Com Erdogan, Putin reitera posições que levaram ao fim do acordo de cereais do mar Negro

O Presidente turco esteve reunido com Putin em Sochi durante três horas e disse estar optimista de que será possível reavivar o mecanismo.

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Erdogan foi a Sochi tentar convencer Putin a regressar ao acordo dos cereais do mar Negro EPA/MIKHAEL KLIMENTYEV/SPUTNIK/KREMLIN POOL
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A muito aguardada reunião entre os Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, terminou esta segunda-feira sem qualquer progresso palpável em relação ao acordo para a exportação de cereais através do mar Negro. Putin repetiu as exigências que já eram conhecidas e afastou a hipótese de uma rota alternativa através da Turquia ou do Qatar.

Apesar da expectativa criada pelo Governo turco, que havia sublinhado a importância do encontro desta segunda-feira em Sochi, não houve espaço para muitas surpresas. Em cima da mesa estava a possibilidade de que a Rússia pudesse regressar ao mecanismo de exportação de cereais pelo mar Negro, que, durante um ano, permitiu o escoamento de 33 milhões de toneladas de produtos agrícolas ucranianos.

Antes da invasão em larga escala, a Ucrânia, tal como a Rússia, era um dos principais fornecedores de cereais para África e os efeitos do conflito na capacidade de produção e exportação vieram inflacionar ainda mais os preços dos bens alimentares a nível global. Durante o período em que o acordo esteve em vigor, entre Agosto do ano passado e Julho deste ano, o preço dos cereais estabilizou-se nos mercados mundiais, segundo o Guardian.

Erdogan partiu para Sochi convicto de que a sua posição privilegiada como interlocutor de Putin poderia facilitar um possível regresso da Rússia à iniciativa mediada pelas Nações Unidas. Putin reiterou as recriminações contra os países ocidentais que apoiam Kiev e que em Julho levaram o Kremlin a anunciar o rompimento do acordo de exportação.

A Rússia acusa os países ocidentais de a terem “enganado” e de continuarem a “bloquear o fornecimento de cereais e fertilizantes da Federação Russa para os mercados mundiais”, disse Putin em Sochi. Em concreto, Moscovo quer que o principal banco do sector agrícola russo seja reintegrado no sistema de transacções financeiras internacionais, o SWIFT. No entanto, a exclusão das instituições bancárias russas deste mecanismo está integrada nos vários pacotes de sanções aprovados pela União Europeia, Estados Unidos e outros países na sequência da invasão em larga escala da Ucrânia.

Durante as negociações que antecederam o rompimento do acordo de exportação, a Comissão Europeia chegou a propor a criação de uma entidade bancária que pudesse servir como intermediária para contornar a exclusão do banco agrícola russo do SWIFT, mas Moscovo rejeitou a proposta.

“Estaremos preparados para considerar a possibilidade de reavivar o acordo dos cereais (…) assim que todos os acordos de levantamento das restrições às exportações dos produtos agrícolas russos sejam totalmente respeitados”, afirmou Putin, após o encontro de três horas com Erdogan.

O Presidente russo rejeitou ainda que a hipótese de escoamento de cereais russos pela Turquia e pelo Qatar não representa uma alternativa viável à exportação através do mar Negro.

Apesar de Putin se ter mantido irredutível, o Presidente turco mostrou-se optimista de que o acordo poderá voltar a entrar em vigor e referiu que o seu Governo e a ONU trabalharam numa nova proposta, mas não deu quaisquer pormenores. “Acreditamos que iremos alcançar uma solução que irá cumprir as expectativas a curto prazo”, declarou Erdogan.

“A Ucrânia precisa, sobretudo, de suavizar as suas abordagens para que possam ser dados passos em conjunto com a Rússia”, acrescentou o Presidente turco. O Governo ucraniano disse esperar que Erdogan e o Presidente Volodymyr Zelensky falassem após o encontro de Sochi.

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