Pirilampos: os insectos brilhantes que emitem luz para acasalar

Os machos realizam um espectáculo de luzes no céu para atrair as fêmeas durante o Verão: eis o encanto promovido pelos pirilampos em sítios próximos da natureza nas noites quentes.

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O pirilampo macho voa emitindo uma luz cintilante para atrair uma parceira sexual para o acasalamento durante o Verão Tiago Bernardo Lopes
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Feixes de uma luz verde ou amarelada cintilante costumam ser vistos no céu nos dias mais quentes, proporcionando um belo espectáculo dos pirilampos em plena época de acasalamento. O voo sincronizado atrai a admiração e a curiosidade de quem consegue observá-los na natureza. A luz é utilizada pelos insectos para comunicarem entre si e para atrair parceiros sexuais para a reprodução, que ocorre somente no Verão.

Com aproximadamente duas mil espécies desses pequenos invertebrados no mundo, 11 delas são conhecidas em Portugal. No entanto, a investigadora Susana Loureiro, da Universidade de Aveiro, alerta que “as populações têm vindo a diminuir”. Entre as principais causas do declínio populacional, está o “aumento da luminosidade em vários locais, mesmo rurais, que fazem com que a função luminosa dos pirilampos seja prejudicada”, acrescenta. O uso de luz artificial pode causar-lhes desorientação quanto aos padrões de voo e supressão do seu brilho natural, atrapalhando a reprodução.

A capacidade dos pirilampos de produzir luz é uma das características que mais saltam aos olhos dos observadores. Este fenómeno, conhecido como bioluminescência, ocorre por meio de uma reacção química entre a luciferina e a enzima luciferase, resultando numa luz que não se restringe somente ao verde, podendo ser amarela e até mesmo vermelha, consoante a espécie em causa.

Susana Loureiro descreve a bioluminescência como um alerta para a presença dos pirilampos, que actua tanto para atrair os seus parceiros para o acasalamento como para servir de defesa contra predadores.

Pirilampos emitem luz para acasalar

De acordo com a mestre em Ciências e Tecnologias do Ambiente Sofia Tártaro, o ciclo de vida dos pirilampos pode durar de um a três anos, começando com a postura de ovos pelas fêmeas em solo húmido. Após cerca de duas semanas, os ovos eclodem, iniciando-se a fase larval, na qual se alimentam de lesmas e caracóis. O período até à fase adulta varia conforme a espécie.

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Os pirilampos macho e fêmea encontram-se no Verão para reproduzir e morrem de uma a duas semanas depois Tiago Bernardo Lopes

Os machos voam e preenchem o ar com um forte brilho para atrair as fêmeas. Estas, por sua vez, permanecem próximas do solo devido ao tamanho reduzido das suas asas, emitindo uma luz mais branda. A notável discrepância entre a quantidade de machos e fêmeas é evidente, conforme destaca Sofia Tártaro, havendo sempre mais machos, e são as fêmeas que seleccionam os parceiros com base no padrão de luz mais intenso para garantir os melhores genes. Após o acasalamento, os pirilampos adultos têm uma vida efémera, sobrevivendo apenas por mais uma a duas semanas.

Os pirilampos (família Lampyridae) costumam ser visto entre o final de Maio e o começo de Junho, à medida que a Primavera avança e os dias mais quentes se aproximam. Isto ocorre por serem insectos ectotérmicos, ou seja, têm a sua capacidade de voo directamente ligada à temperatura ambiente. Em dias frios, tendem a ficar menos activos, pois as baixas temperaturas diminuem o seu metabolismo; assim, permanecem no solo, alimentam-se e preparam-se para quando o calor recomeçar.

Ameaça à sobrevivência

Os pirilampos desempenham um papel crucial no ecossistema por serem importantes bioindicadores do estado do ambiente, indicando se o sítio está em boas ou más condições. No entanto, a sobrevivência desses encantadores insectos está em risco devido à utilização indiscriminada de pesticidas e herbicidas e ao aumento de luzes artificiais. Assim, três das 11 espécies em Portugal estão a ser avaliadas na Lista Vermelha dos Invertebrados devido aos poucos registos, incluindo o pirilampo-preto (Phosphaenus hemipterus), o pirilampo-pequeno-de-lunetas (Lamprohiza mulsantii) e o pirilampo-grande-de-lunetas (Lamprohiza paulinoi).

A redução dos seus habitats é outra ameaça significativa para esses insectos luminosos. Com o avanço das áreas urbanas e o desmatamento das vegetações, os espaços disponíveis para os pirilampos diminuem, levando a uma redução na disponibilidade de alimentos e locais para reprodução.

Caso esteja próximo da natureza neste Verão, pode ter a sorte de os avistar. Mas é importante lembrar que eles não devem ser fotografados com flash ou expostos a luzes fortes. Se decidir capturar esses momentos, que seja somente na memória.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva


Animais de Verão é uma minissérie do Azul sobre animais que podemos ver em Portugal na época estival. Sai um artigo por semana