A música poderá deixar o M.Ou.Co para se abrir a porta a nómadas digitais

Espaço criado no Porto, em 2021, com conceito orientado para o universo musical, foi comprado por fundo de investimento francês e será gerido por empresa vocacionada para habitantes de curta duração.

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Concerto de Kae Tempest no M.Ou.Co, em Maio de 2022 Anna Costa
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Dois anos foi quanto durou a proposta apresentada em 2021 pelo M.Ou.Co, espaço que nasceu para servir melómanos e profissionais do sector da música. Só que agora, esta empreitada poderá terminar. O espaço multidisciplinar composto por hotel, restaurante, esplanada, salas de ensaio, sala de concertos e clínica para músicos foi comprado por uma empresa francesa, que entregará a gestão do espaço a uma plataforma norte-americana dedicada a nómadas digitais. Acaba-se a o M.Ou.Co, pelo menos no formato pelo qual era conhecido até agora, e abre-se a porta aos nómadas digitais. E, assim, poderá perder-se no Porto uma agenda mensal de concertos regular, de programação autónoma, feita de artistas nacionais e internacionais.

O espaço vai continuar a funcionar, mas não com as pessoas que criaram o conceito que definia o espaço. Ainda não se sabe que destino terão as três salas de ensaio e a sala de concertos com capacidade para 300 pessoas que lá existem, depois de a gestão mudar de mãos. Por agora, só se sabe que está garantido que a agenda de concertos marcada até Novembro se vai cumprir. Entretanto, alguns colaboradores que trabalhavam em torno da agenda cultural já foram dispensados.

A compra do imóvel já foi confirmada no site dos novos donos – os franceses da Extendam — Capital Partners in Hospitality.” “O accionista maioritário da operação, a Extendam, adquiriu o M.Ou.Co, no Porto”, lê-se em uma das últimas publicações que lá estão. No mesmo sítio, avança-se que a compra foi feita com a “participação” do fundo de investimento Keys REIM, também com base em França, e que foi estabelecida uma parceria com a Outsite, que já gere outro alojamento no Porto e é “especializada” na “exploração” de negócios de alojamento de “curta duração”.

Na versão portuguesa do site, esta última empresa apresenta-se assim: “A Outsite foi fundada em 2015 para servir um novo segmento de profissionais flexíveis de localização que procuram integrar a sua vida e o seu trabalho.”

Quem estava ao leme do M.Ou.Co opta por ainda não falar à imprensa, mas fonte próxima do espaço confirma ao PÚBLICO que a infra-estrutura foi comprada pelas entidades referidas anteriormente e avança que existirá uma mudança de conceito. A mesma fonte garante que deixa de haver uma programação musical regular (e de outras áreas artísticas) na sala de concertos e que o foco passará para os nómadas digitais. O espaço como era conhecido, ainda que possa, eventualmente, receber um evento ou outro no futuro, deixará de funcionar nos mesmos moldes. A música, se continuar a existir, será apenas em eventos esporádicos, orientados para o público-alvo, adianta-se.

A existência fugaz do M.Ou.Co como era conhecida deixará um vazio no Porto. Durante os dois anos de actividade foram muitas as bandas nacionais e internacionais que por lá passaram, como, por exemplo, Lido Pimienta, Blood Red Shoes, Kae Tempest, First Breath After Coma, Clã, Capicua ou Kiko & the Blues Refugees com BJ Cole.

Mais uma baixa

Até Novembro, ainda passam no mesmo palco, entre outros, as galegas Bala, os portugueses Paus, o actor Ivo Canelas (com um monólogo) e, a fechar definitivamente a agenda desta primeira vida do espaço, o norte-americano Johnny Jewel.

O M.Ou.Co abriu portas em Agosto de 2021, com conceito orientado para o universo da música. Além de hotel, restaurante, três salas de ensaio e sala de espectáculos para 300 pessoas, também estava dotado de uma clínica para artistas. O espaço foi criado também para proporcionar a músicos em digressão que passassem pelo Porto alojamento e local de ensaios.

Com a troca de mãos da infra-estrutura da Rua de Frei Heitor Pinto, na freguesia do Bonfim, na fronteira com Campanhã, poderá perder-se a actividade regular de uma sala de concertos e três salas de ensaios, numa altura em que, a cinco minutos a pé, na Rua do Heroísmo, os músicos da cidade lutam pela sobrevivência do Stop, o maior pólo agregador de artistas do sector musical do país e um dos maiores da Europa.

O PÚBLICO entrou em contacto com a Outsite, que também tem morada no Porto (na Rua de São Victor), através do único e-mail que encontrou disponível, mas ainda não teve resposta.

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