Milhares protestam contra presença militar francesa no Níger

Junta militar que tomou o poder no final de Julho exigiu a saída do embaixador francês no país, mas o diplomata manteve-se no seu posto.

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Manifestantes concentraram-se junto a base militar em Niamey que alberga militares franceses EPA/ISSIFOU DJIBO
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Milhares de pessoas participaram em dois protestos no Níger contra a presença militar francesa no país, aumentando a pressão sobre Paris para que se retire. A junta militar que tomou o poder recentemente já exigiu a saída do embaixador e a retirada das tropas de França.

Em Niamey, a capital, os manifestantes concentraram-se junto a uma base militar que alberga alguns militares franceses, onde permaneceram ao longo de todo o dia de sábado. “Exército francês, vão-se embora da nossa casa!”, gritavam alguns dos participantes no protesto. Nos cartazes podia ler-se “Exército francês, saiam do nosso país”, segundo a Al-Jazeera.

Descreve a Reuters que alguns manifestantes trouxeram uma cabra vestida com as cores da bandeira de França e degolou-a no local.

Outro grupo de manifestantes reuniu-se em Ouallam, no Sudoeste do país, perto de uma base militar que serve de quartel-general da operação antiterrorismo Almahaou​, integrada por soldados locais e franceses. “Soldados franceses, viemos para vos dar uma mensagem: não precisamos de vocês”, afirmou um dos organizadores do protesto, de acordo com a AFP.

Nos protestos também foi pedida a saída imediata do embaixador francês no país, tal como os militares que tomaram o poder já haviam exigido.

As manifestações deste sábado são a face mais visível da crescente oposição no Níger à permanência de tropas francesas no país. A participação francesa em operações militares na região do Sahel para combater grupos terroristas tem sido contestada em vários países.

Nos últimos anos, França viu-se obrigada a retirar os seus contingentes do Mali e do Burkina Faso e agora vê-se numa posição idêntica no Níger.

Tal como aconteceu com os seus vizinhos, o Níger foi palco de um golpe de Estado no final de Julho que derrubou o Presidente Mohamed Bazoum, um aliado de Paris. Desde então, uma das prioridades dos militares que ocuparam o poder é forçar a antiga potência colonial a abandonar o país de 25 milhões de habitantes.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, não reconheceu a legitimidade dos líderes da junta militar nigerina e diz manter-se em contacto regular com Bazoum, que está detido desde 26 de Julho. “Não reconhecemos os autores do golpe. As decisões que viermos a tomar, sejam quais forem, terão como base as nossas discussões com Bazoum”, afirmou Macron na semana passada.

Os militares no poder exigiram a saída do país do embaixador francês, Sylvain Itte, mas o diplomata permanece no Níger, mesmo depois de lhe ter sido imposto um ultimato. Os autores do golpe insistem na expulsão de Itte por causa da “hostilidade injustificada” das autoridades francesas em relação ao Níger e avisam que a sua permanência apresenta “riscos graves de perturbação da ordem pública”.

O golpe no Níger foi um de vários que têm assolado a região do Centro e Oeste de África nos últimos anos, derrubando tanto governos eleitos democraticamente como líderes autoritários, como aconteceu recentemente no Gabão.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) tem ameaçado avançar para uma intervenção armada no Níger e impôs sanções ao país na sequência do golpe.

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