Um mar de pedaços de gelo onde não cabem pinguins
Imagem do programa Copérnico mostra o degelo na região da Antárctida onde anteriormente existia uma colónia de pinguins-imperadores, num fenómeno que os cientistas associam às alterações climáticas.
Há duas semanas, os pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri) foram notícia pelas piores razões. Nos últimos meses de 2022, o degelo precoce na região do mar de Bellingshausen, na Antárctida Ocidental, tornou inviável algumas das colónias que se reúnem naquela costa. Já tinham sido observados colapsos pontuais de colónias, mas aquela foi a primeira vez que se observou um colapso em massa.
Como nos últimos meses de cada ano (a Primavera na Antárctida) as crias ainda não têm penas para a vida no mar e dependem dos pais, estima-se que entre 9000 e 10.000 juvenis não tenham sobrevivido a esse pequeno cataclismo, que os cientistas pensam estar ligado às alterações climáticas. Ou seja, foi um ano perdido para a renovação da população destas colónias.
Essa descoberta foi feita a partir de imagens de satélite, onde é possível identificar a marca das colónias no gelo, e ver o colapso dessas regiões. Agora, o Programa Copérnico da União Europeia repescou a notícia para a sua imagem do dia desta quinta-feira. “A descoberta foi possível graças ao uso das imagens de satélite do Sentinela-2 do Copérnico, que providenciou uma observação directa de colónias inteiras que falharam em criar os seus juvenis”, lê-se na legenda do site do Copérnico.
A imagem apresentada é de 10 de Dezembro de 2022, e mostra a região costeira de ilha Smyley, que é um dos lares de uma das dezenas de colónias que existem na costa por toda a Antárctida. Na nova imagem, há pedacinhos de gelo distribuídos pelo mar que, semanas antes, construíam um refúgio para a colónia de pinguins. Uma linha a vermelho mostra onde estava o limite do gelo a 28 de Outubro de 2022 e onde se situava a colónia nesse mesmo dia.
Supostamente, o gelo costeiro daquela região deveria ter resistido até Janeiro de 2023. Mas as alterações climáticas estão a trocar as voltas à constância da natureza trazendo mudanças que podem ser determinantes para o futuro de espécies como a do pinguim-imperador. Até 2100, prevê-se que 80% da sua polução tenha desaparecido.
Os autores do estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, providenciaram na altura em que o artigo foi publicado uma versão da mesma captura de satélite que era um recorte da zona onde a colónia vivia. Como estava ampliada, essa versão perdia o foco e a amplitude que a imagem lançada agora pelo Programa Copérnico fornece: um mar vasto, preenchido por um sem número de pedaços de gelo — mas sem a colónia de pinguins.