do tipo de estrutura, o autarca admitiu que o Porto precisa de três unidades de consumo vigiado. Uma delas poderá ficar na zona do Cerco, já identificada como uma zona onde o tráfico e consumo cresceram de forma significativa, sobretudo depois de a repressão policial subir de tom na Pasteleira.

Há duas semanas, a Câmara do Porto mandou selar a escola preparatória do Cerco, estrutura que pertence ao Ministério da Educação, alegando problemas de segurança, já que havia muitas seringas abandonadas no chão e era possível a entrada de qualquer cidadão, nomeadamente crianças. Nessa altura, Rui Moreira apontou esse edifício como um bom lugar para instalar uma nova sala de consumo.

Nesta segunda-feira, o autarca voltou também a chamar à conversa os municípios da Área Metropolitana do Porto: “Só faz sentido [abrir mais salas de consumo] se, ao mesmo tempo, os municípios vizinhos fizerem esse investimento.”

Para Rui Moreira, a existência desta resposta no Porto pode chamar consumidores de zonas próximas, caso essas não tenham salas próprias. E isso, acrescentou, é “injusto” para a cidade e “estraga o que está a ser feito”. “Aposto que se fizermos no Cerco um centro destes, 70 ou 80% da população que vai aderir é originária de Gondomar. Não preciso de uma varinha mágica porque conheço bem o terreno”, apontou.

No início de Agosto, num pequeno balanço do primeiro ano deste programa, o director executivo da Agência Piaget para o Desenvolvimento (Apdes), líder do consórcio Um Porto Seguro, gestor da sala de chuto, considerou que a eficácia deste projecto ficou provada. Mas sublinhou, também, a necessidade de o alargar: “Para aumentar o impacto junto desta população e melhor servir a cidade, é importante criar uma resposta complementar ao dispositivo já existente, seja uma sala móvel ou amovível.” com André Borges Vieira

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