Estudo europeu revela que Portugal é “campeão” em concentração tóxica de glifosato

Em Portugal, as amostras foram recolhidas no rio Douro, na Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha-a-Nova, e na Albufeira da Barragem do Roxo.

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Portugal a proibiu em 2017 o uso de glifosato em espaços públicos como jardins infantis, escolas e hospitais EDWIN TAN/GettyImages

Um estudo europeu que envolveu 12 países revela que Portugal é "campeão" em termos de concentração tóxica para consumo humano do herbicida glifosato em cursos de água doce.

O estudo, feito pela organização Pesticide Action Network e pelo Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, no Parlamento Europeu, recolheu amostras de água doce em 12 países da União Europeia (UE) em Outubro de 2022 (período que se segue à campanha agrícola). As amostras foram recolhidas em rios, ribeiras e lagos.

Em Portugal, as amostras foram recolhidas no rio Douro, na Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha-a-Nova, e na Albufeira da Barragem do Roxo.

O estudo foi divulgado esta quarta-feira pela Plataforma Transgénicos Fora, organização que fez a recolha das amostras em Portugal, onde, a par de Áustria, Espanha e Polónia, foram detectadas concentrações de glifosato consideradas tóxicas para o consumo humano.

Uma das amostras em Portugal, recolhida em Idanha-a-Nova, continha 3 microgramas/litro (µg/L), isto é, 30 vezes mais que o limite legal, tendo sido a mais elevada concentração de glifosato detectada nas amostras analisadas no estudo. O limite de segurança para o glifosato na água potável é de 0,1 µg/L.

Apesar dos efeitos nocivos do glifosato nos ecossistemas aquáticos e na saúde humana, com a Organização Mundial da Saúde a classificá-lo como um potencial carcinógeno, o seu uso continua autorizado na UE pelo menos até 15 de Dezembro.

Em Maio de 2002 foi divulgado um estudo que concluía que os dados disponíveis não permitem classificar o glifosato como uma substância cancerígena, segundo o Comité de Avaliação dos Riscos da Agência Europeia de Produtos Químicos (Echa). A substância presente nos herbicidas mais usados da União Europeia continua, contudo, a ser considerada passível de causar graves problemas oculares e de ser tóxica para a vida aquática “com efeitos duradouros”, segundo a apreciação desta entidade.

O estudo divulgado esta semana recomenda a não-renovação da licença de comercialização de glifosato na UE e o fim gradual do uso de produtos à base desta substância, uma vez que a sua utilização "reduz a qualidade das águas" e a sua exposição "tem sido associada a efeitos adversos numa grande variedade de espécies, incluindo os humanos".

Em comunicado, a Plataforma Transgénicos Fora salienta que a Comissão Europeia pretende renovar a utilização do glifosato, prevendo-se que a proposta seja votada em meados de Outubro.

A comercialização do controverso herbicida já esteve em suspenso, em 2016, quando a autorização de venda do produto expiraria. O Comité Permanente de Plantas, Animais, Alimentos de Consumo Humano e Animal da Comissão Europeia reuniu-se nesse ano para debater o assunto – mas como era difícil chegar a um consenso, a votação foi sendo adiada. A licença para o uso do glifosato na União Europeia acabaria por ser prolongada por cinco anos – em vez de 15 –, em Novembro de 2017.

O glifosato pode ser encontrado em produtos como o Round-Up, criado pela empresa norte-americana Monsanto (entretanto adquirida pela gigante farmacêutica Bayer). Estima-se que existam hoje na Europa mais de 300 herbicidas à base desta substância, utilizada sobretudo para combater as ervas daninhas.

A controvérsia à volta do glifosato, alimentada sobretudo pela dificuldade de a ciência dar uma resposta cabal e definitiva sobre os seus efeitos na saúde humana, levou Portugal a proibir em 2017 o seu uso em espaços públicos como jardins infantis, escolas e hospitais.